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Novo projeto mira paciente
sem fala e busca doação de voz

Novo projeto mira paciente
sem fala e busca doação de voz

Folhapress

09/07/2017 - 20h00
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"Você quer doar a sua voz?", perguntam Marina Vaz, 31, e Thais Romanelli, 36, em frente a uma estrutura coberta por mensagens de incentivo na capital paulista.

O esforço é mínimo: basta repetir algumas frases, digitar poucas características físicas e de personalidade e deixar o contato. Em poucos minutos, mais uma identidade é adicionada ao acervo criado pela Soulvox –projeto que tem o objetivo de dar voz, literalmente, a quem perdeu a capacidade de fala.

Qualquer registro sonoro é precioso nas mãos de Marina e Thais. As mais de 700 doações coletadas em um ano se unem a materiais como uma gravação de aula em VHS e áudios enviados por Whatsapp.

Para as criadoras da Soulvox, poucos segundos de áudio são a expressão completa da identidade de alguém. Personalidade, humor, características físicas -tudo se manifesta naquelas palavras e ganha vida através da voz.

Criada em 2016, a start-up tem como principal proposta humanizar a comunicação de pessoas após complicações de saúde que comprometeram a fala, mas deixaram as funções cognitivas intactas. É o caso de alguns tipos de câncer e da ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica).

Não há uma solução que seja prática, efetiva e financeiramente acessível ao mesmo tempo. A Soulvox busca a união dessas características somadas ao resgate da identidade da fala.

EM CASA
A ideia de fazer um "banco de voz" foi de Marina, que acompanhou um câncer de cabeça e pescoço que comprometeu a fala de seu pai. "Eu gravava suas palavras e bordões preferidos para que ele pudesse usar. Não queria perder aquilo porque era muito valioso para nós", conta.

Quatro anos depois, a vida da arquiteta mudou completamente. O pai não resistiu ao câncer, e Marina se tornou mãe, o que despertou nela a vontade de encarar sua ideia como projeto. "Descobri que, se você não tiver um propósito, é muito difícil deixar seu filho em casa para trabalhar."

Em julho de 2016, em um fim de semana voltado a empresas iniciantes na área da saúde, conheceu a outra metade da Soulvox –Thais, fisioterapeuta com 15 anos de experiência na reabilitação. Durante o evento, entraram em contato com Ana Amália Barbosa, 51, que se tornou a primeira de 20 pacientes.

Como sequela de um AVC aos 36, a artista e professora foi diagnosticada com a síndrome do encarceramento, retratada no filme "O Escafandro e a Borboleta" (2007).

Após perder os movimentos do corpo e a fala, escreveu sua tese de doutorado indicando as letras com o piscar dos olhos, continua pintando e tem um blog para contar suas experiências.

Mais de uma década depois, viu na Soulvox uma possibilidade de mais independência. As palavras ditas por ela em uma antiga gravação de aula foram recortadas manualmente e aplicadas em um programa de computador –alternativa nova, mas limitada, uma vez que se restringe às palavras da gravação.

"O que temos até agora é bem simples", explica Thais. "O que selecionamos com o dedo, o paciente faz com os olhos, o queixo. Se ele tem pouco movimento, precisa de uma luz piscando na tela para dar o comando quando chegar na palavra que quer."

SINTETIZADOR
O objetivo primordial da Soulvox é o desenvolvimento de um programa inteligente que sintetize a voz a partir dos fonemas da língua portuguesa recolhidos nas doações e recortados nas gravações. A partir disso, os pacientes seriam capazes de falar qualquer frase com o sotaque, entonação e características de sua personalidade.

"Queremos dar voz com identidade, mas também queremos dar autonomia para essas pessoas, conectar o programa às redes sociais, fazer um dispositivo que, quando ouvir uma pergunta, já sugira uma série de respostas para o paciente", conta Thais.

O software novo funcionaria com o mesmo princípio do atual: instalado no computador, conecta-se a um acionador ativado com a parte do corpo que o usuário consegue mexer. Dessa forma, consegue indicar qual grupo de palavras quer usar para a fala, e, em seguida, o que quer dizer.

Em breve, um aplicativo de doação para celulares também será lançado. "Nós cruzamos as características que influenciam na voz, como peso, altura, personalidade, e apresentamos os resultados para o paciente até conseguirmos um 'match'", explica Marina. "Quanto mais vozes, mais chances de encontrar um doador compatível."

Toda a automatização, no entanto, custaria ao menos R$ 100 mil. Para arrecadar o dinheiro, a Soulvox decidiu lançar, nas próximas semanas, um "crowdfunding" (financiamento coletivo on-line). Se o objetivo for alcançado, Marina prevê que o custo de recuperação da voz fique em torno de R$ 500.

ESPERANÇA
Edineia de Paula, mãe de Romeu, 16, encara a possibilidade com alegria. Romeu perdeu a fala e os movimentos após uma queda de bicicleta em 2014 e, desde então, se comunica com movimentos da cabeça, uma prancha de figuras e um aplicativo gratuito com voz feminina.

