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Novas hidrelétricas na Amazônia podem prejudicar clima e ecossistemas

Novas hidrelétricas na Amazônia podem prejudicar clima e ecossistemas

Folhapress

15/06/2017 - 08h18
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Se forem em frente os atuais planos de construir centenas de hidrelétricas na Amazônia nas próximas décadas, o efeito dominó sobre todas as regiões banhadas pelo Amazonas e seus afluentes será imenso: muito menos nutrientes para os peixes e a floresta, um litoral menos produtivo e possíveis alterações climáticas que alcançariam até a América do Norte.

Esse prognóstico nada animador vem da primeira análise integrada do impacto das usinas no maior rio do mundo, conduzida por uma equipe internacional de pesquisadores e publicada na revista científica "Nature".
O grupo, que inclui cientistas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), da Universidade Federal do Amazonas e da Universidade do Texas em Austin (EUA), formulou um índice de vulnerabilidade dos rios amazônicos diante das obras atuais e futuras e concluiu que dois importantes afluentes que atravessam o território brasileiro, o Madeira e o Tapajós, estão entre os que mais sofrerão (e, aliás, já estão sofrendo) com a febre das novas hidrelétricas.

Para o coordenador do estudo, o geólogo argentino Edgardo Latrubesse, da Universidade do Texas, não se trata de impedir a geração de energia na região, mas de levar em conta os impactos dela e pensar em modelos alternativos para a Amazônia.

"O plano de energia tem de ser um componente a mais do manejo integrado da bacia, não algo imposto de cima, que obriga todo mundo a correr atrás dos problemas gerados por essa imposição", diz Latrubesse, que trabalhou no Brasil durante quase duas décadas e é casado com uma brasileira. "Não dá para destruir o maior patrimônio fluvial do mundo de uma vez só, sem planejamento."

VULNERÁVEIS

A medida criada pelos pesquisadores, batizada com a sigla Devi (em inglês, "índice de vulnerabilidade ambiental a represas"), leva em conta três fatores. O primeiro tem a ver com a fragilidade de cada rio a mudanças no uso do solo em seu entorno (desmatamento, por exemplo), bem como o aumento da erosão e da chegada de poluentes à água. O segundo considera coisas como a quantidade de sedimentos normalmente carregados por certo rio, enquanto o terceiro leva em conta a proporção do curso do rio a ser afetada por uma nova usina.

Levando esses pontos em consideração, a área do Madeira é classificada como a mais vulnerável não só pela construção de duas hidrelétricas de grande porte (as de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia) nos últimos anos, mas também pelos projetos de usinas antes de o rio chegar ao Brasil, do lado da Bolívia, rumo aos Andes.

Esse detalhe é importante porque a bacia do Madeira recebe as águas ricas em sedimentos e nutrientes vindas do território andino e as passa adiante. As grandes usinas, porém, funcionam como um filtro, retendo esses sedimentos -observações de satélite analisadas pela equipe mostram, por exemplo, que a construção de Santo Antônio e de Jirau diminuiu em 20% a concentração de sedimentos suspensos na água do Madeira. O efeito deverá ser ainda maior com a multiplicação de usinas rio acima.

"O Brasil andou dando um tiro no próprio pé nesse sentido, porque incentivou os países andinos vizinhos a construir hidrelétricas para abastecer o que se imaginava que seria uma grande demanda de energia do lado brasileiro. Com a crise, essas previsões mudaram totalmente", conta Latrubesse.

No caso do rio Tapajós, o principal temor está ligado ao grande número de empreendimentos hidrelétricos (90 planejados mais 28 já em funcionamento), bem como a fatores como a falta de áreas protegidas nas margens do rio e a ocupação humana já relativamente intensa na região.

Alterações de grande porte no fluxo da água e dos sedimentos pela bacia amazônica inevitavelmente vão influenciar o que acontece no oceano Atlântico quando o Amazonas deságua nele. Podem acontecer efeitos negativos nos maiores manguezais ainda intactos na América do Sul, que ficam justamente na costa amazônica.

"Além disso, há estudos indicando que a pluma de sedimentos trazidos pelo Amazonas regula a temperatura de superfície do oceano na região e, com isso, influencia as chuvas no Caribe, na América Central e no sul dos EUA. O problema é global", resume o geólogo.

GESTÃO TRANSNACIONAL

O estudo não se limita a profetizar a catástrofe iminente, porém. Os pesquisadores propõem que só uma gestão integrada e transnacional dos rios amazônicos será capaz de evitar o mau uso desses recursos.
Para isso, o órgão ideal seria a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, que já reúne os países cujo território integra o bioma. Um painel formado por cientistas de todas essas nações poderia fornecer recomendações sobre a maneira mais racional de produzir energia, com a ajuda dos rios ou por outras fontes renováveis, como a solar e a eólica.

"Não é conversa de ecochato, é questão de fazer um plano decente, porque os das hidrelétricas que querem construir hoje ainda são os dos anos 1960 e 1970, quando a tecnologia era outra e se sabia muito pouco sobre o funcionamento da Amazônia. Os cientistas precisam entrar mais nessa discussão, e é o que estamos tentando fazer", diz o geólogo.

