O incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que matou 242 pessoas, entre elas três sul-mato-grossenses, completa oito anos nesta segunda-feira (27). Até agora ninguém foi julgado.
A tragédia matou David Santiago Souza, 22 anos, que, apesar de nascido em Santa Maria, morou durante anos em Campo Grande com os pais e o irmão; a estudante de administração Flávia de Carli Magalhães, 18, nascida em Chapadão do Sul, e a estudante Ana Paula Rodrigues, 21, nascida em Mundo Novo, que passava férias na cidade.
Além dos mortos, os irmãos douradenses Donizete do Nascimento Júnior e William Nascimento, estavam na Boate Kiss e conseguiram escapar com vida da tragédia.
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Em entrevista ao Correio do Estado pouco após a tragédia, Donizete afirmou que estava na área VIP e, quando o incêndio começou, maioria das pessoas permaneceu no local, acreditando que a situação seria controlada.
No entanto, as chamas se alastraram rapidamente a houve a correria em direção as portas de saída.
“Quando começou o fogo pequeno todo mundo achou que dava pra contornar e, como eu estava na área VIP, que fica logo a entrada, a esquerda, no mezanino, ficou mais perto da saída e quando eu vi o povo saindo e correndo para porta, eu não pensei duas vezes; saí correndo”, afirmou.
Já do lado de fora, o cenário era de desespero.
"Algumas pessoas morreram com a mão esticada, tentando ajudar as pessoas, ou pedindo ajuda. Era muita gente se espremendo e as meninas, que usavam salto, acabaram ficando para trás”, afirmou.
Incêndio
O incêndio causou a morte de 242 pessoas e outras 636 ficaram feridas, no dia 27 de janeiro de 2013. Oito anos depois, quatro réus do caso ainda aguardam o júri popular, que não tem data para acontecer.
Na data, a banda Gurizada Fandangueira fazia apresentação ao vivo na boate e, por volta das 2h30, acendeu um sinalizador de uso externo dentro da casa noturna. Faíscas do artefato acabaram incendiando a espuma que fazia o isolamento acústico do local.
A queima da espuma liberou gases tóxicos, como o cianeto, que é letal. Essa fumaça tóxica matou, por sufocamento, a maior parte das 242 vítimas.
Além disso, a discoteca não contava com saídas de emergência adequadas, os extintores eram insuficientes e estavam vencidos.
Parte das vítimas foi impedida por seguranças de sair da boate durante a confusão, por ordem de um dos donos, que temia que não pagassem as contas.
Foram acusados pelo crime e vão a júri popular: Mauro Hoffman, sócio da boate; Luciano Bonilha Leão, integrante da banda Gurizada Fandangueira; Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista do grupo e o empresário e também sócio da boate, Elisandro Spohr. Todos responderão por homicídio.
De acordo com a sentença de pronúncia, os sócios da Boate Kiss - Elissandro Callegaro e Mauro Lodero Hoffmann, e os músicos Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão, - integrantes da banda Gurizada Fandangueira - estavam cientes dos riscos do uso de fogos artifícios, que não poderiam ser acionados em ambientes fechados.
Também foi destacada na decisão a superlotação da casa, a falha dos equipamentos de segurança e a falta de treinamento dos funcionários para atuar em situações de emergência.
Distribuído por sorteio para a 1ª Vara do Júri do Foro Central de Porto Alegre, em dezembro do ano passado, o processo da boate Kiss aguarda a designação de um juiz titular para a Vara, já que a magistrada que ocupa atualmente o posto, Taís Culau de Barros, assumirá novo cargo no Tribunal de Justiça do estado (TJ-RS) a partir de fevereiro.
Só depois que um novo juiz da 1ª Vara for definido é que a data e o local do julgamento serão definidos. A principal preocupação dos familiares das vítimas é que o júri popular não seja a portas fechadas e permita a participação deles.
Homenagem
Nesta quarta-feira (27), data em que a tragédia na boate Kiss faz oito anos, familiares prestam homenagens às vítimas, como acontece todos os anos desde 2013.
Neste ano, devido à pandemia do coronavírus, a homenagem será virtual, em uma live às 20h30, que será mediada pelo jornalista Marcelo Canellas, com a participação dos atores Tony Ramos, Chistiane Torloni, Dira Paes, a autora de teledramaturgia Glória Perez, a mãe de uma das vítimas da tragédia, Ligiane Righi, e o jurista Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul.
* Com Agência Brasil