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ENTREVISTA

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Para durar, capitalismo precisa reaver legitimidade, diz ex-docente de Oxford

Para durar, capitalismo precisa reaver legitimidade, diz ex-docente de Oxford

FOLHAPRESS

17/12/2017 - 01h00
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À frente do MBA da Universidade de Oxford por 14 anos, uma das dez melhores instituições de ensino superior do mundo, Stephan Chambers se define como capitalista. Na sua visão, uma das saídas para a crise de legitimidade pela qual o mercado passa são os negócios com propósito.

'Propósito e lucro não são excludentes. O poder do capitalismo pode servir para o benefício público assim como para o retorno privado', afirmou à reportagem o agora diretor do Instituto Marshall de Filantropia e Empreendedorismo Social da LSE (The London School of Economics and Political Science).

Ele integrou o início do movimento que levou essa visão para quase toda faculdade de administração no mundo e que começou em Oxford por iniciativa de Jeff Skoll, cofundador do eBay e criador da Fundação Skoll.

Agora, em outra instituição de prestígio, ele começa o próximo passo coordenando um novo mestrado executivo em setembro de 2018. 'Uma educação clássica de MBA é desenhada para pessoas comandarem empresas no último pedaço do século 20. Eles não estão equipados para lidar com a complexidade que temos hoje.'

PERGUNTA - Como você chegou ao empreendedorismo social?
STEPHAN CHAMBERS - Há aproximadamente 20 anos me convidaram para ensinar alunos do MBA de Oxford a começar novos negócios, e fiquei interessado na ideia de que era possível criar algo sem possuir todas as peças.
Comecei a pensar: 'E se essa lógica fosse aplicada em coisas que realmente importam, como grandes injustiças ou grandes fracassos do mercado?'. Por coincidência, conheci o então novo presidente da Fundação Skoll na Califórnia. Tivemos uma conversa que terminou na ideia de construir um movimento para fazer algo com relação a isso.

P - Qual era o objetivo?
SC - Pensamos fazer isso de três formas diferentes: reconhecer o trabalho de pessoas que estavam fazendo coisas incríveis sobre as quais ninguém sabia; mudar como as faculdades de administração ensinavam empreendedorismo, mudando para o viés social; e tentar colocar algumas ideias, teorias e pesquisas na direção desse campo que estava emergindo.
Jeff Skoll, cofundador do eBay, criou então a empresa em Oxford em um tempo em que nenhuma universidade no mundo sabia o que era empreendedorismo social e nenhuma grande faculdade de administração tinha isso como um elemento central.

P - Como isso impactou o ensino de administração?
SC - 17, 18, 19 anos depois, as grandes instituições levam esse movimento muito a sério. Estudantes do mundo todo estão batendo nas portas desses lugares dizendo que se importam com propósito tanto quanto com lucro. Toda grande faculdade de administração do mundo tem a presença do empreendedorismo social.

P - Quais foram os principais desafios?
SC - Encontramos menos obstáculos do que se possa imaginar. Pessoas diziam que isso era ótimo, mas não era real. Depois, diziam que os negócios que importavam eram aqueles no centro da distinção entre fazer o bem e fazer bem. E então as pessoas no movimento de Empresas B chegaram e disseram que isso não era verdade, que era possível melhorar a performance em diferentes métricas se estiver fazendo o certo ao invés do otimizado.

P - E qual é o maior desafio neste momento?
SC - Provavelmente a crise global de legitimidade no capitalismo. Se o sonho do mercado global capitalista de acabar com a pobreza, reduzir a desigualdade, criar uma classe média forte, se esse sonho se mostrar um pesadelo, todo o tipo de coisa ruim vai acontecer.

P - Como superar isso?
SC - Demonstrando que propósito e lucro não são excludentes. O poder do capitalismo pode servir para o benefício público assim como para o retorno privado. Por mais de 50 anos, as organizações privadas globais foram lideradas por pessoas treinadas de uma maneira particularmente ortodoxa, da primazia do acionista. Gostaria de um mundo em que nos próximos 50 anos treinássemos essas pessoas na primazia social.

