Cidades

CHAPADÃO DO SUL

Cidade com foco agropecuário tem 90% das nascentes preservadas

Estudo mostra que é possível conciliar preservação com a atividade econômica

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Levantamento feito pela 2ª Promotoria de Justiça de Chapadão do Sul, a 330 quilômetros de Campo Grande, é prova de que preservação ambiental e agronegócio não só devem como podem conviver em harmonia. Com ajuda de especialistas, o órgão do Ministério Público Estadual (MPE) identificou a existência de 143 nascentes dentro dos limites do município, das quais somente 14 não estavam preservadas.

Faz parte do rol de atividades da instituição identificar áreas degradadas e desenvolver ações para restabelecê-las, seja por meio de acordos ou pela abertura de processos na Justiça para que a situação dos mais teimosos seja ditada nos termos da lei.

A promotora Fernanda Proença de Azambuja acompanhou de perto os trabalhos. A ideia de trazer para Mato Grosso do Sul iniciativa que já era desenvolvida em outros estados surgiu durante um evento em Brasília sobre a crise hídrica pela qual passava o Brasil na época.

Era evidente, segundo ela, a necessidade de intensificar a atuação direta nos cursos d'água, não apenas esperar que denúncias apontassem onde estavam os problemas. Contudo, os dados disponíveis sobre as nascentes de Chapadão não eram precisos, pois haviam sido obtidos por imagens de satélite que nem sempre apontavam os locais exatos dos nascedouros.

Área em verde é uma zona de preservação. Nela é possível ver ponto azul onde fica uma das nascentes identificadas. Foto: Divulgação/MPE)
 

PRECISÃO

Foi aí que entrou em cena o engenheiro florestal Raphael Cardoso da Silva, que foi contratado para a missão de chegar o mais perto possível desses locais. Nas áreas em que o acesso era impedido pela própria natureza, ele usou drone para filmar e registrar o ponto em que a água brota do chão. Descobriu que algumas das nascentes apontadas nos dados oficiais sequer existiam, enquanto outras ainda não haviam sido mapeadas.

“Sem necessidade de ir a campo, as imagens eram rodadas em um programa que notava pontos de acúmulo de água similares ou maiores que determinadas quantidades de metros cúbicos. Os dados tinham 237 nascentes. Então nós fomos a campo para identificá-las e descobrimos que o programa não era tão preciso assim”, relata o especialista.

Ao encontrá-las, Raphael passava a verificar as condições ao redor dela para apontar o nível de preservação adotado pelos produtores rurais donos daquela área, como “sistema de conservação e ocupação do solo e dimensionamento da Área de Preservação Permanente (APP). Eu juntava tudo isso em um relatório que era entregue à Promotoria”.

“Foi surpreendente. Nesse intervalo de tempo constatamos que 90% das nascentes de Chapadão estavam preservadas. É claro que mesmo com toda essa precisão ainda se trata de uma amostragem. Eu acredito que existam muitas outras nascentes que ainda não foram catalogadas. Aqui existem cursos hídricos grandes”, relata.

Para a promotora Fernanda Proença, o principal resultado do projeto foi saber que existem produtores preocupados em respeitar a lei e manter as nascentes em ordem sem a necessidade de cobrança.

“Esse índice de 90 % de nascentes preservadas é bastante elevado, ainda mais em uma região conhecida notadamente por sua vocação agropecuária”, pontua a promotora.

Quanto aos casos de degradação, segundo ela, alguns já haviam sido alvos de Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), enquanto outros serão objeto de inquérito civil para que, dentro dessa apuração, o proprietário rural seja convidado a fazer um acordo para recuperar a nascente.

Nesses casos, é necessário elaborar um Projeto de Recomposição de Área Degradada (Prada). O inquérito é arquivado e um procedimento mais simples é aberto só para acompanhar a execução dos trabalhos.

