Correio B

CAUSOS DA BOLA

Jogador do Operário morreu em campo após ser atingido por pedra

Na estreia da nova coluna do CORREIO, relembramos a maior tragédia nos campos de MS

RAFAEL RIBEIRO

19/01/2019 - 00h30
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Amigos e amigas leitores do Correio do Estado, o Campeonato Estadual de futebol de Mato Grosso do Sul começa neste sábado (19). E, para embalar a bola que vai rolar pelos gramados, temos o prazer de apresentar a vocês a estreia da nossa nova coluna 'Causos da Bola'.

Semanalmente, sempre aos sábados, convidamos você a viajar no tempo da história esportiva sul-mato-grossense através dos 64 anos acumulados nas páginas do jornal mais tradicional e querido do Estado.

Embarque com a gente nesta máquina do tempo e reviva junto conosco o que de melhor nosso arquivo tem a oferecer sobre os fatos esportivos. 

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Mortes de jogadores em campo marcam. Assim foi em outubro de 2004, quando o zagueiro Serginho sofreu uma parada cardiorespiratória em pleno gramado do Morumbi, durante partida de seu São caetano contra o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro.

O impacto do acontecimento motivou uma série de mudanças na legislação para praças esportivas, como a obrigatoridade de ambulâncias e desfribiladores para o início das partidas.

O caso fora tratado como inédito pela maioria da imprensa. Mas, como diz um amigo de longa data, o Mato Grosso do Sul é pioneiro em coisas que a gente nem imagina. O que necessariamente pode não ser uma coisa boa.

Contaremos agora a história de Eduardo, lateral-direito, que morreu em campo após eer atingido por uma pedrada no peito, na altura do coração. Após fazer apenas o seu quarto jogo com a camisa alvinegra. É considerada a maior tragédia ocorrida no esporte de nosso Estado.

Corria o segundo semestre de 1992 e junto dele nosso Estadual naquele ano, com um favorito absoluto: o Operário, campeão no ano anterior, dono de uma base sólida e sem a ameaça do maior rival, o Comercial, que não disputou aquela edição alegando problemas financeiros.

Parecia ser um caminho tranquilo. Mas o espaço deixado pelo Colorado fez com que os times do interior quisessem aproveitar a chance para se tornarem o maior oponente do Galo. Mas coisas sairiam de controle, como se verá.

TRAGÉDIA

Após o término da última fase de classificação, a tabela apontou o Pontaporense como o rival do Operário nas semifinais. O confronto, considerado tranquilo até então, parecia ainda mais sem precalços após a calma vitória no duelo de ida, no Morenão, por 2 a 0.

Mas o duelo de volta, disputado no Estádio Aral Moreira, no dia 30 de novembro daquele ano, no entanto ficaria marcado para sempre no futebol sul-mato-grossense.

O clima era de tensão. Os torcedores da cidade fronteiriça levaram a sério  a decisão e, em um primeiro tempode fortes emoções e, após um primeiro tempo equilibrado, com direito ao goleiro operariano Marcílio defendendo pênalti marcado para os mandantes, o descontrole tomou espaço na etapa final e com as chances cada vez se rareando mais para os dois gols necessários para tirar a vaga do time da Capital.

E assim se deu a tragédia.

Começou logo aos 17 minutos. Marcílio, herói do Mais Querido, foi atingido pela primeira garrafada jogada ao campo. A torcida entendeu que era cera. E o clima esquentou. Dentro de campo, as entradas passaram a ser mais ríspidas. Fora dele, cada vez mais objetos jogados no gramado.

O estopim definitivo veio aos 30 minutos. Gonçalves, do Operário, e Marquinhos, do Pontaporense, trocaram agressões e foram expulsos, dando início à invasão de campo e briga generalizada.

Os jogadores operarianos corriam para o vestiário tentar se abrigar da violência. Mas os torcedores arremessavam objetos na tentativa de feri-los. onseguiram. Eduardo fi atingido quando botou o seu pé direito na escadaria do vestiário. Caiu sem sentidos, foi arrastado pelos companheiro de time pelas pernas e socorrido a um pronto-socorro da cidade, onde já chegou sem vida.

Não foi a única vítima da barbárie.Repórteres, cinegrafistas apanharam com socos, chuts e pauladas. Cabines de imprensa foram apedrejadas. E os 50 policiais militares designados para a segurança do jogo em uma completa inutilidade diante do caos instaurado.

