O Pantanal, que preenche Mato Grosso do Sul e é referência para o Estado tanto na área econômica como cultural, corre o risco de acabar daqui a menos de um século.
Estudo veiculado em publicação especializada da Suíça indica que a temperatura do ecossistema deve aumentar em 7º C até 2100, o que mudaria por completo o ciclo das águas.
O resultado disso é que as cheias ficariam prejudicadas porque as chuvas seriam menos intensas, o que culminaria no fim de áreas alagadas.
O pesquisador José Antonio Marengo Orsini e sua equipe, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), foram os organizadores do trabalho.
Para fazer as projeções, eles utilizaram os modelos climáticos globais do 5º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2014.
Esse documento projeta aumento na temperatura global na média de 3,7º C a 4,8º C. Os parâmetros utilizados para essa avaliação foram transportados para a realidade do Pantanal no estudo de José Marengo.
Com base no artigo, até 2040 as temperaturas médias devem subir de 2º C a 3º C. Três décadas depois, os números se elevariam para 4º C a 5º C, já superando a média global.
"Um aumento da temperatura média de 5º C a 6 °C implicaria em deficiência hídrica, o que afetaria a biodiversidade e a população", explicou Marengo ao site da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
ÁREA SECA
Com 140 mil quilômetros quadrados, sendo 80% no Brasil, divididos entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal é uma região semiárida. O ciclo da água anualmente faz com que o bioma não seja seco a ponto semelhante da caatinga nordestina.
Se as projeções da elevação de temperatura se confirmarem, significa que toda a planície normalmente alagada pode se transformar em um pasto seco.
Populações de invertebrados e vertebrados herbívoros, como capivaras, antas, além próprio gado, estariam ameaçadas. Em efeito cascata, felinos, jacarés e aves de rapina sofreriam o impacto. "O dia mais quente do ano pode vir a ser até 10 °C mais quente do que hoje", afirmou o pesquisador à Fapesp. Esse cenário sinaliza clima de deserto, com termômetros marcando até 50º C.
DÚVIDAS
José Marengo destacou na sua análise que ainda há incertezas com relação às projeções pluviométricas. Nos atuais modelos utilizados para pesquisa, as chuvas no hemisfério Sul teriam uma redução entre 30% e 40%.
Mesmo assim, reconhece que as temperaturas globais estão aumentando e o mesmo obrigatoriamente acontecerá no Pantanal.
O trabalho "Climate Change Scenarios in the Pantanal" foi publicado no livro Dynamics of the Pantanal Wetland in South America.