P - Educação é um ponto chave?
SC - Sim, principalmente para mim, que estou numa instituição de ensino e meu jeito de tratar essa questão é tentando criar um novo programa no coração de uma instituição de elite. Se tivermos sucesso, teremos o mesmo efeito que Skoll teve em Oxford.

P - Que metodologia o programa pretende disseminar?
SC - Não chamaria de metodologia. As crises são cíclicas, e precisamos parar esse progresso antagonista. Uma educação clássica de MBA é desenhada para pessoas comandarem empresas no último pedaço do século 20. Eles não estão equipados para lidar com a complexidade que temos hoje de legitimidade, informação, tecnologia, globalização e novos tipos de polarizações políticas. Tudo isso atinge as empresas.
Os desafios são muito grandes e as crises são tão extremas que precisamos de uma nova versão do que são os negócios. A maioria dos impactos nas empresas hoje vem de fora dela. 50 anos atrás, vinha de dentro. Os programas tradicionais de MBA não entendem isso bem o suficiente. Liderei um programa de MBA por quase 20 anos e acredito no ensino de administração, mas precisamos desafiar alguns desses métodos ortodoxos.

P - Esse movimento não fica limitado às faculdades de administração?
SC - Não acredito que isso seja verdade. As pessoas não precisam ser encorajadas a verem a si como empreendedores. Isso vem muito naturalmente, especialmente em países com desafios políticos e de infraestrutura. Os países mais pobres são os que mais têm empreendedores porque essas pessoas não podem depender do Estado ou de empregos estáveis, elas têm que seguir por conta própria.

P - O que você espera desse movimento nos próximos 20 anos?
SC - Que qualquer previsão que eu faça estará errada. Mas um momento interessante na história mundial será quando todo os negócios sejam considerados sociais e sejam regulados, medidos, taxados e investidos com base nisso.
Isso pode não estar tão longe quanto se imagina. Para o capitalismo sobreviver ­e eu sou um capitalista­, é preciso que ele reivindique sua legitimidade. Precisa lutar contra corrupção, desigualdade, degradação ambiental, injustiça. A alternativa é muito horrível.

P - Não é preciso um sistema completamente diferente?
SC - Se você puder me falar como seria esse sistema, talvez eu pudesse responder. Não é possível reiniciar sociedades complexas, não é assim que funciona. A qualquer lugar do mundo que eu vá, as pessoas estão comprometidas em melhorar o mundo. O que precisamos fazer agora é alinhar nossas organizações com esse impulso humano, que é totalmente renovável. Um dos grandes recursos renováveis do mundo é a generosidade humana.

Pesquisa

Extrema pobreza cai a nível recorde; dúvida é se isso se sustenta

O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300

19/04/2024 18h00

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Foto: Favela em Campo Grande - Gerson Oliveira/Correio do Estado

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A expressiva alta da renda em 2023 reduziu a pobreza extrema no Brasil ao seu nível mais baixo da série histórica, a 8,3% da população. O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300. Apesar da queda, isso ainda equivale a praticamente a população do Chile.

O cálculo é do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), do IBGE.

Em relação a 2022, 2,5 milhões de indivíduos ultrapassaram a linha dos R$ 300, numa combinação de mais transferências pelo Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e queda do desemprego. A grande dúvida é se o movimento —e mesmo o novo patamar— seja sustentável.

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Todas as classes de renda (dos 10% mais pobres ao decil mais rico) tiveram expressivos ganhos; e o maior deles deu-se para os 5% mais pobres (38,5%), grandes beneficiados pelo forte aumento do Bolsa Família —que passou por forte expansão nos últimos anos.

Entre dezembro de 2019 (antes da pandemia) e dezembro de 2023, o total de famílias no programa saltou de 13,2 milhões para 21,1 milhões (+60%). Já o pagamento mensal subiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 14,2 bilhões, respectivamente.

Daqui para frente, o desafio será ao menos manter os patamares de renda —e pobreza— atuais, já que a expansão foi anabolizada por expressivo aumento do gasto público a partir do segundo semestre de 2022.
Primeiro pela derrama de incentivos, benefícios e corte de impostos promovidos por Jair Bolsonaro (PL) na segunda metade de 2022 em sua tentativa de se reeleger. Depois, pela PEC da Transição, de R$ 145 bilhões, para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse gastar mais em 2023.