A notícia da morte de Eduardo destruiu o emocional do Operário. Trancados no vestiário, jogadores choravam copiosamente. O mordomo João Garcia, um ícone do Galo e mais antigo funcionário do clube na ocasião, desmaiou com um princípio de infarto. 

Eduardo César de Campos tinha 30 anos. Fazia apenas o seu quarto jogo com a camisa alvinegra. Nascido em Rolândia (PR), iniciou a carreira no interior de Minas Gerais, mas fi no paulista que ganhou certo destaque nas divisões inferiores, atuando por clubes como XV de Piracicaba, Fernandópolis e Olímpia. Chegara ao Mais Querido apenas 38 dias, por empréstimo. Deixou mulher e duas filhas.

Legenda da Foto

CONSEQUÊNCIAS

A inevitável repercussão da morte de um jogador em campo por motivação violenta ganhou manchetes por todo o Brasil.

O Correio do Estado acompanhou o desenrolar dos fatos e logo no dia seguinte à barbárie a polícia agiu. Dois torcedores de Ponta Porã que teriam antecedntes criminais dforam identificados nos vídeos do jogo (a partida foi transmitida ao vivo) agredindo os operarianos. Até mesmo um PM à páisana, que estaria de folga e bêbado, é flagrado com um revólver em punho ameaçando os adversários e arrebentando o alambrado para a invasão de mais colegas.

Na esfera investigativa, promotores e até juízes se uniram para determinar culpas e responsabilidades, da PM, com um efetivo reduzido, do clube, pela omissão, da Polícia Civil, por liberar os poucos torcedores detidos por falta de provas, e até da própria Federação Sul-Mato-Grossense. 

Prova maior do choque causado pelo caso foi a atitude de cidadãos de Ponta Porã que não estavam no jogo e foram ao hospital consolar jogadores e torcedores do alvinegro feridos, além da família de Eduardo, hospedada gratuitamente na cidade para resolver as questões quanto à liberação do corpo.

Os dias que se seguiram foram de dúvidas e incertezas. Em um primeiro momento, o elenco não queria mais jogar a competição. O então presidente Osvaldo Durões e o técnico Sílvio Elite anunciaram que acatariam a dec isão do grupo, que depois de muito debate, optou por seguir no campeonato. 

Sem nenhuma condição psicológica, o Operário perdeu a disputa do título para o Nova Andradina, pela primera vez campeão estadual, em campanha histórica comandada pelo ídolo Nilson Aragão, chamado de 'Endiabrado' pelos torcedores e artilheiro daquela edição com dez gols marcados. Foi o único título do clube interiorano, hoje licenciado, até hoje na história.

De concreto sobre a selvageria, apenas a interdição do Estádio Aral Moreira, cuja liberação só viria no início de 1994, justamente o ano em que o clube local conquistaria seu único título estadual. Os acusados acabaram inocentado por provas de contundentes nos cfrimes mais pesados, como o assassinato.

Pouco adiantou as boas intenções da Pontaporense, que divulgou uma histórica nota de pesar, em que lamentava as constantes aparições da cidade nas manchetes nacionais por causa da violência. O objetivo foi cumprido para parte da torcida do Galo, que até hoje trata a cidade fronteiriça com desprezo pelo incidente e que torna os já não mais realizados jogos entre os clubes (o Pontaporense também está licenciado) de alto risco e grande atenção das autoridades.

CONFIRA A COBERTURA NA ÍNTEGRA:

 

 

ENTREVISTA COM BIANCA

"A fauna pantaneira é a base musical das nove composições de 'Pantanal Jam'"

Cantora Bianca Bacha, da Urbem, fala como a paisagem natural de Miranda afetou o processo de criação e gravação do segundo álbum da banda, sobre a diferença entre o canto com letra e as vocalizações que são a sua marca e anuncia projetos nos EUA e Espanha

15/12/2025 11h00

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste ano Divulgação / Alexis Prappas

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ENTREVISTA COM BIANCA

Recuperando para o leitor: como se deu a oportunidade do encontro e da parceria com o Ryan para o projeto do álbum “Pantanal Jam”?

Conhecemos Ryan Keberle no Campo Grande Jazz Festival [em março de 2024] e com ele tivemos uma troca musical instantânea. Tocamos juntos em um show no Sesc [Teatro Prosa] em setembro de 2024 e, a partir de lá, tivemos a certeza de que ainda faríamos muita música juntos.

No Pantanal, onde Ryan esteve pela primeira vez durante as gravações, ficou nítido que ele conseguiu transpassar para o repertório o encantamento que ele estava vivendo em meio a toda aquela natureza.

