Mato Grosso do Sul vive surto de sífilis. Dados do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, indicam que o número de casos identificados em gestantes praticamente duplicou nos últimos anos.
Entre 2012 e 2015, os casos saltaram de 565 para 963. Somente no primeiro semestre de 2016, que é o dado mais recente, foram 434 notificações no Estado e 143 em Campo Grande. Ainda na Capital, entre 2012 e 2015, o salto foi de 195 casos para 302 grávidas com a doença.
Os dados assustam, porém a quantidade de pessoas com sífilis pode ser maior, conforme a gerente técnica do programa estadual de IST, Aids e Hepatites Virais, Danielle Martins.
“Podemos falar em surto da doença, porque vivemos uma epidemia oculta, pois a sífilis não demonstra sintomas e poucas pessoas que têm relações sem preservativo procuram as unidades de saúde”, explicou.
Para Danielle Martins, além da falta de busca por exames, as pessoas, em geral, deixaram de usar a camisinha, único preservativo que protege contra doenças sexualmente transmissíveis.
“Hoje, como há tratamento de fácil acesso, as pessoas perderam o medo das doenças e não usam mais preservativo. Então, ninguém procura a unidade básica de saúde e, consequentemente, não recebe diagnóstico nem tratamento”, ressaltou.
No caso das gestantes, ainda existe a falta de diagnóstico do parceiro. “Quando a mãe descobre que está com sífilis, ela busca tratamento, mas acaba sendo infectada novamente na primeira relação sexual com o parceiro que também tem a doença. Assim, é importante que, no caso do diagnóstico na gestante, o parceiro também seja testado, e ambos busquem tratamento e usem a camisinha durante o acompanhamento”, pontuou.
Há também a falta de adesão ao tratamento, segundo Danielle Martins. “São seis doses de penicilina benzatina, durante três semanas, e a pessoa não pode atrasar as doses. Porém, ainda há baixa adesão ao tratamento, embora a doença tenha cura”, disse a gerente.
No caso das gestantes, o problema é ainda mais grave, uma vez que as sequelas são permanentes, como microcefalia; aborto e consequente morte fetal; morte neonatal – quando a criança não sobrevive depois de nascida; retardo mental e deficiências auditivas, visuais e neurológicas.
Os dados do boletim epidemiológico apontam que, em 2015, foram registrados 317 casos de sífilis congênita no Estado e 101 casos na Capital. O primeiro semestre de 2016 já registou praticamente a metade dos casos do ano anterior: foram 167 crianças com sífilis por causa dos pais em Mato Grosso do Sul, e 49, na Capital.
Outro motivo elencado pela gerente para o aumento de notificações é a implementação dos testes rápidos nas unidades básicas de saúde. “O Ministério da Saúde classificou Mato Grosso do Sul como referência em testagem rápida, e Campo Grande, como a capital com melhor tratamento”, comentou.