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Não há proposta de política indigenista forte no Brasil, diz Marcos Terena

Não há proposta de política indigenista forte no Brasil, diz Marcos Terena

AGÊNCIA BRASIL

19/04/2016 - 09h45
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No último domingo (17), assim como outros milhares de brasileiros, o líder indígena Marcos Terena assistiu à sessão na Câmara dos Deputados que decidiu pela continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rouseff. Diante de falas que dedicaram votos a parentes e até mesmo a militares condenados por tortura, como o coronel Carlos Alberto Ustra, citado pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), Terena se diz preocupado. “Todos estavam como se estivessem diante de um palco iluminado para falar as suas besteiras. Ficávamos pensando, quando nós indígenas vamos poder confiar em pessoas que não entendem a demanda do branco, quanto mais a demanda dos povos indígenas”, diz.

Hoje (19), no Dia do Índio, Terena conversou com a Agência Brasil sobre as principais demandas desses povos. Ele acredita que é necessário um fortalecimento da Fundação Nacinal Indígena (Funai), assim como a criação de uma universidade indígena de ponta, para que os saberes e as ciências desses povos sejam preservadas e aprimoradas. “A gente consegue promover os próprios indígenas, promover grandes eventos, chamar o público, chamar as próprias autoridades do governo, mas a ação, a proposta de uma política indigenista forte, ela não acontece”, criticou.

Terena criou um dos primeiros movimentos indígenas modernos do país, a União das Nações Indígenas. Durante a Assembleia Constituinte que redigiu a Constituição Brasileira de 1988, foi um dos articuladores dos direitos indígenas. Foi também, em 2007, o primeiro indígena a assumir a gerência do Memorial dos Povos Indígenas de Brasília. No ano passado, foi o idealizador dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Hoje mora em Brasília, é membro da Comissão Brasileira Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e do grupo de trabalho sobre identidade indígena do Ministério da Educação (MEC).

Leia abaixo os principais trecho da entrevista:

Neste Dia do Índio, o que há para se comemorar?

Do último ano para cá, a gente não conseguiu avançar em termos da questão indígena, nem em relação ao governo nem em relação às políticas públicas. E tudo isso nos deixou pensando no que está acontecendo. De um lado, a gente consegue promover os próprios indígenas, promover grandes eventos, chamar o público, chamar as próprias autoridades do governo; mas a ação, a proposta de uma política indigenista forte, ela não acontece.

Por que?

Porque a gente acredita que não existe uma plataforma chamada política indigenista na agenda do governo. A gente tentou, quando a gente fez os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, mostrar isso à presidente Dilma. Ela viu isso de perto, ela conviveu com a gente duas vezes, mas há o setor político, que é justamente o setor conservador que não gosta da questão indígena, acha que isso atrapalha o desenvolvimento. Isso está arraigado dentro do Congresso Nacional Isso é um dos pontos mais carentes, mais vulneráveis que a gente enfrenta. Nós não temos indígenas como parlamentares, deputados. As alianças que a gente consegue fazer é uma minoria com os deputados que vivem no Congresso Nacional. A gente sofre de forma dispersiva, inclusive, várias ataques, como a famosa PEC 215, que tenta tirar o poder de demarcar as terras de dentro do governo e também a proposta de mineração em terra indígena, onde nós somos sempre as vítimas. O conceito é que nós atrapalhamos o desenvolvimento. Com isso, talvez há um tempo, a gente veja que o Governo Federal não encontra formas de combater isso de maneira eficaz e de maneira salutar. Nós não somos contra o desenvolvimento do Brasil, mas a gente não pode ficar sempre sendo tratados como vítimas.

A demarcação das terras é, então, a questão central para os indígenas?

