Sobre o caso da musicista Mayara Amaral, 27 anos, que foi morta a marteladas em quarto de motel na Capital, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul (PCMS) foi criticada em perfis das redes sociais e por alguns representantes que defendem os direitos das mulheres e lutam contra o crime de feminicídio.
A própria irmã de Mayara, Pauliane Amaral, foi a primeira a publicar postagem criticando o delegado Tiago Macedo, que registrou a ocorrência. Ela apontou que não houve questionamento da autoridade policial sobre a possibilidade de estupro.
Os suspeitos que assumiram o assassinato, Luis Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, e Ronaldo da Silva Olnedo, 30 anos, afirmaram, em depoimento, que a vítima teve relação sexual consentida com eles.
Para a irmã da vítima, só o fato de os homens terem um martelo, que foi usado para assassinar Mayara, já seria motivo para suspeitar da violência sexual e registrar o crime como feminicídio.
As críticas ganharam repercussão nacional e a Polícia Civil divulgou nota hoje para detalhar o procedimento de investigação utilizado.
Tiago Macedo disse à Folha de S.Paulo que o estupro ainda não está descartado e pode ser incluído no relatório final da polícia. Por enquanto, segundo ele, a investigação aponta para latrocínio. "Estão cogitando feminicídio. É plausível? É, mas, no momento, não. Vai depender da comprovação do laudo e do relatório final", disse o delegado.
Em resposta às manifestações acerca do bárbaro crime que aconteceu no dia 24 de julho, a Polícia Civil sustenta, em nota, que "desde as primeiras diligências realizadas no intuito de encontrar o cadáver, todas as linhas de investigação foram consideradas pela autoridade policial, até mesmo o crime de feminicídio, considerado crime de ódio baseado no gênero, amplamente definido como o assassinato de mulheres".
Na ocasião da prisão dos principais suspeitos, que foram pegos em flagrante, o crime foi tipificado como latrocínio, roubo seguido de morte, cuja pena mínima é de 20 anos de reclusão e a pena máxima, 30 anos de reclusão.
PRECONCEITO
De acordo com a Polícia Civil, não houve "nenhum preconceito ou relutância da corporação em registrar o crime como feminicídio, atuando de forma imparcial e livre de preconceitos de gênero".
A nota da polícia continua justificando o porquê do enquadramento do crime, onde a fundamentação é resultado das apurações preliminares e que justificaram a prisão em flagrante. "O que ocorreu, no caso em apreciação, é que as provas colhidas nos primeiros momentos da investigação criminal indicaram que a morte foi motivada pelo roubo."
O latrocínio consta como crime hediondo e tem como proteção não só o patrimônio, mas a vida. A nota da corporação ainda defendeu que a confissão dos suspeitos, que disseram ter planejado o roubo, indicaram o caminho do indiciamento.
“A gravidade dos fatos, a barbárie cometida, conforme ressaltado pela autoridade policial que presidiu a prisão em flagrante, impõe tão severa tipificação penal (o crime de latrocínio é o mais grave da legislação penal em vigor)”, de acordo com trecho da nota.
Depois da prisão durante plantão policial, as investigações passaram a ser conduzidas na Delegacia Especializada de Furtos e Roubos e Veículos (Defurv). O inquérito será concluído na sexta-feira (4) e remetido à Justiça Estadual.
ENTENDA O CASO
Mayara Amaral, de 27 anos, que era formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em Música e concluiu mestrado na Universidade Federal de Goiás (UFG), foi morta a marteladas dentro de quarto de motel, em Campo Grande.
Os criminosos foram presos após polícia encontrar corpo da jovem, que foi parcialmente carbonizado, na região perto do Inferninho e identificar de quem se tratava depois que mãe de Mayara registrou boletim de ocorrência de desaparecimento e ameaça.
Luis Alberto Bastos Barbosa, 29 anos, que conhecia Mayara, tentou, inclusive, incriminar um namorado dela. A polícia rastreou o celular da vítima e conseguiu identificá-lo. Depois, ainda foram presos Ronaldo da Silva Olnedo, 30 anos, e Anderson Pereira, de 31 anos. Pereira ajudou a ocultar o cadáver e participou da divisão dos pertences da vítima com os outros dois assassinos.
De acordo com a Polícia Civil, Anderson e Olnedo têm várias passagens criminais.