A partir de primeiro de maio, segunda-feira, o Teatro Aracy Balabanian, localizado no Centro Cultural José Octávio Guizzo (Rua 26 de Agosto, 543, Centro), será fechado para reforma.
De acordo com a Secretaria de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação de Mato Grosso do Sul (Sectei-MS), a previsão é de que o teatro permaneça interditado durante seis meses, no mínimo. Esse tempo pode ser prolongado por período indeterminado, dependendo do cronograma das obras. As outras salas e galerias do Centro Cultural continuarão abertas, em funcionamento.
O Correio B conversou com secretário de Cultura, Athayde Nery, para esclarecer os motivos da reforma e o impacto sofrido pela classe artística, que tem o Aracy Balabanian como principal espaço para apresentações e eventos.
OUTRA REFORMA
Em 2011, o Centro Cultural José Octávio Guizzo foi reinaugurado após permanecer mais de um ano fechado para revitalização. Na época, o objetivo era melhorar a segurança e qualidade técnica tanto no teatro quanto nos demais espaços utilizados pelos artistas e pelo público em geral. Entre as melhorias estava a instalação de um novo aparelho central de ar-condicionado e manutenção do carpete que reveste as paredes e o chão do teatro.
O investimento foi de R$ 417.807, provenientes do Fundo Nacional de Cultura (FNC-MinC). Porém, segundo Athayde Nery, a reforma de 2011 não tratou do real problema do local, foi apenas uma “maquiagem”.
Após uma visita técnica da Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul), foi constatado que “o teatro corre tem o risco de desabar”, resume o secretário. “A estrutura é de madeira e todo o madeiramento está comprometido por causa da ação de cupins”.
Além disso, o secretário explica que o carpete é feito de material inflamável, o que apresenta risco para os frequentadores. “Se acontecer um curto-circuito, o fogo se alastrará em segundos”, descreve.
A alternativa será a substituição da madeira por ferro ou estrutura de liga leve. O projeto ainda está em andamento. Por enquanto, foram captados R$ 300.000 de recursos estaduais. Athayde pretende conseguir mais fundos, por meio de emendas parlamentares.
O coordenador do Centro Cultural José Octávio Guizzo, Leandro Caminha, destaca que a reforma também tornará o teatro mais acessível a pessoas deficientes, cumprindo as leis de acessibilidade. Problemas de refrigeração e som também devem ser solucionados, para alívio dos artistas que passavam apuros em virtude das falhas técnicas.
APUROS
Em novembro do ano passado, a premiada peça Trágica 3, estrelada pelas atrizes Letícia Sabatella, Denise Del Vecchio e Miwa Yanagizawa, foi apresentada no Teatro Aracy Balabanian.
De acordo com o secretário Athayde Nery, uma das atrizes teve problemas com o carpete do local, que lhe causou tosse e espirro.
Durante um evento da Sectei, este ano, o ar-condicionado falhou, causando desconforto ao governador do Estado e autoridades presentes. A diretora Thathy D. Meo, da Aplausos Cia. Teatral, que recentemente apresentou o espetáculo “Cadê?” no teatro, relata que sofreu do mesmo problema. “Campo Grande é uma cidade quente. Imagina apresentar em um lugar fechado, sem refrigeração adequada? É quase impossível!”.
Jair de Oliveira, diretor do grupo teatral Unicórnio, que já subiu ao palco do Aracy Balabanian inúmeras vezes, relata que as dificuldades são frequentemente sentidas pelos artistas. “De repente, você escuta uma lâmpada queimando, um fio com mau contato, o som, às vezes, apresenta problema”, comenta.
Para ele, além da reforma, é preciso que o espaço receba cuidados constantes. “O grande problema de todos os teatros públicos é a falta de manutenção, por isso fica reformando a cada cinco anos”, pontua. “Espero que desta vez haja um plano e recursos guardados para manter a manutenção em dia”.
ESPAÇOS ALTERNATIVOS
O Teatro Aracy Balabanian é o principal espaço para a classe artística de Campo Grande. Por sua capacidade de 300 pessoas, estrutura e localização, o local firmou-se como referência do teatro sul-mato-grossense. De acordo com o coordenador Leandro Caminha, mais de 100 eventos deixarão de ser realizados no teatro até o fim do ano.
Os artistas dizem que será difícil fazer teatro nos próximos meses. As alternativas são poucas. O Teatro Glauce Rocha é apontado como muito caro para aluguel, especialmente pelo seu tamanho, e ainda apresenta pouca disponibilidade, por conta dos eventos da Universidade Federal. O teatro do Sesc Prosa, no Horto Florestal, também tem acesso difícil. “É muita burocracia”, diz Thathy.
O secretário de Cultura, Athayde Nery, cita que planejamentos já estão sendo feitos para a criação de locais alternativos. “Temos o Museu da Imagem e do Som, o Museu de Arte Contemporânea, que já foi utilizado para apresentação de peça infantil. Estamos tentando abrir um espaço aqui no prédio da Secretária também”.
Para o diretor Jair de Oliveira, Campo Grande carece de teatros apropriados e muitos locais são desperdiçados. “O teatro do Paço Municipal, há 20 anos fechado, poderia ser reformado e reaberto. A UFMS também tem muitos espaços que ficam ociosos”.
Apesar das opções, Jair destaca a importância de um espetáculo ser realizado em um teatro, com palco, iluminação, camarins e toda a estrutura necessária. “Só em um teatro você pode subir e descer cenários, além do conforto para o público”.
“A gente espera que volte a funcionar logo. Afinal, é um cartão-postal da cidade, é o teatro que recebe grupos e peças de outros estados. O Aracy Balabanian representa a classe teatral do Estado”, finaliza Thathy.