Um cenário de terror. Assim a maioria dos moradores da Rua Elídio Pinheiro, no Parque do Lageado, região sul de Campo Grande, definem as imagens que vivenciaram na manhã desta terça-feira (10), quando uma casa com sete crianças pegou fogo e ficou com a estrutura comprometida. Um bebê de dez meses segue internado na Santa Casa com queimaduras de primeiro e segundo grau no couro cabeludo, lado direito da face, palma das mãos e na coxa esquerda. Mais do que o recém-nascido gravemente ferido, o que mais chocou os vizinhos foi o desespero da mãe das crianças, implorando por ajuda enquanto as chamas consumiam seus poucos pertences, a humilde moradia e a esperança em um quase milagre para sua salvação, a da irmã e da prole, que moravam no acanhado imóvel há dois meses, de aluguel.
"Ela gritava da janela, que não sabia onde havia deixado as chaves, que as crianças estavam mal, que eles iam morrer. Foi bem angustiante", relembrou a cabeleireira Maria Carolina Paz, que mora na mesma rua e foi uma das primeiras a chegar na casa, já consumida pelas chamas.
"Estava tomando café com meu pai quando escutamos uma das crianças, o menino, berrar na janela que colocaram fogo na casa", explicou.
Entre os gritos desesperadores e a agonia da mãe que implorava por ajuda, coube a um dos vizinhos, o repositor de supermercado Luciano Souza de Oliveira, 40 anos, ser o responsável pelo resgate do bebê, após invadir a casa pelos fundos, enquanto os vizinhos tentavam arrebentar a grade da janela onde estava a vítima com uma marreta.
"Quando vi o bebê no chão, nem pensei no fogo", disse Oliveira. "Passei um pano molhado no rosto dele, segurei contra o meu peito e saí da casa", completou o heroi campo-grandense, que entregou a menina, bastante ferida, à mãe.
Oliveira mora na rua atrás da casa, não conhece a família atingida, tampouco os vizinhos que já tentavam arrebentar janelas e portas para entrar no imóvel, mas de uma coisa tem certeza: vai ajudar na recuperação da família. Durante a tarde, vizinhos já se mobilizavam com as doações de alimentos e roupas.
Não é para menos. Segundo os próprios vizinhos, o cenário é trágico. A pouca comida e vestimenta da família, humilde, foi torrada nas chamas. O Correio do Estado tentou falar com a mãe, que acompanha sua filha mais nova, mas segundo a assessoria da Santa Casa, a mulher está bastante abalada e sem condições de dar entrevistas. Sua identidade é mantida em sigilo.
Ainda de acordo com o hospital, o bebê permaneceria internado e passaria por cirurgia plástica. As outras seis crianças foram socorridas com intoxicação até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila Almeida e teriam sido liberadas. Não há informações sobre suas situações.
Segundo os vizinhos, os problemas da família estão longe de terminar. Isso porque os Bombeiros confirmaram que a estrutura da casa foi afetada com as chamas, cuja origem será investigada. Ou seja, todo socorro será fundamental. Mesmo que em um primeiro momento a gratidão é pela vida humana, o bem mais valioso de todos, ter sido salvo.