A questão das terras é sempre o ponto principal de qualquer comunidade indígena. É impossível a gente conduzir a vida dos povos indígenas se não houver a tranquilidade, a paz nas regiões e, isso, a gente só consegue com a demarcação. É muito importante também destacar que a demarcação das terras indígenas é para proteger as aldeias e criar um limite oficial para que os invasores, sejam ruralistas, às vezes a construção de uma estrada mesmo, ou projeto do governo, não invadam de qualquer maneira uma terra aparentemente sem dono. A demarcação das terras é um sinal de que nós queremos a paz com os vizinhos que chegam perto das aldeias e, principalmente, sinal que nós queremos participar. Nós temos que criar uma forma de gestão territorial que não pode ser mais só a caça e pesca, temos que ser realistas nesse ponto. Hoje, a tecnologia é muito avançada. Agora, a gente não pode também a ser jogado com cestas básicas, que mais uma vez anulam a iniciativa do índio na sua soberania e na sua forma de crescimento.

Falar um pouco de autonomia é falar de educação, como está a questão da educação e como você acha que deve ser a educação indígena?

Eu faço parte do grupo de trabalho do MEC para a criação da Universidade Indígena. Eu penso que a educação foi uma das grandes ferramentas, e muito eficaz, para neutralizar a vida do índio, criando conceitos de que o índio é selvagem, que o índio é preguiçoso, que a gente pouco a pouco vai limpando dos currículos escolares. Ao mesmo tempo, um indiozinho como eu, que saí da aldeia, chega na cidade e tem que aprender imediatamente o be-a-bá, aritmética, as contas, a história, a geografia e em uma língua que não era nossa, que é difícil de aprender, que é a língua portuguesa. A educação é uma ferramenta de valorização da identidade, da cultura, mas também de soberania dos povos. Nesse novo milênio, para os próximos anos, nosso grande objetivo é fazer nascer no Brasil a primeira universidade intercultural indígena. Por que as primeiras nações do Brasil não podem ter uma universidade de ponta, uma universidade indígena, inclusive com a valorização dos conhecimentos tradicionais dos nossos pajés?

Você acha que teve uma melhora na educação indígena?

arcos Terena: A gente não pode menosprezar os investimentos que o governo federal fez nesse campo, porque os indígenas não ficavam mais falando só no idioma, mas aprenderam a falar português, a escrever bem, a interpretar as regras. Hoje nós temos no Brasil, muitos indígenas com curso superior, fazendo mestrado, fazendo doutorado, temos indígenas que estão estudando medicina, antropologia, engenharia, economia. Muita gente, o próprio MEC, acha que quando um indígena médico se forma ele vai voltar para a aldeia, isso é quase impossível. Depois de estudar 5, 6 anos, se especializar em uma área como a medicina ou a própria engenharia, onde que ele vai trabalhar na aldeia? Às vezes, ele pode contribuir. A gente não pode menosprezar os avanços que os povos indígenas conquistaram, mas com esse cuidado, de não virar um profissional desempregado também.

Como a crise econômica e política está chegando nas comunidades?

Temos que falar um pouco da Funai. Justamente porque não temos uma política indigenista definida, ela é o patinho feio do Ministério da Justiça. Ninguém queria assumir a presidência da Funai, a não ser aqueles políticos que perderam a eleição, uma das coisas que a gente não entende. A gente não entende também por que o governo brasileiro não investiu no próprio índio para assumir as rédeas da Funai, para criar um plano de ação, para fazer lobby no Congresso Nacional para que o orçamento da União, o orçamento parlamentar, pudessem contemplar a Funai. A Funai trabalha com mais de 300 nações indígenas no Brasil. A Funai tem uma demanda de 240 línguas no Brasil e tem que administrar territórios correspondentes a quase 15% do Brasil. É muito maior que qualquer ministério do próprio governo. Ela não tem orçamento, não tem dinheiro para sementes da roça, não tem dinheiro para fazer vigilância do seu território. É preciso que a gente comece a pensar que a economia mundial cobra dos povos indígenas uma postura que não seja a postura da cooptação econômica. Você não pode chegar numa aldeia e pedir para o índio explorar o ouro sem ter uma compensação adequada, ou explorar madeira sem ter uma compensação adequada. Para isso, o índio tem que aprender a linguagem da economia moderna.

Ainda falando de questões políticas, como você acompanhou a votação na Câmara pela continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e que impacto isso vai ter nas comunidades indígenas?