É o segundo disco, nove anos depois de “Living Room”. O que “Pantanal Jam” representa para a Urbem?

Este projeto é o nosso território sonoro: onde a música que criamos se entrelaça à natureza que nos guia em forma de jam. Na música, uma jam significa um encontro musical sem aviso prévio, as coisas vão acontecer ali na hora, portanto, o inesperado é bem-vindo e, com ele, você improvisa.

Qual seria o conceito geral do álbum?

O conceito do álbum nasce da escuta profunda da fauna pantaneira. Os cantos dos pássaros, o esturro da onça e os sons das águas e dos ventos não são efeitos nem pano de fundo: são a base musical das nove composições. A natureza atua como um músico a mais na banda de jazz, dialogando conosco em frases de pergunta e resposta.

Sandro Moreno registrou esses sons in loco, mergulhando no Pantanal para captá-los com precisão. Depois, analisou esse vasto material para identificar melodias, ritmos e motivos que se tornariam a essência das composições.

E, para fechar o ciclo, o álbum também foi gravado no coração do Pantanal. Com geradores a gasolina e um estúdio móvel, nós, a Urbem e o trombonista Ryan Keberle, levamos a música para o ambiente que a inspirou. E ali criamos, novamente in loco, em plena natureza selvagem.

Que tipo de referências buscaram para os arranjos, as sonoridades e as texturas?

Toda a referência e textura do álbum “Pantanal Jam” nascem dos próprios sons do Pantanal. A imersão no território e a escuta atenta transformaram cantos de pássaros, esturros, movimentos da água e vozes da mata em matéria-prima musical.

Cada faixa traduz essa convivência direta com a fauna e seus ritmos naturais, convertendo sons de bichos em música. Viva, orgânica e profundamente enraizada na paisagem pantaneira.

Isso está bastante perceptível. Os sons e toda a atmosfera do Pantanal atravessam o mood e talvez a própria concepção dos temas. Pode comentar um pouco mais sobre essa presença de elementos da natureza – e dessa natureza tão singular de MS – na criação de vocês?

A fauna, a luz, o silêncio amplo, os ventos, os cantos e até os vazios típicos da paisagem pantaneira influenciam diretamente a forma como criamos. É como se o ambiente nos orientasse musicalmente: às vezes guiando uma melodia, às vezes sugerindo um pulso, às vezes impondo uma pausa.

Esse encontro com a natureza não é decorativo, é estrutural. Ela atravessa tudo, o gesto musical, o espírito do disco e a maneira como a banda se relaciona com o som.

No “Pantanal Jam”, a paisagem não é cenário: é presença, é voz, é parceria criativa. É música.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Onde exatamente estiveram e gravaram? E quando foi?

As gravações foram feitas na Fazenda Caiman, em junho deste ano, num cenário que não poderia ser mais inspirador. Foram escolhidas pela produtora três locações diferentes, e para cada uma delas, três músicas.

A cantora Bianca Bacha se prepara para mais uma gravação na Fazenda Caiman, em Miranda, em junho deste anoFoto: Divulgação / Alexis Prappas

Com uma equipe ultraprofissional que trouxe segurança e leveza para uma gravação ao vivo numa condição completamente inusitada.

E quanto ao repertório? Como chegaram às nove canções do disco?

Entre as composições, temos duas músicas do Paulo Calasans [“Swingue Verdejante” e “Suspiro da Terra”], um dos maiores produtores, arranjadores e instrumentistas do País, além de duas canções do Ryan Keberle junto com Sandro Moreno [“Paisagem Invertida” e “Entre Folhas”] e cinco composições nossas [“Espiral”, “Pluma”, “Voo Curvo”, “Barro” e “Canção do Ninho”].

Penso que o Pantanal é experimentado de um jeito bem particular por cada pessoa. Como é para você? Como aquele ambiente lhe toca e eventualmente interfere no seu jeito de cantar?

Tudo ali era extremamente inspirador. Dormir e acordar naquele lugar por alguns dias já me fazia até respirar de jeito diferente, com menos pressão e mais imersão.

Isso com certeza influenciou no jeito de cantar. Porém, o mais impressionante era saber que estava gravando um disco com toda aquela fauna ao redor, um jacaré no lago ao lado e uma onça a alguns quilômetros.

Embora domine há duas décadas o canto com letra e muitas vezes cante dessa forma em apresentações ao vivo, na Urbem, você investe sempre nos vocalizes e scats.

