Um buraco na calçada aqui, o fim do piso tátil que termina em uma lixeira ali ou um ônibus público não adaptado para receber um cadeirante. Nada disso faz diferença na rotina de muita gente, mas para 560 mil habitantes de Mato Grosso do Sul esses detalhes se tornam grande obstáculos quando se trata de conseguir chegar ao seu destino.
"Me sinto sem poder ir e vir. É um direito garantido que é retirado da gente", conta Rogélio Vitorino Barreto, 31 anos, que possui hidrocefalia e usa cadeira de rodas. Ele participou hoje pela manhã do evento que marcou o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, realizado na Praça Ary Coelho, em Campo Grande.
Com ele estava Jaqueline Malavazi da Costa, que tem paralisia cerebral. "Temos que planejar nossa vida antes de sair de casa. São poucos os lugares que possuem acessibilidade. Se reclamamos as pessoas não se colocam na nossa pele. Sempre deixam as melhorias que precisamos para depois".
O desafio dos familiares que compartilham o dia a dia com pessoas que têm alguma limitação físca é constante. Como é o caso da Juliana Alves de Moraes, que é mãe do Arthur Alves dos Santos , 6 anos. O menino possui mielomeningocele e utiliza cadeira de rodas há quatro anos.
"Não são todas as calçadas que estão niveladas e arrumadas como deveriam. Muitas possuem buracos e são inclinadas. Já deixei de sair de casa muitas vezes para evitar de passar por momentos horríveis na rua", desabafa.
Há seis meses ela não utiliza o transporte público. "Desisti literalmente. Mudei meu orçamento para pagar Uber. Um dos dias mais assustores da minha vida foi quando estávamos descendo da rampa do ônibus e tinha uma valeta entre a calçada e o veículo. Estava chovendo muito e foi Deus que segurou o guri. Ele ia cair numa poça enorme".
Para a arquiteta de projetos de acessibilidade e sustentabilidade, Deborah Rezende, a maior dificuldade das pessoas com deficiência são mesmo as calçadas. "Não é problema só para cadeirantes, nem deficientes visuais. É para todos. Quem é responsável pela calçada é o dono do lote e nem sempre ele mantém como deveria. A Prefeitura está fazendo uma revisão neste assunto", acrescentou.
DIFICULDADES
Órgãos públicos como Prefeitura, Câmara Municipal, Assembleia Legislativa passaram por reformas e adequações recentemente para poder atender as pessoas com deficiência. Mas ainda há muito o que ser feito além de banheiros, vagas exclusivas e acesso aos locais. Nem mesmo parquinhos de criança na Capital ou o Aeroporto Internacional de Camp Grande atendem o mínimo necessário para receber esse público.
Conforme o coordenador da Apoio às Pessoas com Deficiência, David Marques, a cidade avançou muito nos últimos 20 anos, mas ainda é preciso mais para uma inclusão natural. "O ideal era que não precisasse de ações para que isso acontecesse. Pedimos para as demais secretarias buscarem as adequações e aos poucos estão sendo atendidas. Isso necessita de projeto e recursos para sua realização".
O presidente do CREA/MS, Dirson Artur Freitag, afirma que pelo histórico das capitais brasileiras, Campo Grande está no top cinco. "Pelas informações, percepção e discussões que estamos fazendo a nível federal para esse diagnósticos temos muito para fazer, mas ainda temos um caminho menos longo. Nossa preocupação com a mobilidade sempre esteve relacionada com a inclusão da acessibilidade neste contexto".