A presidente Dilma esteve várias vezes junto aos indígenas, criou uma conferência nacional de questões indígenas, criou um conselho consultivo para questões indígenas, mas ela não estabeleceu um programa. Não existe isso nem na Funai, nem no governo. Nós também observamos, o Brasil todo, os povos indígenas acompanharam seja nas marchas, nas aldeias, pelas rádios ou pela televisão, assistindo a pobreza que é a qualidade cultural e a qualidade intelectual dos deputados que votaram contra a presidente. O parlamentar eleito é despreparado. Ele não conhece as questões brasileiras. Ele transforma tudo em brincadeira. Os deputados não estavam fazendo charme ou brincadeira, tratava-se do futuro da presidência do nosso país. Todos estavam como se estivessem diante de um palco iluminado para falar as suas besteiras. Ficávamos pensando, onde nós, indígenas, vamos poder confiar em pessoas que não entendem a demanda do branco, quanto mais a demanda dos povos indígenas. Pensamos também que muitos daqueles que estavam lá receberam votos de algumas aldeias. Agora estamos pensando duas coisas: primeira, criar uma forma na eleição municipal, de termos vereadores eleitos, o maior número possível, independente do partido. Uma questão que a gente não pode mais levar em conta é se o partido é de esquerda ou direita. Tem que ser o partido que abraça ou não a causa indígena. Por outro lado, havendo essa mudança, precisamos já começar a negociar, seja com Michel Temer [vice-presidente], seja com [senador] Romero Jucá [PMDB-RR], que foi presidente da Funai, para mostrar que a gente não quer uma Funai pobre, uma Funai paternalista, mas uma Funai de ponta, científica, cultural, e a Universidade Indígena, com plano de ação para que a gente possa respirar um pouco melhor até a próxima eleição.

Como está a articulação dos povos indígenas para lutar por seus direitos?

Os indígenas são muitos. Não falo por 100% da articulação, porque isso é impossível e nem temos uma única representação para falar com os poderes, isso não existe na relação indígena. Cada povo é dono da sua própria palavra. Essa articulação indígena tem que ser, por um lado, política. Por exemplo: quando algum indígena for falar com Michel Temer e sua equipe, tem que saber o que está querendo, tem que saber argumentar, defender seu ponto de vista. Por outro, tem que ser de identidade. Têm índios chamados ressurgidos ou renascidos, que se autoidentificam como índios, que requerem a sua condição tribal. Muitas vezes ele não viveu isso, mas ele requer. Ele aparece com cocar, às vezes ele não conhece o sentido daquele cocar, mas ele viu que para ser índio, ele tem que usar cocar, pintar o corpo. Essas identidades visuais também fazem parte da afirmação dos povos, não pode ser uma brincadeira só no Dia do Índio ou de uma marcha daqui ou dali. É importante que a gente aprenda a usar a força da dignidade dos indígenas para avançar como povos distintos. Vamos esperar que, no próximo Dia do Índio, a gente tenha uma plataforma mais igualitária para a sociedade e mais digna para as aldeias.

TRANSPORTE

Motoristas de ônibus peitam a Justiça e greve entra no terceiro dia na Capital

Mesmo com aumento da multa para R$ 200 mil, classe se nega a retomar serviço sem o pagamento integral da folha atrasada

17/12/2025 08h00

Audiência de conciliação contou com a presença do Consórcio Guaicurus, do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano de Campo Grande (STTU-CG) e da prefeitura da Capital, além de seus respectivos advogados

Audiência de conciliação contou com a presença do Consórcio Guaicurus, do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano de Campo Grande (STTU-CG) e da prefeitura da Capital, além de seus respectivos advogados Gerson Oliveira

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A audiência de conciliação sobre a greve dos motoristas de ônibus de Campo Grande terminou sem solução e a paralisação vai entrar em seu terceiro dia hoje, desta maneira, descumprindo a ordem judicial de manter 70% da frota em circulação, o mínimo exigido por lei para serviços essenciais.

Realizada no plenário do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT24), a audiência de conciliação contou com a presença do Consórcio Guaicurus, responsável pela administração do transporte coletivo de Campo Grande desde 2012, do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano de Campo Grande (STTU-CG) e da prefeitura da Capital, além de seus respectivos advogados.

Com lotação máxima por causa da presença de inúmeros motoristas, o debate começou com quase uma hora de atraso e perguntas objetivas do desembargador César Palumbo Fernandes aos envolvidos.

