Os incêndios na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul estão causando prejuízos incalculáveis, na opinião de ambientalistas ouvidos pelo Correio do Estado. Pecuaristas, por outro lado, ainda apuram quanto o fogo afetou as pastagens, mas já calculam que o preço do boi gordo deve subir.
Para o biólogo André Luiz Siqueira, diretor-presidente da organização não governamental Ecoa – Ecologia e Ação, é necessário conscientizar a sociedade sobre o uso do fogo.“É preciso investimento e planejamento de ações para fiscalizar e sensibilizar as pessoas sobre as queimadas. Temos de tratar o fogo de maneira séria”, disse. O diretor de Relações Institucionais do Instituto Homem Pantaneiro, Ângelo Rabelo, frisa ainda que os prejuízos também atingem os produtores rurais da região. “O prejuízo econômico é gigantesco, perde-se de animais até cercas. E com uma estiagem longa e matéria orgânica volumosa, nada controla as chamas”, explicou.
Rabelo explicou que o bioma demora a se recuperar. “O Pantanal se recupera, mas nunca será como antes. Demora muito tempo para avaliarmos os estragos”, afirmou. Já Siqueira apontou que é preciso criar soluções para ajudar no combate às queimadas. “Precisamos depender menos de recursos públicos. É preciso uma mudança radical, porque não adianta mais defender o manejo do fogo. É um problema sério e crônico, e em um ano seco nada impede que tudo aconteça de novo”, avaliou.
A Ecoa formou quatro equipes de uma brigada voluntária, que estão em Nioaque, Ladário e na região da Serra do Amolar. Os integrantes passaram por capacitação do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e por aperfeiçoamento na Bolívia.
Siqueira destacou ainda que o solo também é prejudicado pelo fogo. “O solo se empobrece, porque perde nutrientes. Sem chuva, os sedimentos não se desenvolvem”, explicou. O biólogo apontou que o ipê e o cambará são mais resistentes às chamas, mas os animais têm dificuldades para fugir ou até serem resgatados.
Espécies de pequeno porte, como cobras, aranhas, algumas espécies de lobos e o tamanduá-mirim, são as mais afetadas, segundo Rabelo. “Quando as chamas se alastram, as espécies se movimentam e algumas são eliminadas. Os animais mais rápidos conseguem escapar”, disse.
Produtores rurais da região pantaneira foram bastante afetados, mas, segundo o presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Luciano Leite, ainda não há números de quanto foi perdido em decorrência das chamas, já que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Sustentável ainda está fazendo o levantamento.
Leite observou ainda que o preço do boi gordo a partir de 2020 deve sofrer aumento por causa dos prejuízos com as queimadas. “Com as pastagens queimadas, a vaca não entra no cio e não temos cria. E como 40% do boi gordo sai da planície pantaneira, isso deve afetar o preço do boi gordo”, explicou.
SAIBA MAIS
Corumbá lidera a lista de municípios com mais focos de queimadas em todo o Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), na quinta-feira (12), foram registrados 42 focos. No acumulado de setembro, foram 676 focos e 3.180 no ano de 2019. Outros dois municípios do Estado também integram a lista de cidades com mais focos em setembro: 375 em Porto Murtinho e 293 em Aquidauana. O Estado está no nível de risco crítico para queimadas, o que levou o governo a decretar situação de emergência na quarta-feira (12), contemplando parte das áreas rurais dos municípios de Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Corumbá, Ladário, Bonito, Miranda, Porto Murtinho e Bodoquena. Na sexta-feira (13), o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) estendeu a proibição de queimadas controladas para as ações chamadas de profilaxia da lavoura, que são queimas de palhadas de cana pós-colheita, restos de florestas plantadas, sapecagem de troncos e queima de restos de culturas com pragas.