Todos os dias, cerca de 800 venezuelanos chegam ao Brasil. O Alto-Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) estima que, desde o ano passado, mais de 1 milhão deles imigraram para o lado de cá em fuga da crise política e social sem precedentes que afeta seu país de origem.
A principal entrada é o município de Pacaraima, em Roraima. Em seguida à chegada, muitos viajam à pé ou de ônibus para a capital Boa Vista, onde encontram mais abrigos mantidos pelo governo. A maioria está lotada.
Instalações de projetos sociais na região têm sido importante reforço no acolhimento a esses imigrantes que, depois de enfrentarem o desemprego e a falta de alimentos, entre outros problemas que assolam a Venezuela, se deparam com novas dificuldades no Brasil. Os desafios, a partir daí, são especialmente suprir a necessidade de morar, comer e trabalhar num país diferente, que nem sempre é atendida, e também lidar com a xenofobia.
Uma das organizações assistenciais presentes em Roraima, é a ONG Fraternidade sem Fronteiras, que foi criada em Campo Grande (MS) em 2009 e tem milhares de voluntários espalhados pelo mundo. Doações sustentam o trabalho com os imigrantes desde meados do ano passado.
AJUDA HUMANITÁRIA
Brasil, Um Coração Que Acolhe é o nome do centro de acolhimento mantido em Boa Vista pela ONG. A também venezuelana Alba Marina, além da assessora jurídica que mora em Roraima, Vanessa Epifânio, são as voluntárias que coordenam o projeto.
Segundo Vanessa, 278 imigrantes recebem assistência atualmente. A ajuda vem em forma de abrigo, alimentação, curso de português e autogestão comunitária, atividades culturais e orientações quanto à saúde e quanto à documentação necessária para permanecer no Brasil. “É uma assistência completa e muito humana. Além de oferecer as condições básicas para uma pessoa que chega a um país que não conhece, damos o carinho e o cuidado que ela precisa para se sentir acolhida e se adaptar”, detalha.
Alba explica que o acolhimento mais caloroso também os ajuda a sentirem-se em comunidade. “Eles chegam ao Brasil como órfãos. Com esse trabalho, procuramos também proporcionar a eles o sentido de união. Eles mesmos cozinham, se organizam e gerem a comunidade que eles formam, com o nosso apoio”
O fundador e presidente da Fraternidade Sem Fronteiras, Wagner Moura, afirma que este trabalho é atual foco da ONG - que também tem frentes de atuação na África e no nordeste brasileiro, por exemplo. “O fluxo de imigrantes é muito grande, e eles vivem uma situação de alta vulnerabilidade a que eles vivem. Cada vez mais gente precisa de acolhimento. Há muitos que estão morando nas ruas, crianças desnutridas, é alarmante”.
EMPREGO
O professor de música Jesus Zacaria, 42 anos, saiu da Venezuela com destino ao Brasil há seis meses. Trouxe junto, além de um dos quatro filhos, o trompete. Ao chegar aqui, esperava encontrar um emprego e poder trazer o restante da família.
Ele está cadastrado na plataforma de emprego que a Fraternidade Sem Fronteiras mantém na internet, e aguarda alguma oportunidade. A ideia dela é conectar imigrantes com empregadores interessados em contratar de todo o Brasil e servir como extensão do projeto Brasil, Um Coração que Acolhe.
No centro de acolhimento, Jesus conheceu outras pessoas que trabalhavam com música na Venezuela. Eles se apresentaram juntos em Campo Grande na manhã de hoje (22), no evento nacional que a ONG promove desde sexta-feira (20).
EVENTO
A ONG realiza no Shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande, encontro nacional que reúne mais de mil voluntários e expõem suas principais frentes de atuação.