O Brasil investirá U$ 127 milhões na produção das 30 milhões de doses da vacina contra Covid-19 para o Brasil. O produto é impulsionado pela farmacêutica multinacional AstraZeneda. A empresa prometeu comercializar o produto, desenvolvido por pesquisadores da universidade britânica de Oxford, a preço de custo durante a pandemia. Dessa forma, levando em consideração apenas o aporte inicial, chega-se ao valor aproximado de R$ 22 por dose.
Embora o cálculo feito pelo Correio do Estado não seja oficial, é possível ter uma noção dos valores. Além disso, convém lembrar que o Governo Federal também injetará dinheiro na produção, em torno de R$ 1,5 bilhão, segundo informações divulgadas pela imprensa nacional.
Jorge Mazzei, diretor executivo de Relações Corporativas, Regulatório e Acesso ao Mercado da AstraZeneca, falou com exclusividade ao Correio do Estado sobre os planos para a imunização. Confira abaixo a entrevista.
CORREIO DO ESTADO: Quanto a AstraZeneca já investiu na pesquisa?
JORGE: Essa é uma parceria global entre AstraZeneca e Universidade de Oxford para o desenvolvimento, produção e distribuição de uma potencial vacina contra o COVID-19. Portanto o investimento para o desenvolvimento da pesquisa não é exclusivo da AstraZeneca.
CORREIO DO ESTADO: Por que o Brasil foi escolhido para sediar os testes da fase 3?
JORGE: O Brasil é um país que tem desenvolvido uma ciência de ponta. Mas além disso, para o sucesso da pesquisa é importante que os voluntários tenham alta exposição ao vírus para avaliar mais rapidamente as análises de eficácia e segurança da vacina. Dessa forma, considerando que o Brasil ainda não está na fase descendente da curva de contágio, o país apresenta um cenário adequado para o desenvolvimento da pesquisa clínica.
CORREIO DO ESTADO: Sabemos que o Brasil tem um dos melhores programas de imunização do mundo, logo, um grande consumidor de vacinas. A AstraZeneca tem interesse no mercado brasileiro? Foi este um dos motivos para escolha do Brasil para sediar a fase 3?
JORGE: A AstraZeneca é uma empresa biofarmacêutica global focada na comercialização de medicamentos de prescrição para o tratamento de doenças em três principais linhas terapêuticas - Oncologia, Doenças Cardiovasculares & Metabólicas e Respiratória. Não estamos pensando isso no momento. Agora o foco é no desenvolvimento da vacina.
CORREIO DO ESTADO: É verdade que a empresa já iniciou a fabricação da vacina?
JORGE: Nesse momento, a empresa vem trabalhando em acordos globalmente para ampliar a capacidade de produção da vacina e já fechou acordos de fornecimento com países como Reino Unido e EUA, além de instituições como a Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI) e Aliança Global para Vacinas e Imunizantes (GAVI), com 700 milhões de doses, além de acordo com a Aliança de Vacinas para Europa Inclusiva (IVA) com o compromisso de mais 400 milhões de doses para o fornecimento para Alemanha, França, Holanda e Itália. A capacidade de produção atual é de mais de 2 bilhões de doses, graças ao acordo com o Serum Institute of India para o fornecimento de mais um bilhão de doses, principalmente para países de baixa e média renda. Globalmente já estamos iniciando a produção, pois reconhecemos a necessidade de uma resposta rápida para este problema global, por isso estamos acelerando nossos planos de produção e distribuição da vacina.
CORREIO DO ESTADO: Quantas doses a empresa planeja produzir? Existe alguma meta?
JORGE: Hoje nossa capacidade produtiva global é de 2 bilhões de doses, graças aos acordos firmados com parceiros estratégicos. No Brasil, após acordo com o governo brasileiro para fornecimento do ingrediente farmacêutico ativo e transferência de tecnologia para produção local da potencial vacina, anunciado há alguns dias, prevemos a produção de 30,4 milhões de doses – com a entrega de metade deste volume prevista para dezembro de 2020 e a outra metade em janeiro de 2021 -, com a expectativa da aquisição de mais 70 milhões de ingredientes farmacêuticos ativos para a produção de doses em um segundo momento, dependendo dos resultados positivos da pesquisa clínica. É importante ressaltar que as entregas dependem do sucesso da pesquisa em desenvolvimento.
CORREIO DO ESTADO: O fato de os testes ainda não terem sido concluídos não torna a iniciativa arriscada? Ou a eficácia já está comprovada e a fase 3 seria apenas uma formalidade para garantir a aprovação do produto?
JORGE: Embora muito promissora – considerada assim inclusive pela Organização Mundial da Saúde -, a potencial vacina candidata AZD1222 ainda está em pesquisa clínica e se mostrar eficácia e segurança poderá ser uma resposta no combate ao novo Coronavírus e de prevenção a COVID-19. Por isso nós reconhecemos a necessidade de uma resposta rápida para este problema global, por isso estamos acelerando nossos planos de produção e distribuição da vacina. Assim, apesar dos resultados das fases preliminares serem promissores, a aquisição é um investimento na ciência.
CORREIO DO ESTADO: Empresa tem estimativa de quanto irá custar a dose da vacina?
JORGE: Nosso principal compromisso é garantir o acesso igualitário à vacina ao redor do mundo, por isso não teremos lucros do produto durante a pandemia, além de concentrar nossos esforços em acordos que viabilizem sua distribuição ampla e justa. Assim, o fornecimento global vem sendo realizado com preço de custo. No caso do Governo Brasileiro, ainda há o investimento na linha produtiva da Fiocruz, então o investimento anunciado foi de US$127 milhões para 30,4 milhões de doses.