VOZ DA EXPERIÊNCIA

O produtor Lauri Dalbosco tem quatro nascentes em sua propriedade de 1,8 mil hectares. Ele chegou ao local em 2004 e encontrou os cursos d'água completamente degradados.

“Nós sabíamos que tínhamos que fazer um trabalho forte de preservação. A primeira coisa foi vedar completamente a área ao redor. A lei estabelece no mínimo 50 metros de vegetação. Onde tinha mais, deixamos do jeito que estava. Onde não tinha, reflorestamos”, conta.

O gado que pasta na fazenda não chega perto dos nascedouros. “O que nos impressionou foi que nos últimos anos aumentou a vazão da água, elas viraram uns córregos. Quando se pisoteia a nascente ela vira um barro, não sei o que ele faz, mas reduz a vazão. Quando você preserva, chama mais água”, relata.

Ele afirma que hoje, com o Código Florestal, agropecuária e meio ambiente podem dar as mãos sem problemas.

“Sobre o produtor que comete crime, tem que ser punido. Há anos atrás não existia lei. Alguém falava que fazia alguma coisa pelo meio ambiente, mas quem não fazia não era punido e o poder público fazia de conta que fiscalizava. Hoje, o código funciona plenamente”, completa Lauri.

A promotora Fernanda Proença destaca que o projeto ainda não chegou ao fim. O município de Paraíso das Águas, que faz parte da comarca de atuação da 2ª Promotoria, está passando por levantamento semelhante.

Segundo ela, “a crise hídrica revelou a importância de se fiscalizar as áreas ambientalmente protegidas, inclusive e sobretudo as nascentes, de modo a evitar interferências na disponibilidade desse recurso natural tão essencial e, até mesmo, futuro desequilíbrio na sua distribuição”, completa.

Área verde abriga nascentes preservadas em Chapadão do Sul econvive com pastos e áreas destinadas à lavoura
(Foto: divulgação/MPE)

Novela da saúde

Estado e Município têm 90 dias para apresentar Plano Emergencial para caos na Santa Casa

O hospital enfrenta problemas constantes de superlotação, falta de insumos e falta de dinheiro para pagar profissionais de várias áreas, com risco de paralisação de serviços essenciais

17/12/2025 17h15

Santa Casa vem enfrentando problemas de falta de insumos, de repasse e de espaço

Santa Casa vem enfrentando problemas de falta de insumos, de repasse e de espaço FOTO: Paulo Ribas/Correio do Estado

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O Ministério Público de Mato Grosso do Sul determinou que o Estado de Mato Grosso do Sul e o Município de Campo Grande têm 90 dias para apresentarem um Plano de Ação que se mostre eficaz à plena retomada do atendimento integral no Hospital Santa Casa. 

A decisão foi dada após o MPMS entrar com uma Ação Civil com o objetivo de impedir o agravamento da crise assistencial enfrentada pela Santa Casa de Campo Grande. 

O hospital, maior do Estado que atende o Sistema Único de Saúde (SUS), enfrenta problemas constantes de superlotação extrema, falta de insumos, dívidas acumuladas com médicos e fornecedores, comprometendo a continuidade dos serviços prestados. 

Na ação, o MPMS descreve o cenário como um “colapso institucional”, com setores essenciais funcionando muito acima da capacidade, superlotação do pronto-socorro agravada por uma reforma iniciada sem planejamento financeiro e sem conclusão após mais de dois anos de obras. 

Segundo o órgão, a unidade funciona em condições precárias há anos, com pacientes aguardando atendimento em ambiente inadequado, como os corredores, além do desabastecimento de medicamentos e insumos, falta de materiais cirúrgicos, dívidas com médicos e prestadores e o risco real de paralisação de atendimentos de alta complexibilidade. 