"Como mãe, sinto uma saudade imensa de ouvir a voz dele. Sinto falta do 'eu te amo', do 'bênção, mãe', antes de ir à escola", diz Edineia, que já escolheu uma voz doada com o filho.

Rosana de Souza, diagnosticada em 2016 com ELA e em tratamento para retardar o avanço da doença, já gravou sua voz. "Vou lutar até o fim, mas, se tiver como preservar a minha voz para usar em algum equipamento que fale por mim, ótimo."

Para Ana Amália, que classifica a voz como a "impressão digital da alma" e vive sem voz há mais de uma década, recuperar a sua seria como "recuperar a identidade".

PETROBRAS

Tribunal derruba liminar que suspendeu conselheiro da Petrobras

O mérito da ação será analisado ainda pela Quarta Turma -órgão de segunda instância- do tribunal

15/04/2024 20h00

A AGU (Advocacia-Geral da União) já recorreu também da decisão que afastou Mendes da Petrobras.. Divulgação

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O juiz federal do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) Marcelo Saraiva derrubou nesta segunda-feira (15) uma liminar -decisão provisória- que suspendia o mandato do ex-ministro Sergio Machado Rezende no conselho de administração da Petrobras.

O presidente do colegiado, Pietro Mendes, continua suspenso. Rezende fora afastado do conselho na semana passada, em liminar de primeira instância concedida a pedido do deputado estadual de São Paulo Leonardo Siqueira (Novo), sob o argumento de que sua nomeação fere o estatuto da estatal.

O mérito da ação será analisado ainda pela Quarta Turma -órgão de segunda instância- do tribunal, com sede em São Paulo.

Siqueira é também o autor da liminar que suspendeu o mandato de Mendes, por suposto conflito de interesses entre seu papel no conselho da estatal e sua atividade como secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME (Ministério de Minas e Energia).

A AGU (Advocacia-Geral da União) já recorreu também da decisão que afastou Mendes.

Petrobras e governo esperam que a suspensão do mandato também seja revertida neste caso.
A indicação de Rezende é questionada pelo descumprimento de quarentena exigida para a nomeação e ex-dirigentes sindicais ao conselho das estatais.

A Petrobras argumenta que uma liminar do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski eliminou essa restrição.

A estatal chegou a alterar seu estatuto usando como justificativa a liminar, em uma decisão que gerou críticas de investidores privados e especialistas em governança.

Na época, a empresa defendeu que seguirá a lei, caso a liminar de Lewandowski seja derrubada.

"Nesse momento processual, entendo que não houve descumprimento do Estatuto Social da Petrobras no tocante ao requisito da quarentena, isso porque, no momento da posse prevalecia o entendimento da Suprema Corte", escreveu Saraiva.

Assim, diz ele, a manutenção do afastamento do mandato gera "perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo" e pode acarretar "vultoso impacto financeiro" na vida de Rezende, que também teve o salário de conselheiro suspenso.

Ex-dirigente do PSB, Rezende foi ministro da Educação e de Ciência e Tecnologia nos primeiros mandatos do presidente Lula. Foi excluído da lista do governo para a renovação do conselho na próxima assembleia, dando lugar ao secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda, Rafael Dubeux.

Mendes, por sua vez, deve ser reconduzido como presidente do conselho, segundo a lista apresentada pelo governo à estatal.

Aliado próximo do ministro Alexandre Silveira, ele chegou ao MME ainda no governo Bolsonaro -primeiro, como diretor do Departamento de Biocombustíveis, em 2020.

Foi promovido a secretário-adjunto em 2022 e levado ao colegiado que define a estratégia da estatal pelas mãos de Silveira em 2023. Tem tido embates com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que passou as últimas semanas sob fritura.

Sem acordo

Cimi critica Lula por propor a Riedel compra de fazenda para "salvar" indígenas em Dourados

Para órgão ligado à Igreja Católica, solução para crise Guarani e Kaiowá é "demarcação de terras, como manda a Constituição"

15/04/2024 19h19

Eduardo Riedel e Lula durante evento na JBS, em Campo Grande Marcelo Victor

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O Conselho Indigenista Missonário (Cimi), órgão ligado à Igreja Católica e que é um dos maiores apoiadores da causa indígena no Brasil, divulgou nota criticando a proposta feita pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), na manhã de sexta-feira (12). 

Na ocasião, Lula propôs a Riedel a compra, “em sociedade”, de uma fazenda para “salvar aqueles Guarani que vivem perto de Dourados, na beira da estrada”. Para completar, o presidente da República ainda pediu que Riedel lhe telefone quando encontrar a fazenda para ser adquirida para alocar os indígenas em situação de extrema vulnerabilidade. 

Para o Cimi, em nota publica nesta segunda-feira (15), o discurso do presidente da República “provocou revolta nas lideranças indígenas e em uma ampla gama de aliados dos povos originários”. “O presidente propôs a compra de terras tradicionalmente ocupadas para os Guarani, no lugar da demarcação de terras nos moldes que determina a Constituição Federal”, argumentou o Cimi. 