Como esta semana revelou quando governo abandonou, na segunda-feira (5), a meta de fazer superávit de 0,5% do PIB em suas contas em 2025, o espaço fiscal para mais gastos exauriu-se.

A melhora da situação da renda dependerá, daqui para frente, principalmente do mercado de trabalho e dos investimentos do setor privado. Com uma meta fiscal mais frouxa, os mercados reagiram mal: o dólar subiu, podendo trazer impactos sobre a inflação, assim como os juros futuros, que devem afetar planos de investimentos empresariais e, em última instância, o mercado de trabalho.

Apesar do bom resultado em 2023, algumas análises sugerem que o resultado não deve se repetir. Segundo projeções da consultoria Tendências, a classe A é a que terá o maior aumento da massa de renda real (acima da inflação) no período 2024-2028: 3,9% ao ano. Na outra ponta, a classe D/E evoluirá bem menos, 1,5%, em média.

Serão justamente os ganhos de capital dos mais ricos, empresários ou pessoas que têm dinheiro aplicado em juros altos, que farão a diferença. Como comparação, enquanto o Bolsa Família destinou R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de domicílios em 2023, as despesas com juros da dívida pública pagos a uma minoria somaram R$ 718,3 bilhões.

A fotografia de 2023 é extremamente positiva para os mais pobres. Mas o filme adiante será ruim caso o governo não consiga equilibrar suas contas e abrir espaço para uma queda nos juros que permita ao setor privado ocupar o lugar de um gasto público se esgotou.

Voos em queda

Aeroportos de Mato Grosso do Sul enfrentam desafios enquanto Aena Brasil lidera crescimento nacional

No acumulado do ano de 2024, o volume de passageiros chegou a mais de 395 mil passageiros em Mato Grosso do Sul, com um aumento de 4,8% no número de operações realizadas nos três aeroportos do Estado

19/04/2024 17h41

Os três aeroportos de Mato Grosso do Sul mantiveram um desempenho estável no acumulado do ano, com um aumento significativo nas operações. Foto/Arquivo

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A Aena Brasil revelou hoje os números da movimentação nos aeroportos até março de 2024, destacando-se como a empresa com a menor redução de passageiros no país. No entanto, o aeroporto de Ponta Porã, sob sua administração, enfrentou uma redução significativa de 42,4% no fluxo de passageiros em março deste ano.

Esta tendência também foi observada na capital sul-mato-grossense, onde o volume de passageiros em Campo Grande caiu 5,5%, totalizando 118.529 passageiros, e no aeroporto de Corumbá, com uma redução de 14,3%.

Além disso, as operações aeroportuárias também estão em declínio, com quedas de 15,9% em Ponta Porã, 10,6% em Corumbá e 8,7% na capital, no volume de operações.

Apesar desses desafios, no acumulado do ano, a Aena Brasil aponta que o aeroporto internacional de Campo Grande registrou uma redução de 3,0% no fluxo de passageiros e de 3,5% no número de operações aeroportuárias.

Já o aeroporto de Ponta Porã apresentou uma queda de 27% no fluxo de passageiros, mas com um saldo positivo de 4% no número de operações. Além disso, o aeroporto de Corumbá, considerado a capital do Pantanal, registrou um aumento de 4,9% nas operações.

No total, a movimentação nos três aeroportos de Mato Grosso do Sul alcançou 395.388 passageiros e 5.043 operações realizadas.

Veja o ranking nacional:

Aena tem crescimento de 6,3% na movimentação em todo o Brasil

Enquanto isso, em nível nacional, a Aena Brasil experimentou um crescimento impressionante de 6,3% na movimentação. Os 17 aeroportos administrados pela empresa no Brasil registraram 10,4 milhões de passageiros no primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 6,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em relação ao número de pousos e decolagens, nos três primeiros meses houve alta de 5,4%, com um total de 115,5 mil movimentos de aeronaves. Considerando somente o mês de março, o crescimento chega a 6,1% no total de passageiros (3,4 milhões), em relação ao mesmo mês de 2023, e a 1,7% no volume de pousos de decolagens (38,9 mil).

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