Há poucos dias, o cenário era de um intenso vai e vem de gente comprando e falando mais espanhol do que português, mas nesta sexta-feira (1º) o Centro de Pacaraima (RR) mergulhava em um desconfortável silêncio.
Na rua Suapi, a principal da cidade, os comércios tinham prateleiras lotadas e sobravam vagas para estacionar. Desde a sexta (22), quando afronteira foi bloqueada pelo primeiro dia, as lojas começaram a fechar mais cedo em meio à falta de clientela e à preocupação de empresários que agora já começam a pensar em demissões.
"Se eu vender 10% do que eu vendia há uma semana é muito", disse a comerciante Regina Fontenele, que há 20 anos trabalha ali e agora amarga os reflexos do fechamento da fronteira por ordem de Nicolás Maduro.
“Hoje a gente sabe quem é a população de Pacaraima e quem são os venezuelanos e a importância deles para o comércio de Pacaraima. Agora a gente vê que tem mudança. Aqui [apontando para a rua] é lotado de gente, hoje não tem ninguém”.
Desde o fechamento da fronteira em retaliação à decisão do Brasil de, em cooperação com os EUA, enviar comida e remédios ao país de Maduro, o fluxo de pessoas que iam de carro até a cidade desapareceu.
Ainda há quem enfrente rotas clandestinas para chegar caminhando até a cidade, mas sem ter como levar grandes quantidades de compras a pé, o comércio minguou -- um cenário bem distinto do visto na tarde de quinta (21), horas depois de Maduro anunciar que que fecharia a fronteira e provocar uma corrida para compra de mantimentos em Pacaraima.
"Todos nós dependemos dos venezuelanos, para que nossos comércios tenham êxito, a maioria aqui [dos empresários] depende deles e quando a fronteira fechou, as vendas despencaram”, resume Osmar Cardoso que há três anos mora na cidade.
"Pra nós, foi a pior crise já enfrentada, nos afetou muito”, diz Osmar.
Segundo a Receita Federal, por dia R$ 5 milhões deixam de ser exportados pela fronteira porque carretas e caminhões não podem passar pela bloqueio de militares da Guarda Nacional Bolivariana e chegar ao outro lado da aduana.
Além do prejuízo na exportação, o estado também tem deixado de importar da Venezuela um produto necessário para agricultura local: o calcário.
Para reverter o cenário, o governador do estado Antonio Denarium (PSL) pediu a reabertura da fronteira ao governador do estado venezuelano de Bolívar, o chavista Justo Noguera Pietri, na quarta (27).
No encontro, que aconteceu do lado venezuelano da fronteira, Denarium pediu que o bloqueio não impeça mais tráfego de caminhões e voltou dizendo que a fronteira seria aberta no dia seguinte, o que não aconteceu.
"As cidades de Pacaraima e Santa Elena [no lado venezuelano] necessitam uma da outra pra se manter", disse o governador.
Fronteira fechada
O fechamento da fronteira chegou ao 9º dia nesta sexta. O bloqueio é feito pela Guarda Nacional Bolivariana, por ordem de Nicolás Maduro, que rejeita ajuda humanitária oferecida pelo Brasil em cooperação com os EUA.
Até o domingo (24), somente ambulâncias passavam pelo bloqueio. No entanto, após negociações do governo brasileiro, turistas brasileiros e pessoas cirurgias na Venezuela começaram a voltar para o Brasil.