O órgão da Igreja Católica ainda completou: “ É fato que Lula sabe que essa possibilidade, além de ser explicitamente vedada pelos incisos 1 e 6 do artigo 231 da Constituição, jamais será capaz de atender às necessidades básicas e essenciais dos Kaiowá e Guarani. Inclusive tendo em vista, por exemplo, todas as problemáticas existentes nas oito reservas criadas pelo antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI)”.

Ainda para a entidade ligada à causa indígena, a fala de Lula abre margem para interpretações que invertem a ordem constitucional, no que diz respeito ao direito originário que os povos indígenas têm à demarcação de suas terras tradicionalmente ocupadas.

“Ao invés de propor a compra de terras para indígenas, Lula poderia propor, como fez há vinte anos, a aquisição de terras não tradicionais para assentar os não indígenas de boa fé que eventualmente tenham recebido títulos do Estado e que serão impactados pela demarcação das terras indígenas. Conforme destacado por Lula, o governo federal já promoveu o reassentamento de famílias impactadas e tal solução está totalmente protegida pela legislação”, argumentou o Cimi em nota.

Governador

O governador Eduardo Riedel (PSDB) na sexta-feira (12) disse que não só apoia a proposta de Lula, como a defende desde que presidia a Federação da Agricultura e da Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul)

Há pouco mais de uma década, em 2013, apoiou a criação pelo Poder Executivo, na época chefiado por André Puccinelli (MDB), do Fundo para Aquisição de Terras Indígenas (Fepati). 

“É um caminho que a gente vem apontando há muito tempo. Que a gente comece por essas propriedades, e que a gente dê solução a isso”, afirmou Eduardo Riedel, em vídeo gravado em seu gabinete, na noite de sexta-feira (12).

“Ao invés de propor a compra de terras para indígenas, Lula poderia propor, como fez há vinte anos, a aquisição de terras não tradicionais para assentar os não indígenas de boa fé que eventualmente tenham recebido títulos do Estado e que serão impactados pela demarcação das terras indígenas.

Conforme destacado por Lula, o governo federal já promoveu o reassentamento de famílias impactadas e tal solução está totalmente protegida pela legislação”, argumentou o Cimi em nota.

O Cimi aproveitou para criticar Riedel, e lembrou que quando ele presidiu a Famasul, ajudou a organizar um evento chamado na época de “Leilão da Resistência”, contra as várias ocupações de terra que ocorria na época. 

“Lula, seu governo, todos os fazendeiros e todos os empreendimentos sobre terras tradicionais dos Guarani deveriam compreender que a reivindicação deles não será jamais momentânea. Que mesmo distantes de seus territórios, seu sentido de pertencimento a eles é incondicional, inegociável e transmitido de geração em geração. E que basta uma mínima mudança na correlação de forças para que sua resistência e suas ações autodeterminadas se manifestem e confirmem seu caráter permanente”, finaliza a nota do Cimi.
 

Reivindicações

O Cimi ainda listou cinco passos para uma solução definitiva para a conflito e crise humanitária na região do Sul de Mato Grosso do Sul, que para o órgão, vai além da compra de fazenda. 

A primeira delas é a demarcação de todas as fazendas reividicadas pelos Kaiowá e Guarani no Estado, nada menos que 900 mil hectares de terra, e que segundo eles, representa que menos de 10% do território que perteceu a estes dois povos. 

O Cimi ainda aproveitou ao citar este passo, para alfinetar o presidente da República mais uma vez, ao criticar o fato de a proposta ter sido feito dentro de uma unidade da JBS, em Campo Grande, que terá sua capacidade de abate ampliada, e a geração de empregos dobrada para 4,6 mil vagas diretas, por causa da habilitação para exportação para a China a partir desta planta. 

“Cabe ressaltar que o setor da pecuária, representado pelo frigorífico onde Lula discursou, ocupa mais de 60% das terras do estado”, ironizou a nota do Cimi. 

O Cimi ainda quer que o governo atue para tornar inconstitucional a Lei 14.701/2023, conhecida como “Lei do Marco Temporal”. O Cimi ainda quer que a União adote um parâmetro para demarcar terras indígenas a partir do julgamento do Supremo Tribunal Federal que considerou inconstitucional a tese do marco temporal. 

Mas não é só isso, o Cimi quer a garantia de recursos financeiros e técnicos para identificar, declarar e homologar as terras Kaiowá e Guarani “há décadas pendentes”. 

O órgão ainda pede para Lula ordenar ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowiski, que declare a Terra Indígena Ypoi - Triunfo, no município de Paranhos, fronteira com o Paraguai. Segundo o Cimi, a reserva “se encontra há um ano sem sinal de andamento junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ), depois de décadas negligenciada no âmbito da Funai”.

Por fim, o órgão da Igreja Católica quer que o governo federal providencie os meios, recursos e terras para realocar pessoas de boa-fé, “não envolvidas em conflitos armados contra os Guarani e Kaiowá e que foram impactadas pelo processo de demarcação”. 

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