A ideia inusitada de criar uma cápsula do tempo, enterrada hoje (21) na Base Aérea de Campo Grande (BACG), durante as comemorações de 71 anos da instituição militar, foi inspirada em um filme de terror. Isso mesmo, uma história ruim, mas com o objetivo totalmente oposto, o de deixar lembranças e boas histórias à posteridade, já que a cápsula só será aberta em 2044.
O comandante geral da Base Aérea de Campo Grande, tenente-coronel-aviador Potiguara Vieira Campos, disse ao Portal Correio do Estado que a ideia surgiu a partir de um filme que ele assistiu e ressalta que não imaginava a proporção a história que ganharia.
"A primeira pessoa a saber da ideia foi minha esposa, logo depois o Major Silvio. Eu só não esperava que fosse tomar uma proporção como esta. Nossa alma é eterna, por isso precisamos eternizar essas histórias", disse o comandante.
Dentro do extintor da década de 80, que foi restaurado e adaptado para durar e resguardar um passado valioso, foram colocados pertences, cartas e objetos de mais de 450 pessoas. Dentre as lembranças, a Edição nº 19.619 do Jornal Correio do Estado, escolhida para ser lida daqui 29 anos.
Das histórias relatadas nas cartas e relatos depositados na cápsula, a maioria cita o momento histórico que o país passa na economia, corrupção e violência. De acordo com o primeiro sargento Luciano Elvis Cezário, responsável pela preparação da cápsula, o desejo de todos é que tudo mude para melhor com o decorrer dos anos.
De aço, a cápsula - extintor - recebeu camadas de tinta de proteção e foi fechado com selante de aviação. Como foi depositado em um buraco revestido de concreto, o recipiente foi colocado dentro de uma sacola e local também passou por uma camada de tinta impermeabilizante, para vedar as cartas de qualquer umidade.
HISTÓRIAS
O militar que coleciona moedas, uma herança que já passa por três gerações, decidiu junto com sua carta enterrar 26 moedas. "A primeira carta foi a minha, nela escrevi sobre a situação da corrupção atual e claro uma herança de família, que são coleções de 26 moedas de 1884, 1907, 1934, 36, 72 e 74, que são pertencentes ao meu avô e pai, e que gostaria que elas também passassem a frente", disse o sargento, que é mecânico de aeronaves e também acadêmico de EngenhariaCivil.
Antes da cápsula ser fechada, Rafaela de 7 anos, filha do tenente Marcel Felipe Garcia, leu a cartinha que escreveu. Em um dos trechos, a menina que nasceu em Barbacena (MG) fala dos sonhos e objetivos.
"Sinto muita saudade dos meus familiares de Barbacena. Quando crescer, quero ser médica e voltar a morar lá, ou talvez eu more com meu esposo e dois filhos aqui em Campo Grande", escreveu.
Criada em 1944, logo depois do fim da 2ª guerra mundial, a Base Aérea de Campo Grande, conhecida também por "Sentinela Alada do Pantanal", completa 71 anos de existência. A guardiã das histórias, só será aberta daqui 29 anos, na comemoração de 100 anos da BACG.