Mesmo com custo milionário para manutenção dos semáforos e da sinalização das vias de Campo Grande, o motociclista Diogo Martins Lopes Dias, 23 anos, foi a 80ª vítima do trânsito este ano na cidade. E a morte dele, no início da madrugada de ontem (10), aproximadamente nove horas após o acidente, tem ligação direta com as falhas na manutenção da sinalização, serviço hoje prestado pelo Consórcio CAM, que assinou contrato com a prefeitura no valor de R$ 31.781.691,72, no fim de abril deste ano.
Apesar da deficiência, ontem, apenas há sete meses de vigência da prestação do serviço, a administração municipal aumentou o valor do contrato próximo ao limite máximo permitido, de até 25% do total. Com isso, o consórcio passou a receber mais R$ 7.585.954,64, ou seja, o valor global do contrato por dois anos aumentou 23,86% e agora será de R$ 39.367.646,78.
E mesmo com a quantia milionária, o serviço é realizado de forma parcial. Também ontem, a reportagem do Correio do Estado voltou ao local do acidente do motocicleta e os semáforos da Avenida Nelly Martins (Via Park) continuavam apenas com a luz amarela piscando. O trânsito no cruzamento com a Rua Álvares de Azevedo – onde Diogo, que conduzia uma Biz, colidiu com um veículo Montana – estava confuso.
Conforme o comerciante Thyago Oliveira Ribeiro, que é dono de uma conveniência em frente ao local onde aconteceu o acidente, homens uniformizados estiveram reparando os semáforos, mas não resolveram o problema. “Eles vieram e deixaram apenas piscando em alerta, mas não arrumaram”, disse. Ele informou também que já havia solicitado à Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran) para solucionar o problema dos semáforos, aproximadamente um mês antes do acidente, e o atendimento à solicitação demorou uma semana para acontecer. O semáforo voltou a ter problema, resultando no acidente e na morte de Diogo. “A culpa é deles, a irresponsabilidade é do poder público”, lamentou Thyago.
CONFUSÃO
O consórcio é de São Paulo, formado por ARC Comércio Construções e Administração de Serviços e Meng Engenharia Comércio, e venceu licitação contra a empresa Sinales – Sinalização Espírito Santo Ltda., do Espírito Santo. Com isso, ficou responsável por fazer, durante dois anos, a manutenção de 474 semáforos espalhados pelas ruas da Capital. O Consórcio CAM começou a atuar na manutenção e instalação dos equipamentos na Capital em maio e, menos de sete meses depois, já recebeu aumento no contrato.
Além de diversos pontos da cidade onde os semáforos estão inoperantes (apagados) ou intermitentes (apenas com a luz amarela piscando), como é o caso do cruzamento onde Diogo se envolveu no acidente – na Avenida Nelly Martins com a Rua Álvares de Azevedo –, em outros, os equipamentos foram instalados há mais de duas semanas e continuam sem funcionar.
No cruzamento das ruas Eduardo Santos Pereira e Pedro Celestino, no São Francisco, moradores, comerciantes e também quem trafega todos os dias pelo local esperam, desde a última semana de novembro, pelo funcionamento do equipamento. “A sinalização aqui é fundamental, é um cruzamento com muitos acidentes. Mas está coberto com saco preto e até agora nada”, disse a manicure Géssica Figueiredo, 30 anos.
O edital de concorrência foi aberto em setembro do ano passado, porém, foi suspenso após dois dias. A retomada da licitação ocorreu apenas dois meses depois, em novembro de 2017, com a publicação de aviso. O objeto do certame é a “prestação de serviços de sinalização de trânsito semafórica, horizontal e vertical, e apoio à gestão operacional do sistema viário municipal”.
A sinalização eletrônica também ganhou reforço de recursos federais provenientes do programa Pró-Transporte. O investimento de R$ 58 milhões começou a ser feito em abril deste ano, com a instalação de semáforos pela empresa Via MS no cruzamento da Rua Pedro Celestino com a Avenida Mato Grosso. O Pró-Transporte foi aprovado em 2012 e licitado em 2015. A proposta contempla vários projetos em um, mas ainda não faz parte da instalação da onda verde.
POSIÇÃO
O diretor-presidente da Agetran, Janine de Lima Bruno, informou que o semáforo teve a fiação furtada e, por isso, não está funcionando corretamente. Sobre o aumento no valor do contrato, Bruno disse que a atitude é “normal”. “A gente faz um contrato, como se diz, na estimativa, com base em anos anteriores. Na hora que começa, percebemos onde gasta mais ou menos. Em vários itens, gastamos pouco e em outros bastante. Mas instalamos semáforos em 45 cruzamentos que não tinham e até o fim do ano serão 50. No local desse acidente, tivemos problema com furto de cabos. Estavam furtando mais na região do Piratininga e parou. Na Nelly Martins, não tinham furtado nenhuma vez, foi a primeira. Eu sempre falo que numa situação com semáforo apagado ou intermitente o condutor deve ter atenção redobrada”.