Todas as músicas do álbum “Pantanal Jam” usam a voz como instrumento, ou seja, não há letras nas músicas. Além de ser uma característica jazzística, esse estilo de canto se aproxima mais do cantar dos pássaros, a busca por seus fonemas e emissões.

Cada música exige uma altura e um escolher apropriado de sílabas que encaixem com a afinação e a expressão.

Adoro o canto com letras. Ali você tem palavras, interpreta, coloca ênfases. É até uma emissão de voz diferente. Só que comecei a me encantar com o mundo do jazz e toda essa coisa do canto que não usa palavras, o vocalize. E comecei a ouvir cantoras que cantam assim.

Tatiana Parra [cantora, compositora e professora paulistana] canta assim, nossa, de um jeito maravilhoso. A [portuguesa] Sara Serpa também. Tem também as divas mais antigas que faziam mais questão de improviso, o scat singing.

O canto sem palavra é muito desafiador porque ele é mais cru, mostra mais imperfeições de respiração, de emissão, de escolha de sílabas. E é muito improvisado. Porque a cada dia você pode usar uma sílaba diferente, pode caracterizar de uma outra forma.

Num dia vou fazer “u”, no outro dia posso fazer “a”, no outro posso fazer “e”. E você tem que descobrir ali, numa forma você com o seu corpo. E além de ter o desafio de você demonstrar o interpretar com emoção sem ter palavras.

Então é muito jazz [risos]. E acho muito bonito. Sempre vai ser um desafio. Sou com o meu corpo, com as palavras que eu escolho, que nem sempre são pensadas.

Claro que tem uma questão técnica de que o “i” você vai mais para um agudo, no “u” também; nos graves, você vai para outras escolhas, as consoantes também interferem. Gosto muito de passear pelas duas áreas. Tanto a área da interpretação com letra quanto a área dos vocalizes e texturas.

E Nova York? Pode contar um pouco sobre a recente temporada de vocês por lá?

O “Pantanal Jam” foi lançado em novembro deste ano com um show memorável em Nova York, durante a feira internacional de turismo Visit Brazil Gallery [na Detour Gallery], e a recepção foi extraordinária.

Pessoas do mundo inteiro, agentes de turismo, diretores da National Geographic, fotógrafos de natureza e profissionais de diversas áreas assistiram ao show com atenção absoluta.

Desde a primeira música, compreenderam nossa proposta e permaneceram maravilhados até o fim. Foi um momento histórico para Mato Grosso do Sul e para a arte sul-mato-grossense.

Esse resultado só foi possível graças ao apoio total da Fundtur e do seu diretor-presidente, Bruno Wendling, que acreditou no projeto desde o início e se comprometeu a nos apoiar tanto nas etapas de captação no Pantanal quanto no lançamento em Nova York. Além disso, segue impulsionando a campanha contínua de apresentar o “Pantanal Jam” ao mundo.

E faz sentido: ouvir o Pantanal desperta o desejo de visitá-lo, conhecê-lo e preservá-lo. O projeto reúne arte, natureza, conservação, turismo e toda a beleza única do nosso bioma, uma combinação que emociona e conecta o público global ao coração do Pantanal.

Além do álbum que já está lançado em todas as plataformas, temos uma série de vídeos das nove músicas e um minidocumentário.

Quando teremos shows da Urbem? Quais os próximos passos e projetos da banda?

A Urbem se sente profundamente entusiasmada em seguir os passos de Manoel de Barros, da família Espíndola, de Guilherme Rondon, Paulo Simões, Grupo Acaba, Geraldo Roca e tantos artistas que sempre beberam dessa fonte primária que é o Pantanal, transformando-a em arte para o mundo.

Recentemente, pesquisadores de Harvard e professores da UFMS colheram sons do Pantanal [pelo projeto Pantanal Sounds, que conta, entre outros, com nomes como o do violoncelista e professor William Teixeira], e esse movimento nos inspirou a ir a campo gravar os sons pantaneiros e a fazer composições dentro da nossa linguagem jazzística, incorporando esses registros naturais ao nosso modo de compor e evidenciando em música as belezas pantaneiras.

Temos planos de retornar aos Estados Unidos em breve e estamos em diálogo com a Embaixada do Brasil em Barcelona, onde palestraremos em março.

Além disso, a Urbem participará do Campo Grande Jazz Festival de Rua, no dia 21 de dezembro [neste domingo], em uma jam session com músicos locais e de São Paulo.