Entre as respostas, Themis de Oliveira, diretor-presidente da concessionária, afirmou que não tem recursos financeiros em caixa para efetuar o pagamento do restante da folha salarial de novembro, que deveria ter sido quitada integralmente no quinto dia útil deste mês.

Além disso, Themis informou que seria necessário cerca de R$ 1,3 milhão para que isso acontecesse, montante que a empresa não teria no momento, sob alegação de inadimplência no repasse mensal contratualizado com o poder público municipal.

Em contrapartida, a Prefeitura de Campo Grande, representada na audiência pela procuradora-geral do Município, Cecília Saad Cruz Rizkallah, e o diretor-executivo da Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg), Otávio Gomes Figueiró, disse que os repasses por parte da Capital estão em dia. 

Além disso, a administração municipal reforçou que o Estado, que também contribui com uma parcela do convênio, estaria em débito com o que foi acordado na concessão, com uma dívida que soma cerca de R$ 4,8 milhões, referente a quatro meses não pagos, quase quatro vezes mais que o necessário para pagar o que a empresa deve aos funcionários.

Audiência de conciliação contou com a presença do Consórcio Guaicurus, do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano de Campo Grande (STTU-CG) e da prefeitura da Capital, além de seus respectivos advogadosTrabalhadores do Consórcio Guaicurus lotaram o plenário do TRT24 em conciliação que terminou sem acordo sobre a greve do ônibus - Foto: Gerson Oliveira

Após este primeiro debate, o diretor-presidente do consórcio iniciou suas ponderações acerca da diferença entre a tarifa pública (R$ 4,95) e a tarifa técnica (R$ 6,57), que, segundo ele, deveria ser paga pela prefeitura e está presente em contrato, o que também colocaria a empresa trabalhando em deficit operacional.

Porém, o desembargador logo cortou Themis de Oliveira, afirmando que essa questão deveria ser discutida com o poder público em outro momento e não teria efeito prático na pauta da solução da greve.

Com isso, o juiz continuou o debate e perguntou ao consórcio e ao Município se haveria como apresentar um planejamento financeiro seguro para a quitação dos vencimentos, o que foi respondido com um simples “não” pelas duas partes.

Sem a solução financeira, a audiência foi declarada encerrada, com decisão do desembargador de voltar com 70% da frota em horários de pico (das 6h às 8h30min e das 17h às 20h) e 50% nos demais períodos, nos quais, em tese, há menor fluxo de pessoas.

O desembargador ainda anunciou a majoração da multa diária para R$ 200 mil (na segunda-feira o valor era de R$ 20 mil e foi aumentado para R$ 100 mil ontem) em caso de descumprimento da ordem judicial.

No momento da leitura da nova determinação, os motoristas presentes no plenário deram risada, levantaram-se das cadeiras e foram embora da sessão. Inclusive, alguns aproveitaram a curta manifestação para se oporem verbalmente ao que foi decidido pelo juiz, com os dizeres “vergonha” e “não vamos aceitar”.

Demétrio Freitas, presidente do sindicato, respondeu ao desembargador “você vai ter que me prender”, já deixando claro que a classe não cumpriria a decisão.

Após a audiência, os motoristas e o sindicato se reuniram em frente ao TRT24 e, novamente, decidiram por manter 100% da paralisação, mantendo a posição firme de retomada das atividades somente em caso de pagamento da folha salarial.

“A população está sofrendo muito, vai para três dias sem ônibus em Campo Grande, mas o trabalhador também precisa receber. Todo mundo que trabalha precisa receber seus vencimentos”, declarou o presidente STTU-CG, acrescentando que ainda não sabe como realizará o pagamento da multa. Demétrio foi a favor da retomada do mínimo exigido em lei, mas foi voto vencido.

Com o iminente descumprimento da ordem judicial, a greve dos motoristas vai para o terceiro dia e já soma R$ 320 mil de multa ao sindicato. Enquanto isso, o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus afirmou que as conversas e negociações com o poder público continuarão para que o problema seja resolvido o quanto antes.