Sem acordo

Cimi critica Lula por propor a Riedel compra de fazenda para "salvar" indígenas em Dourados

Para órgão ligado à Igreja Católica, solução para crise Guarani e Kaiowá é "demarcação de terras, como manda a Constituição"

15/04/2024 19h19

Eduardo Riedel e Lula durante evento na JBS, em Campo Grande Marcelo Victor

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O Conselho Indigenista Missonário (Cimi), órgão ligado à Igreja Católica e que é um dos maiores apoiadores da causa indígena no Brasil, divulgou nota criticando a proposta feita pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), na manhã de sexta-feira (12). 

Na ocasião, Lula propôs a Riedel a compra, “em sociedade”, de uma fazenda para “salvar aqueles Guarani que vivem perto de Dourados, na beira da estrada”. Para completar, o presidente da República ainda pediu que Riedel lhe telefone quando encontrar a fazenda para ser adquirida para alocar os indígenas em situação de extrema vulnerabilidade. 

Para o Cimi, em nota publica nesta segunda-feira (15), o discurso do presidente da República “provocou revolta nas lideranças indígenas e em uma ampla gama de aliados dos povos originários”. “O presidente propôs a compra de terras tradicionalmente ocupadas para os Guarani, no lugar da demarcação de terras nos moldes que determina a Constituição Federal”, argumentou o Cimi. 

O órgão da Igreja Católica ainda completou: “ É fato que Lula sabe que essa possibilidade, além de ser explicitamente vedada pelos incisos 1 e 6 do artigo 231 da Constituição, jamais será capaz de atender às necessidades básicas e essenciais dos Kaiowá e Guarani. Inclusive tendo em vista, por exemplo, todas as problemáticas existentes nas oito reservas criadas pelo antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI)”.

Ainda para a entidade ligada à causa indígena, a fala de Lula abre margem para interpretações que invertem a ordem constitucional, no que diz respeito ao direito originário que os povos indígenas têm à demarcação de suas terras tradicionalmente ocupadas.

“Ao invés de propor a compra de terras para indígenas, Lula poderia propor, como fez há vinte anos, a aquisição de terras não tradicionais para assentar os não indígenas de boa fé que eventualmente tenham recebido títulos do Estado e que serão impactados pela demarcação das terras indígenas. Conforme destacado por Lula, o governo federal já promoveu o reassentamento de famílias impactadas e tal solução está totalmente protegida pela legislação”, argumentou o Cimi em nota.

Governador

O governador Eduardo Riedel (PSDB) na sexta-feira (12) disse que não só apoia a proposta de Lula, como a defende desde que presidia a Federação da Agricultura e da Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul)

Há pouco mais de uma década, em 2013, apoiou a criação pelo Poder Executivo, na época chefiado por André Puccinelli (MDB), do Fundo para Aquisição de Terras Indígenas (Fepati). 

“É um caminho que a gente vem apontando há muito tempo. Que a gente comece por essas propriedades, e que a gente dê solução a isso”, afirmou Eduardo Riedel, em vídeo gravado em seu gabinete, na noite de sexta-feira (12).

“Ao invés de propor a compra de terras para indígenas, Lula poderia propor, como fez há vinte anos, a aquisição de terras não tradicionais para assentar os não indígenas de boa fé que eventualmente tenham recebido títulos do Estado e que serão impactados pela demarcação das terras indígenas.

Conforme destacado por Lula, o governo federal já promoveu o reassentamento de famílias impactadas e tal solução está totalmente protegida pela legislação”, argumentou o Cimi em nota.

O Cimi aproveitou para criticar Riedel, e lembrou que quando ele presidiu a Famasul, ajudou a organizar um evento chamado na época de “Leilão da Resistência”, contra as várias ocupações de terra que ocorria na época. 

“Lula, seu governo, todos os fazendeiros e todos os empreendimentos sobre terras tradicionais dos Guarani deveriam compreender que a reivindicação deles não será jamais momentânea. Que mesmo distantes de seus territórios, seu sentido de pertencimento a eles é incondicional, inegociável e transmitido de geração em geração. E que basta uma mínima mudança na correlação de forças para que sua resistência e suas ações autodeterminadas se manifestem e confirmem seu caráter permanente”, finaliza a nota do Cimi.
 

Reivindicações

O Cimi ainda listou cinco passos para uma solução definitiva para a conflito e crise humanitária na região do Sul de Mato Grosso do Sul, que para o órgão, vai além da compra de fazenda. 

A primeira delas é a demarcação de todas as fazendas reividicadas pelos Kaiowá e Guarani no Estado, nada menos que 900 mil hectares de terra, e que segundo eles, representa que menos de 10% do território que perteceu a estes dois povos. 

O Cimi ainda aproveitou ao citar este passo, para alfinetar o presidente da República mais uma vez, ao criticar o fato de a proposta ter sido feito dentro de uma unidade da JBS, em Campo Grande, que terá sua capacidade de abate ampliada, e a geração de empregos dobrada para 4,6 mil vagas diretas, por causa da habilitação para exportação para a China a partir desta planta. 

