A Prefeitura de Dourados se mantém inerte diante do aumento do contágio da Covid-19 na cidade, segundo denúncias recebidas pelo Correio do Estado. Decretos tornam-se inócuos sem fiscalização, não há acompanhamento de casos confirmados, não há rastreio de contatos das pessoas doentes e leitos que já receberam verbas do Ministério da Saúde não foram ativados pela falta de formalização contratual.
Ontem, a equipe de reportagem revelou indícios de que o município teria articulado interferência no comitê responsável por ajudar o poder público sugerindo medidas de isolamento social e controle.
Agora, a informação é de que falta iniciativa dos órgãos responsáveis para tomar ações concretas diante do avanço da doença.
Somente nessa quarta-feira, a cidade teve mais 186 casos confirmados, totalizando 2.150 casos, topo do ranking estadual. Conforme informações do boletim epidemiológico, Dourados tem 102 leitos de Unidade de Terapia Intensiva. Desse montante, 24% está ocupado por pacientes que testaram positivo e 5% por casos suspeitos da doença. Levando em consideração as demais doenças, 53% dos leitos críticos estão ocupados.
Uma fonte ligada à área da saúde douradense, que pediu para não ser identificada, afirma que existem leitos no Hospital Universitário que já receberam verba de R$ 740 mil da União para serem ativados. O dinheiro consegue mantê-los por quase três meses. Contudo, como a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é municipalizada, é preciso formalizar a destinação desses leitos para a Covid-19. Até agora, a prefeitura não teria cumprido o protocolo.
O Correio do Estado tentou contato com a assessoria de imprensa do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados para confirmar a informação. Contudo, não houve retorno até a publicação dessa reportagem.
Em material de divulgação divulgado no site oficial, a instituição diz que existem 15 leitos em vias de operacionalização, mas não relaciona ao problema em questão.
MAIS FALHAS
Ainda segundo informações apuradas pelo Correio do Estado, a Secretaria de Saúde local não está acompanhando os casos confirmados. Semana passada o jornal revelou que há pacientes infectados que estariam inclusive violando a quarentena e andando livremente pela cidade.
Contudo, o problema vai além disso. Contatos entre os positivados não estão sendo rastreados para que todos façam o teste e se isolem.
Outro ponto são os decretos para conter o avanço da doença. Foi preciso pressão do Ministério Público Estadual (MPE) para que a prefeita Délia Razuk (PTB) baixasse norma proibindo consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos, realização de missas e cultos e ainda limitou a operação das academias. Manteve o comércio intocado, mas obrigou todos os cidadãos a usarem máscaras.
As medidas são consideradas insuficientes por especialistas. Além disso, o cumprimento delas não está sendo fiscalizado, conforme apurou a equipe de reportagem.
COMITÊ
Existe um grupo de profissionais da saúde montado para sugerir ao município ações efetivas de combate à Covid. Embora seja apenas consultivo (o Executivo independe da ação do grupo para tomar decisões), trata-se de um olhar técnico sobre a doença e como ajudar a controla-la.
O núcleo técnico é presidido pelo epidemiologista Daniel Gallina Martins Abrahão, médico infectologista que também chefia o comitê.
Um dos membros é o médico Renato Cezar Nasser, que já foi diretor técnico da Unidade de Pronto Atendimento Comunitário (UPA) douradense e acusado pelo gerente da unidade de não cumprir a carga horária. Está na lista também o intensivista Gecimar Teixeira Junior, que não tem como participar das decisões porque está na UTI com Covid-19.
Além deles, também integram o grupo os cirurgiões plásticos Carlos Augusto Ferreira Moreira e Carlos Magno Junior.
Conforme informações apuradas pelo Correio do Estado, as poucas sugestões úteis que partiram do comitê foram aprovadas na base da pressão pelos integrantes que têm experiência em epidemiologia e vigilância em saúde.
A reportagem também tentou contato com a prefeita Delia Razuk, mas não obteve retorno até a publicação dessa reportagem.
OUTRO LADO
A equipe de reportagem conversou com o porta-voz do Comitê, Frederico de Oliveira Weissinger. Ele rebateu as acusações feitas. Disse que a Guarda Municipal e a Polícia Militar têm feito fiscalizações dos decretos e multado quem está desobedecendo o decreto. Além disso, afirmou que o monitoramento e rastreio de casos confirmados tem sido feito desde os primeiros casos, mas somente há 14 dias a Vigilância Epidemoplógica passou a contar com o apoio da rede de atenção básica no trabalho.
Sobre o contrato com o Hospital Universitário, ele disse que não é preciso assinar contrato algum e que a unidade pode ativar por conta própria os leitos, mesmo que a gestão do SUS seja municipalizada e a entrada de qualquer unidade na rede dependa de formalização via municipal.