“Não houve conciliação, mas o consórcio continua buscando o entendimento, continua buscando formas de resolver o problema, continua trabalhando nesse sentido de buscar uma forma para resolver o problema. É conversar e negociar o tempo inteiro, a intenção do consórcio é resolver o problema”, disse Themis de Oliveira.

VERSÃO DO MUNICÍPIO

Em coletiva de imprensa realizada momentos antes da audiência de conciliação, a prefeita Adriane Lopes (PP) reafirmou que todos os repasses por parte do Município estavam em dia.

“Além das gratuidades, o Município aporta também o vale-transporte dos nossos servidores, que são adquiridos e utilizados pelos servidores do Município, e está rigorosamente em dia com esse repasse. As questões judiciais serão discutidas na Justiça, dentro da legalidade e da realidade, tanto do Consórcio como do Município”, disse a prefeita.

Ulisses Rocha, secretário municipal de Governo, disse que o Estado acordou com a prefeitura e o Consórcio Guaicurus como seria paga sua parte no convênio, descartando a culpa do Executivo estadual na falta de dinheiro da empresa.

“O governo do Estado transferiu R$ 7 milhões, ele fez um acordo de R$ 13 milhões neste ano e R$ 4 milhões ficaram para o ano que vem, foi acordado com o consórcio, então, todas as verbas que implicam o poder público foram transferidas. Então, não tem ‘cadê o dinheiro’, o dinheiro foi pago”, destacou.

*SAIBA

Em outubro de 1994, na gestão do ex-prefeito Juvêncio César, o transporte coletivo parou por dois dias e meio. Os ônibus tomaram as ruas do Centro e interditaram o trânsito. Agora, ao entrar no terceiro dia, essa greve bate o recorde de maior tempo de paralisação dos ônibus na Capital.

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3º dia de greve

Motoristas ignoram multa de R$ 200 mil e Campo Grande segue sem ônibus

TRT determinou que ônibus funcionem com 70% da frota em horários de pico e 50% em horários normais, mas os motoristas não aceitaram

17/12/2025 07h10

Campo Grande entra no 3º dia de greve dos ônibus

Campo Grande entra no 3º dia de greve dos ônibus MARCELO VICTOR

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Campo Grande amanheceu sem ônibus pelo terceiro dia consecutivo nesta quarta-feira (17).

Mais uma vez, os terminais Morenão, Julio de Castilho, Bandeirantes, Nova Bahia, Moreninhas, Aero Rancho, Guaicurus, General Osório e Hércules Maymone amanheceram fechados sem nenhuma "alma viva".

Os pontos estão vazios. Em contrapartida, as garagens estão lotadas de ônibus estacionados.

Com isso, os usuários precisam recorrer a outras alternativas para chegar ao trabalho: bicicleta, a pé, carona, transporte por aplicativo, táxi ou mototáxi. A greve foi alertada antecipadamente, estava prevista e não pegou passageiros de surpresa.

Os motoristas reivindicam pelo pagamento do mês, que foi pago 50%:

  • Pagamento do 5º dia útil – venceu em 5 de dezembro
  • Pagamento da segunda parcela do 13º salário – vai vencer em 20 de dezembro
  • Pagamento do vale (adiantamento) – vai vencer em 20 de dezembro

O Consórcio Guaicurus alega que está em crise financeira e que não tem dinheiro para pagar a folha salarial, 13º salário e custos operacionais básicos (combustível, manutenção da frota e encargos). 

De acordo com o Consórcio, a Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) deve R$ 39 milhões à empresa desde 2022 e que os salários dos motoristas só serão pagos caso o poder público repasse o valor.

“O atraso e o pagamento parcial não decorrem de má gestão, mas sim da inadimplência reiterada do Município de Campo Grande/MS no repasse do subsídio financeiro contratualmente instituído no quarto termo aditivo previsto. O valor devido pelo Poder Concedente, apenas no período compreendido desde 2022, quando foi designada a tarifa técnica no quarto termo aditivo do contrato de concessão, já soma um subsídio superior a R$ 39 milhões ainda não repassados ao Consórcio. A dificuldade financeira é uma consequência direta da quebra do equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão pelo Poder Concedente. O pagamento da complementação do salário de novembro, do adiantamento de dezembro de 2025 (vencível em 20/12/2025) e da segunda parcela do 13º salário está condicionado à regularização desses repasses públicos”, explicou o Consórcio Guaicurus por meio de nota enviada à imprensa.

