Apesar de já passado o período de chuvas, moradores da região do Baixo Pantanal, próximo a Porto Murtinho, ainda enfrentam os prejuízos causados pela cheia rigorosa de 2018. O período de seca no bioma, que geralmente tem ápice entre os meses de agosto e setembro, já deveria ter começado, porém, muitas áreas ainda estão inundadas, em razão do excesso de chuva que caiu na planície pantaneira entre o fim do ano passado e início deste ano.
De acordo com pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as águas das chuvas de verão, registradas entre os meses de outubro e março, regulam a dinâmica hidrológica no bioma. Por isso, quando essas chuvas são volumosas, como ocorreu neste ano, espera-se um alagamento relativo maior e mais duradouro.
Um estudo feito pelo órgão estima que a inundação tenha ocupado entre 71 mil e 90 mil quilômetros quadrados em toda a planície pantaneira, além disso, a enchente apresenta um hidroperíodo (época em que a água cobre o solo) longo, que pode chegar a 170 dias.
“Isso já era esperado, porque houve chuva acima da média na planície. Com essa situação, o rio demora mais para escoar, mantendo as áreas alagadas por mais tempo”, explica o pesquisador da Embrapa Pantanal, Carlos Padovani.
“Acreditamos que a água só deve baixar em dois ou três meses, a contar do pico da cheia, que foi em julho”, ressalta.
Para orientar produtores e ribeirinhos sobre como proceder, a Embrapa elaborou, em março, um laudo técnico que mostra o fluxo e a dinâmica das águas acumuladas das chuvas, como elas escoam no Pantanal e quais regiões estão inundadas.
No bioma, algumas propriedades são afetadas apenas pelas enchentes que sofrem a influência das chuvas; outras são atingidas também pelos efeitos das cheias influenciadas pelo nível dos rios.
Na semana que passou, pesquisadores fizeram sobrevoo para verificar como está a situação em todas as regiões afetadas pelas inundações e atualizar as informações técnicas. “Depois, vamos elaborar um laudo com mais detalhes”, disse Padovani. Até esta sexta-feira, não havia resultados desse trabalho.
AFETADOS
Com o transbordamento do rio, moradores de, pelo menos, sete comunidades foram afetados pelas inundações. São cerca de 625 famílias, que somam mais 2,5 mil pessoas. Ribeirinhos do Porto da Manga, Porto Formigueiro, Porto Esperança, Volta Grande, Paraguai Mirim e Forte Coimbra, comunidades que compõem o Baixo Pantanal, estão entre os prejudicados.
“As famílias afetadas receberam alimentos, medicamentos, além de assistência odontológica e psicológica mas, apesar do isolamento, essa cheia não desalojou nem desabrigou ninguém, porque antes dela começar nós fizemos um cadastro e todas as famílias optaram por permanecer em suas residências, mesmo sabendo que a água iria atingir o interior da casa”, informou Izaque Nascimento, coordenador da Defesa Civil de Corumbá.
Ele explica que a decisão de as famílias permanecerem em suas casas, mesmo com o risco de inundação, foi “por medo de serem saqueados e perderem seus bens, então eles decidiram ficar. O que podemos fazer é levar assistência, e isso estamos fazendo”.
Laudo técnico da Embrapa Pantanal, elaborado em junho, descreve que existem 2 milhões e 300 mil cabeças de gado na região do Baixo Pantanal, de Coxim a Porto Murtinho, todas afetadas pela cheia. Com a falta de logística adequada para a movimentação do rebanho, o custo total do deslocamento dos animais, por meio de comitivas, até os pontos de embarque ficou em torno de R$ 5 milhões.
Em razão da cheia, o município de Corumbá teve situação de emergência reconhecida pelo governo federal. O reconhecimento estabeleceu a região como prioridade quanto ao repasse de recursos financeiros e permitiu, excepcionalmente, o alongamento de dívidas dos produtores rurais.
“Muito embora o [nível do] Rio Paraguai esteja em declínio, em 4,16 metros, ainda está acima da cota de alerta, que é de 4 metros”, explicou Nascimento.