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MÚSICA

Entre onças e tuiuiús, o jazz

Em parceria com o trombonista Ryan Keberle, com nove composições inspiradas na exuberância do Pantanal, URBEM lança segundo álbum; 2º Campo Grande Jazz Festival celebra o gênero na Capital, com apresentações gratuitas

15/12/2025 10h00

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro Moreno Divulgação / Alexis Prappas

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Sem dar muitos detalhes, o baterista Sandro Moreno, quando conversou comigo, em junho, sobre o álbum que a Urbem gravaria com Ryan Keberle, adiantou que o projeto seria “algo muito especial”.

Após o show – memorável, diga-se – que fizeram juntos no Teatro do Mundo, o quarteto campo-grandense – além de Sandro, Bianca Bacha (vocais), Ana Ferreira (piano), Gabriel Basso (contrabaixo) – e o trombonista norte-americano foram para a zona rural de Miranda e se instalaram na Fazenda Caiman.

Foi lá que a magia aconteceu. Na estrada desde 2013 e com apenas um álbum lançado até então, “Living Room” (2016), a banda disponibilizou “Pantanal Jam” no Spotify no dia 29 de outubro, três dias antes do show que realizaria em Nova York, em um evento na Detour Gallery que uniu arte, gastronomia e turismo para promover o Pantanal.

São nove faixas criadas e gravadas com extremo apuro e sensibilidade, que alcançam os músicos da Urbem e Ryan num ponto bem elevado de suas capacidades.

Os temas soam como se os cinco artistas tivessem se deixado abraçar pela contagiante pregnância da natureza de Miranda, e Bianca Bacha confirma isso em entrevista exclusiva.

Melodias, pulsações e andamentos foram se definindo conforme eles mergulhavam em tudo que viam, ouviam e sentiam por ali: ventos, o canto das aves, “o esturro da onça”, como Bianca relata. Ouvindo os sons naturais, captados previamente por Sandro, que assina a produção musical do projeto, cada um estabeleceu sua conversa criativa com o Pantanal.

O registro dos sons naturais – de aves, por exemplo — introduz, se mescla ou faz a ponte para uma execução instrumental (voz inclusa) coesa e deveras inspirada, que não força a barra para sorver e devolver, em forma de música, a fartura que o habitat de Miranda oferece.

“Suspiro da Terra”, doce e pulsante, e “Paisagem Invertida”, essa mais selvagem e misteriosa, são uma prova disso.

Ryan pontua, preenche ou arremata sempre com uma precisão e desprendimento envolventes. Ana, como se ouve em “Espiral”, migra da base para os solos numa transparência que comove. Gabriel – em “Canção do Ninho”, por exemplo, que começa e segue na cama dos gomos que vai colhendo ao longo do tema – parece deter a justa medida para o desempenho de seu baixo.

"Foi uma grande honra participar da criação do ‘Pantanal Jam’. Os sons da Pantanal, do modo como Sandro captou, tiveram um papel direto no processo de composição das duas músicas que fiz para o álbum.

A partir da esquerda, Bianca Bacha, Ana Ferreira, Ryan Keberle, Gabriel Basso e Sandro MorenoRyan Keberle, trombonista - Foto: Divulgação / Alexis Prappas

O tom e os ritmos dos sons naturais do Pantanal, inspirados por ideias musicais e paisagens sonoras próprias, criaram um clima que eu tentei capturar nas minhas composições. Quando nós gravamos, literalmente no meio de um dos lugares mais selvagens e remotos do mundo, a beleza e a energia natural nos inspirou a ouvir a natureza e um ao outro mais profundamente, o que resultou numa performance musical que demonstra uma profunda comunicação musical.

Adoro os músicos e a música da Urbem. E, desde que tocamos juntos em diversas ocasiões anteriores, eu compus as minhas músicas especificamente com o talento e a habilidade musical especial deles em mente” - Ryan Keberle, trombonista.

Sandro é um laboratório inquieto, dos pedais aos pratos de condução. E Bianca conduz os vocais numa têmpera e numa fruição que se articula como síntese do conjunto.

Comparações e referências são uma tentação no mundo do jazz. Mas a qualquer palpite sobre “Pantanal Jam”, é melhor calar e ouvir. É um álbum estimulante para esse silêncio de dentro, que nos faculta as melhores emoções da escuta e da experiência musical.

Brazilian jazz? Jazz? Ouça. Música apenas. E quanta música! Embrenhada e revelada nos refúgios de um lugar mágico, onde a natureza se recobra e o espírito se fortalece.

A Urbem lança “Pantanal Jam” hoje, às 18h, no Centro de Convenções Arquiteto Rubens Gil de Camillo. Apareça.

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