Mas, a Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) rebateu o Consórcio e disse que os pagamentos estão em dia. A prefeita, Adriane Lopes (PP), afirmou que a greve é "abusiva" e "ilegal", pois todos os repasses financeiros foram feitos.

"Além das gratuidades, o Município aporta também o vale-transporte dos nossos servidores, que são adquiridos e utilizados pelos servidores do município e, rigorosamente está em dia esse repasse. As questões judiciais serão discutidas na justiça, dentro da legalidade e da realidade, tanto do Consórcio como do Município. O dinheiro que é a responsabilidade do Município foi pago e, se o Município está rigorosamente em dia, a empresa também teria que estar rigorosamente em dia com os pagamentos dos seus funcionários", disse a prefeita, em coletiva de imprensa realizada na tarde desta terça-feira (16).

"Todas as verbas que são contratuais, que tem relação do Município com o Consórcio Guaicurus foram feitos os repasses, ou seja, a subvenção de R$ 19 milhões, pagamento de vale-transporte de R$ 16 milhões, o Governo do Estado transferiu R$ 7 milhões, ele fez um acordo de R$ 13 milhões neste ano e R$ 4 milhões ficou para o ano que vem, acordado com o consórcio, então todas as verbas que implicam o Poder Público foram transferidas", disse o secretário municipal de Governo, Ulisses Rocha.

DECISÃO JUDICIAL

O desembargador federal do trabalho, César Palumbo, do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (TRT-24) determinou, durante audiência de conciliação realizada na tarde desta terça-feira (16), que:

  • 70% da frota funcione entre 6h e 8h30min (horário de pico)
  • 50% da frota funcione entre 8h30min e 17h
  • 70% da frota funcione entre 17h e 20h (horário de pico)
  • 50% da frota funcione entre 20h e 00h

Mas, os motoristas não acataram a ordem judicial mais uma vez e seguem paralisados. Com isso, o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande leva multa diária de R$ 200 mil. A multa subiu de R$ 20 mil para R$ 100 mil na terça-feira (16) e de R$ 100 mil para R$ 200 mil na quarta-feira (17).

"Não pode existir greve de 100% dos serviços essenciais. A determinação judicial deve ser cumprida. Amanhã, no primeiro período, a categoria vai estar trabalhando. Amanhã, pela manhã [17 de dezembro] o sindicato vai garantir que haja no período compreendido entre 6h e 8h30, 70% da frota funcionando. De 8h30 a 17h, 50% da frota atendendo a população. Entre as 17h e as 20h, 70% da frota. E após, 50% da frota no horário normal", pediu o desembargador aos motoristas, que recusaram.

Presidente do sindicato, Demétrio Freitasfoi a favor da retomada do mínimo exigido em lei, mas foi voto geral dos motoristas venceu.

“A população está sofrendo muito, vai para três dias sem ônibus em Campo Grande, mas o trabalhador também precisa receber. Todo mundo que trabalha precisa receber seus vencimentos”, disse.

3º DIA DE GREVE

Campo Grande está sem ônibus há três dias consecutivos.

Esta é a segunda vez no ano em que a Capital fica sem transporte. Em 22 de outubro de 2025, Campo Grande amanheceu sem ônibus, com terminais fechados e pontos vazios. Os motoristas do transporte coletivo paralisaram atividades por duas horas, das 4h30min às 6h30min, o que refletiu em atrasos o dia todo. O fato pegou usuários de surpresa, que acordaram para ir trabalhar e não tinham meio de locomoção.

Esta é a maior greve dos últimos 31 anos em Campo Grande. Em outubro 1994, na gestão do ex-prefeito Juvêncio César, o transporte coletivo paralisou por dois dias e meio. Os ônibus tomaram as ruas do centro e interditaram o trânsito. Na ocasião, motoristas murcharam os pneus dos ônibus em forma de protesto.

A greve afeta 100 mil usuários, que usam o transporte coletivo diariamente para ir e voltar do trabalho.

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