Diante desse quadro, o Estado e o Município, com a participação da Santa Casa, têm 90 dias para apresentarem um plano emergencial concreto voltado para a regularização integral dos atendimentos, regularização dos estoques, reorganização do fluxo do Pronto-Socorro, além de garantir um cronograma físico-financeiro para a retomada plena dos serviços. 

Em caso de descumprimento, deve ser aplicada multa no valor de R$ 12 milhões mensais, valor correspondente ao déficit apontado pelo hospital. O valor deve ser pago de forma dividida igualmente entre o Estado e o Município, mediante o sequestro de R$ 6 milhões das contas de cada um. 

A decisão da 76ª Promotoria de Justiça enfatiza que a situação ultrapassou o limite da gestão interna do hospital e ameaça diretamente o direito fundamental à saúde. 

“A ação civil pública destaca que o que está em risco não é apenas a administração de um hospital, mas a vida de milhares de pacientes que dependem diariamente da Santa Casa. A crise instalada ultrapassa qualquer margem de tolerância administrativa, e o MPMS atua para impedir que a situação se transforme em tragédia assistencial, garantindo respostas imediatas e soluções estruturais para que o SUS continue a prestar atendimento em saúde com segurança e respeito ao cidadão”, ressaltou o Ministério Público. 

DÍVIDAS E GASTOS

Como noticiado anteriormente pelo Correio do Estado, a Santa Casa de Campo Grande afirma ter gasto, mensalmente, quase R$ 1 milhão a mais do que recebeu considerando as internações de alta e média complexidade durante o ano passado, o que contribui com o deficit alegado em um balanço que foi divulgado este ano – de R$ 98,4 milhões durante o exercício de 2024.

Segundo documento que o Correio do Estado obteve com exclusividade, o hospital tinha um teto de R$ 46.907.889,12 para ser gasto em 2024 com internações de alta complexidade – serviços e procedimentos que exigem alta tecnologia, alto custo e infraestrutura especializada.

Santa Casa vem enfrentando problemas de falta de insumos, de repasse e de espaçoFeito por Denis Felipe com IA

Porém, a entidade ultrapassou em cerca de R$ 2,5 milhões deste montante, o que resultou em um gasto operacional de R$ 49.484.607,38.

De acordo com o orçamento anual de 2024 do governo do Estado, foram destinados R$ 1 bilhão de recursos somente para internação em unidades hospitalares, o que corresponde a 42,52% dos R$ 2,3 bilhões investidos na saúde ano passado.

Somente para a Santa Casa foram R$ 108,9 milhões no decorrer do ano, o que significou dizer que só ela recebeu 40% do total que foi aplicado para internações em Mato Grosso do Sul.

Para este ano, houve uma redução de cerca de R$ 90 milhões do recurso para internações em unidades hospitalares no Estado, ou seja, diminuiu para R$ 919 milhões. Entretanto, o destinado para a Santa Casa se manteve no mesmo patamar, mas, mesmo assim, a unidade tem reclamado por mais recursos.

Mesmo que o montante extrateto seja considerado alto, equivale a apenas 10,78% do deficit apresentado durante o exercício do ano passado.

De acordo com relatório anual divulgado pelo hospital em março deste ano, 2024 fechou com prejuízo de R$ 98,3 milhões, bem distinto do apresentado em 2023, quando fechou com superavit de R$ 27,5 milhões.

Ao longo dos anos, o deficit acumulado da Santa Casa soma R$ 514,8 milhões. Outro fator que ajuda a explicar a conta fechando no vermelho são os constantes empréstimos que a instituição faz.

Nos últimos anos, o maior empréstimo realizado foi feito em janeiro de 2024, quando a entidade pegou R$ 248 milhões na Caixa Econômica Federal (com taxa de juros mensal de 1,36%), quantia que foi utilizada para amortizar outros dois empréstimos que foram feitos anteriormente, uma estratégia utilizada para diminuir os juros.