“Cabe ressaltar que o setor da pecuária, representado pelo frigorífico onde Lula discursou, ocupa mais de 60% das terras do estado”, ironizou a nota do Cimi. 

O Cimi ainda quer que o governo atue para tornar inconstitucional a Lei 14.701/2023, conhecida como “Lei do Marco Temporal”. O Cimi ainda quer que a União adote um parâmetro para demarcar terras indígenas a partir do julgamento do Supremo Tribunal Federal que considerou inconstitucional a tese do marco temporal. 

Mas não é só isso, o Cimi quer a garantia de recursos financeiros e técnicos para identificar, declarar e homologar as terras Kaiowá e Guarani “há décadas pendentes”. 

O órgão ainda pede para Lula ordenar ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowiski, que declare a Terra Indígena Ypoi - Triunfo, no município de Paranhos, fronteira com o Paraguai. Segundo o Cimi, a reserva “se encontra há um ano sem sinal de andamento junto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJ), depois de décadas negligenciada no âmbito da Funai”.

Por fim, o órgão da Igreja Católica quer que o governo federal providencie os meios, recursos e terras para realocar pessoas de boa-fé, “não envolvidas em conflitos armados contra os Guarani e Kaiowá e que foram impactadas pelo processo de demarcação”. 

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Novo Pac

Com recurso de R$ 800 mil, rotunda passará por processo de estudo para viabilizar revitalização

Iphan-MS e a Prefeitura de Campo Grande debateram ações de planejamento com o recurso liberado pelo governo Federal por meio do Novo Plano de Aceleração do Crescimento, para realizar estudo de revitalização da área

15/04/2024 18h20

Com R$ 800 mil de investimento liberado a rotunda passará por estudos que viabilizem a restauração do espaço Marcelo Victor / Correio do Estado

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Com investimento de R$ 800 mil liberado pelo Novo Plano de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), a rotunda deve passar por uma revitalização. O planejamento passou por discussão entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Mato Grosso do Sul (Iphan-MS) e a Prefeitura Municipal de Campo Grande.

A reunião ocorreu três dias após parte do complexo desabar entre o Iphan e a Prefeitura da Capital, para debater ações emergenciais em partes do Complexo Ferroviário da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, bem cultural tombado pelo Instituto em 2009.

O projeto receberá R$ 800 mil em investimento que já está aprovado, para que seja elaborado estudos da arquitetura do espaço de desta forma desenvolvam projetos para a restauração do patrimônio histórico. 

“Esse é o passo número um para as obras. Então, a Sectur está cadastrando essa ação junto ao Governo Federal para permitir o repasse do recurso à administração municipal, que licitará os projetos de arquitetura. E esse estudo será feito numa construção em conjunto entre o Iphan, prefeitura e sociedade civil organizada para pensar na melhor ocupação e usos para aquela região tão importante da nossa cidade”, explica o superintendente do Iphan-MS, João Santos.

A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), destacou que é fundamental para o município, em parceria com órgãos de competência na área, a realização de um projeto para que seja feita a revitalização de toda a área. 

“A prefeitura tem o objetivo de preservar e quer que a população tenha acesso a esses locais, que são nosso patrimônio histórico e cultural. Por isso, o Executivo está à disposição com as equipes técnicas e fará esse compromisso para que, no futuro, esse complexo possa voltar a ter vida na capital”, explicou Adriane.

A chuva do dia 7 de abril, acarretou no desabamento de parte do teto do local que no passado funcionava como abrigo das locomotivas. Estiveram presentes na reunião os representantes da secretaria Municipal de Obras (Sisep), a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur) e a Subsecretaria de Gestão e Projetos Estratégicos (Sugepe).

Interdição

Um dia após o desabamento que ocorreu na região da Rotunda Ferroviária de Campo Grande, a Defesa Civil foi até o local e interditou os galpões históricos que compõe o complexo na Capital

Importante explicar que esse complexo da Rotunda da Ferroviária chegou a ser reservado, nos planos da Prefeitura Municipal, para abrigar um Museu Interativo com instalações multimídias que deveria contar toda a história da ferrovia noroeste do Brasil. 

Histórico


Memória cultural de todo um sistema econômico, o complexo da Rotunda foi financiado em 1939, pelo então governo de Getúlio Vargas, durante o regime de Estado Novo, com as obras iniciando entre 1941 e concluídas dois anos depois. 

Esse espaço contempla a rotunda em si, que - comportando a época 13 locomotivas - fica sendo a maior edificação do local; além do girador de 20 metros de diâmetro. 

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), todo o complexo foi tombado como patrimônio (nas esferas Municipal, Estadual e Federal) após os movimentos de Campo Grande a partir de 1996, pelo Decreto número 3.249, de 13 de maio. 

Já em março de 1997 o Governo do Estado vai em direção ao decreto campo-grandense e publica a lei n.º 1.735, em 26 de março de 1997, tombando os sítios das estações do Complexo Ferroviário, Histórico e Urbanístico da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.


** Colaborou Marcelo Victor e Leo Ribeiro

 

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