O investimento em pesquisa, ciência e inovação em Mato Grosso do Sul desmorona gradualmente. O fomento a pesquisadores e estudantes, que já foi de R$ 15,9 milhões em 2014, tem previsão de ser reduzido a R$ 4 milhões neste ano.
Os dados são da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) e estão no Portal da Transparência do governo estadual.
No comparativo de 2017 com 2016, o corte no investimento ficou acima dos 50%. A Fundect destinou R$ 6,7 milhões para desenvolvimento de pesquisas no ano passado, contra R$ 13,5 milhões há dois anos.
Até maio, a fundação havia pago R$ 2,6 milhões em auxílios financeiros a estudantes e pesquisadores.
A Lei Orçamentária Anual (LOA) 2018 aponta para uma estimativa de R$ 4 milhões em investimentos pela Fundect.
O órgão repassa verba para pesquisadores e estudantes por meio de bolsas e incentivos para realização de eventos científicos. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Mato Grosso do Sul está entre as que pleiteiam estes recursos. A coordenadora-geral do escritório da unidade no Estado, Jislaine de Fátima Guilhermino, crê que o apoio à pesquisa é insuficiente.
“A gente sente muito [a queda no investimento]. A área de pesquisa e inovação já é subfinanciada. Como o pesquisador brasileiro está acostumado a viver na adversidade, ele tem que usar a criatividade para pensar em uma estratégia e continuar seu trabalho”.
O escritório da Fiocruz em Campo Grande investe em quatro eixos principais de pesquisa: saúde das populações indígenas; meio ambiente, saúde, biodiversidade e agronegócio; saúde e sociedade (no qual entram estudos sobre viroses como dengue, zika, chikungunya, leishmaniose); e saúde das populações vulneráveis.
Jislaine adianta que a previsão de investimento da Fundect para este ano preocupa. “Está bem abaixo do que a gente tem de demanda. Temos que conversar e ver como esse recurso vai ser distribuído”.
Outro temor está relacionado à manutenção da estrutura dos laboratórios e compra de materiais. “A saída é trabalhar em rede com outras instituições para evitar sucateamento. O uso recorrente pode agravar as condições destes espaços com o cenário econômico mais difícil”.
A unidade Pantanal da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também se beneficia com o auxílio financeiro da Fundect. A chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento em exercício, Suzana Maria Salis, relaciona a retração no investimento ao cenário nacional e revela que o repasse de verbas provenientes da fundação tem atrasado.
“Os projetos da Embrapa Pantanal financiados pela Fundect continuam em andamento, com um certo atraso nas liberações de recursos, o que acreditamos ser um reflexo da conjuntura que o País está vivendo, que afeta os estados como um todo”.
As atividades da Embrapa Pantanal são voltadas para pesquisas nas áreas da agricultura; manejo de pastagens; ecologia; pecuária sustentável; biodiversidade; mudanças climáticas; gestão e conservação de recursos hídricos; ciência e tecnologia de alimentos; e fontes alternativas de energia.
Outra entidade que se beneficia do investimento em pesquisa da Fundect é o Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS). O pró-reitor de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação da instituição, Marco Hiroshi Naka, também recorre ao panorama nacional para explicar a queda no apoio estadual.
“A gente é sensível com as dificuldades da Fundect. Infelizmente, é questão de arrecadação, de recurso que não vem. Precisa de investimento na pesquisa, na pós-graduação, na realização de eventos. É preocupante, porque as demandas só aumentam. Não é só a Fundect que teve diminuição”.
Só em 2016, estudantes/pesquisadores do IFMS conquistaram 725 prêmios em feiras estaduais, nacionais e internacionais de tecnologia, ciências e engenharia.
A Fundect foi procurada, via assessoria de imprensa, e não retornou até o fechamento desta edição.