Com capacidade para fazer aproximadamente 50 cirurgias eletivas por dia, um centro exclusivo para os procedimentos será instalado no prédio onde funcionava o Hospital da Mulher e Maternidade, no Bairro Moreninha III, em Campo Grande. Atualmente, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), 5 mil pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) aguardam por procedimentos cirúrgicos agendados, porém, sem andamento na fila, a espera pode durar anos.
O planejamento da pasta é transformar o prédio abandonado há, pelo menos, dois anos para realizar ali as cirurgias eletivas com maior demanda na cidade, especialmente nas áreas de ginecologia, obstetrícia e geral. “Estava sendo direcionada uma unidade de parto normal, sendo que nós temos hoje quatro hospitais com portas abertas para qualquer gestante, com estrutura de Unidade de Terapia Intensiva [UTI], centro cirúrgico, laboratório e exames. Por isso, o foco da Moreninha mudou, porque o custo operacional do projeto que iria nascer seria maior até do que levou ao fechamento, com produtividade baixa e custo elevado”, explicou o titular da Sesau, José Mauro Filho.
Na prática, a Secretaria vai dar nova utilidade ao antigo hospital, na tentativa de atender à demanda com maior urgência atualmente: a de cirurgias eletivas. A reforma e ampliação do prédio deverá custar R$ 5,5 milhões, valor que não contempla os equipamentos. “Ali tudo estava funcionando mal: a unidade básica, o centro regional, a maternidade e a UPA [Unidade de Pronto Atendimento], de forma desassistida”, disse o secretário, ao destacar que a UBS passa por reforma e deverá voltar a funcionar com um novo modelo de gestão.
A Sesau ainda está em processo de negociação para iniciar o atendimento de cirurgias eletivas. Além disso, todo o projeto precisará ser aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS) e também pela Câmara Municipal. O prefeito Marcos Trad (PSD) já deu aval para as mudanças.
A contratualização de serviços de saúde para áreas de cirurgia eletiva de baixa, média e alta complexidade é um dos desafios da Sesau. Alguns hospitais fazem os procedimentos, porém, não garantem a diminuição da fila. “Em tese, teria até condições e seria lógico, fazer as eletivas na Santa Casa. Mas lá são atendidos casos de trauma mais complexos. Média e alta complexidade seria papel da Santa Casa, Hospital Universitário e Regional, que fazem as bariátricas, neurológicas, cardiovasculares, as ortopédicas mais complexas”, explicou o superintendente de Relações Institucionais, Antônio Lastória.
A unidade das Moreninhas poderá atender os casos mais simples, como cirurgias de vesícula, apendicite, trauma ortopédico leve e eletivo, ginecologia e pediatria. “A ideia é ter alto giro e grande volume; internar de manhã, operar e liberar o paciente. Será um day clinic [termo em inglês usado para nomear a internação e o procedimento em um único dia]”, disse Lastória.
O prédio, após a reforma e ampliação, deverá ter entre 24 e 26 leitos de enfermaria e três salas de cirurgia. Cada uma das salas poderá fazer uma cirurgia por hora entre às 7h e às 22h ou meia-noite – ainda não está definido o horário de funcionamento do local. “Varia um pouco a capacidade [de cirurgias], mas pode ser uma por hora da entrada do paciente, o procedimento e a preparação para a próxima cirurgia. E vamos organizar o fluxo, definir um dia da semana para cada especialidade. Será um volume significativo”, afirmou o superintendente.
PROBLEMA
Desde abril, o Correio do Estado vem mostrando, em série de reportagens, a situação de abandono do prédio da antiga maternidade, alvo constante de vandalismo e furtos. Os moradores denunciaram a fragilidade do local, que, sem nenhum tipo de segurança, tornou-se alvo de ladrões, abrigo para pessoas em situação de rua e usuários de droga e também depósito de itens furtados.
No período que funcionou, o local teve graves problemas, com risco para a saúde das mulheres e também dos bebês que lá nasceram entre abril e dezembro de 2016. Mas o centro cirúrgico só foi definitivamente fechado em dezembro daquele ano, oito meses após Vigilância Sanitária de Mato Grosso do Sul, órgão da SES, emitir a primeira notificação de risco sanitário gravíssimo.