A mais recente foi reportada pelo Correio do Estado no início do mês de novembro, quando foi adquirido R$ 5 milhões para auxiliar no pagamento de uma das cinco folhas salariais atrasadas com os 400 médicos, débito que acumula cerca de R$ 30 milhões.

Atualmente, a Santa Casa recebe R$ 392,4 milhões por ano (R$ 32,7 milhões por mês) do convênio entre governo federal, Prefeitura de Campo Grande e governo do Estado para atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS).

Porém, o hospital alega que o valor não seria suficiente para suportar a demanda atual da unidade de saúde, além de não sofrer reajuste desde 2023.

 

*Colaborou Felipe Machado

Campo Grande

Sob multa de R$ 50 mil, dentistas recuam sobre greve na Capital

Decisão favorável à prefeitura postergou possibilidade de paralisação em duas semanas

17/12/2025 16h45

Assembleia da categoria realizada nesta quarta-feira (17)

Assembleia da categoria realizada nesta quarta-feira (17) Foto: Divulgação / Sioms

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Sob pena de multa diária de R$ 50 mil, a greve dos dentistas de Campo Grande, com início previsto para esta quarta-feira (17), foi temporariamente suspensa pela Justiça.  A suspensão do movimento grevista foi deliberada em assembleia realizada pela categoria nesta manhã. 

A paralisação dos cirurgiões-dentistas da rede pública municipal, que suspenderia por 30 dias os atendimentos em 44 postos de saúde da Capital, foi barrada judicialmente após um parecer favorável à prefeitura na noite desta terça-feira, decisão que sustenta a multa contra os sindicalistas. 

Apesar da interupção temporária do movimento paredista, o desembargador Luiz Tadeu Barbosa Silva confirmou que a Prefeitura de Campo Grande não está cumprindo as decisões judiciais, e a Justiça pode considerar o movimento grevista legítimo, caso a administração municipal não "entre na linha" dentro de 15 dias. Ou seja, na prática, o parecer apenas postergou a paralisação desta semana.

O desembargador confirmou que as decisões judiciais em favor dos sindicalistas não vêm sendo cumpridas de forma célere pela Prefeitura de Campo Grande, com registros de "dilação, advertências judiciais e imposições de medidas coercitivas no juízo de origem". 

“Nossa categoria respeita a Justiça, por isso decidimos suspender a paralisação, isso não significa que abrimos mão dos nossos direitos, nem que vamos recuar. Continuamos em estado de greve, cobrando que a Prefeita cumpra a ordem judicial para fazer o reposicionamento do plano de cargos e carreiras”, informou o presidente do Sioms, David Chadid.

Na ocasião, Chadid reforçou a legalidade do movimento. “Nós temos a convicção de que nosso movimento é legítimo e legal, pois seguimos todos os trâmites que a lei de greve determina, então nosso advogado pediu reconsideração da Justiça, demonstrando por meio de documentos que estamos fazendo o correto”, pontuou.

Imbróglio

No dia 15 de dezembro, o juiz da 1ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, Ariovaldo Nantes Corrêa, negou mais prazo para a implementação do reposicionamento do plano de cargos e carreira, determinando que em 15 dias a gestão municipal cumprisse os pagamentos sobre o plano de cargos e carreira da categoria, sob pena de triplicar a multa ao Executivo Municipal em caso de descumprimento, advertindo a prefeita, em caso de desobediência. 

“Ficando desde já advertidos de que o descumprimento injustificado da ordem judicial implicará na incidência das penas de litigância de má-fé sem prejuízo da responsabilização do gestor por crime de desobediência nos termos do que dispõe o artigo 26 da Lei nº 12.016/2009”, advertiu o juiz.

Cabe destacar que, conforme previsto em Diário Oficial, a administração municipal  deve entrar de recesso entre 22 a 26 de dezembro e  29 de dezembro a 2 de janeiro de 2026, em virtude das festividades de fim de ano. As partes tentam um acordo há mais de um mês. 

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