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Crianças que lidam melhor com adversidade são menos vulneráveis, diz estudo

Pesquisa é realizada por neurologista e estuda 400 jovens de 12 a 18 anos

AGÊNCIA BRASIL

03/09/2017 - 20h00
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Um estudo mostra que crianças que são mais resilientes, isto é, que são mais fortes diante das adversidades, são menos vulneráveis aos problemas ao redor e à violência. A pesquisa estuda 400 jovens de 12 a 18 anos na cidade de Delfinópolis (MG) e é realizada pelo neurologista Marco Antônio Arruda.

É avaliada no estudo a intervenção da violência nas funções executivas, que são as habilidades cognitivas necessárias para controlar e regular nossos pensamentos, emoções e ações. Os estudantes são avaliados por meio de atividades dentro da sala de aula, que estimam o  seu desempenho escolar ao longo dos próximos anos. A partir das contatações, serão feitas intervenções junto aos pais e professores de adolescentes com disfunções, para reabilitar essas funções e retomar sua resiliência.

No estudo de Delfinópolis, foram distribuídos questionários para as próprias crianças, além dos pais e educadores, com o objetivo de verificar a capacidade delas de enfrentar adversidades e não sofrer ruptura no seu desenvolvimento. São crianças muitas vezes de classes sociais desfavorecidas, que não vivem com os pais e, a despeito disso, têm alto desempenho escolar e saúde mental normal.

“Crianças de alto desempenho escolar são mais resilientes; portanto, menos vulneráveis do que crianças com baixo desempenho escolar. Existe uma correlação direta de resiliência com desempenho escolar com saúde mental, com função executiva. Está tudo intrincado”, analisou o neurologista. A meta é acompanhar essas crianças nos próximos cinco a seis anos para avaliar se a intervenção junto aos adultos, para reverter disfunções executivas, teve sucesso ou não.

Boas funções

Outro estudo coordenado por Marco Antônio Arruda revelou a importância da observação das funções executivas na infância. Ele revelou que crianças com boas funções executivas durante os primeiros anos da vida escolar têm menos probabilidade de apresentar problemas e dificuldades ao longo da vida. A pesquisa foi feita entre 2013 e 2015, com 4 mil crianças da faixa etária de 5 a 12 anos de todas as escolas públicas do município de São Sebastião do Paraíso (MG).

O estudo permite avaliar aspectos do desenvolvimento da criança a partir do início do ensino fundamental 1 (1º ao 5º ano) que “têm grande valor de predição se elas vão ter bom desempenho na vida escolar”, disse Arruda. Dificuldades que muitas vezes não chamam a atenção de pais e educadores podem ser identificadas nessa fase

“Crianças que têm dificuldades nessa etapa vão ter dificuldades até na vida adulta”, afirmou Arruda. A pesquisa abordou funções executivas simples, que vão desde trocar de roupa e tomar banho, até atividades mais complexas, como escrever um livro.

Foi observada a capacidade de a criança se organizar no tempo e no espaço para executar uma tarefa, de regular as emoções, inibir comportamentos, prestar atenção e perseverar diante das dificuldades. A partir de questionários distribuídos aos pais e professores das 4 mil crianças sobre o comportamento delas em casa e na escola, o neurologista pôde estimar que há de normal ou anormal em suas funções executivas.

A vantagem de identificar precocemente crianças que vão ter problemas de aprendizado mais adiante é poder agir de forma preventiva, afirmou o médico. Isso facilita o desenvolvimento de programas de saúde pública com o objetivo de reabilitar essas funções, com apoio da família e da escola.

Disfunções

O neurologista também destaca, com base em pesquisa anterior, a correlação entre funções executivas e condição econômica, saúde mental e desempenho escolar. Crianças com disfunções mais frequentemente se tornam adolescentes e adultos com baixo autocontrole e são mais suscetíveis ao uso de drogas, tabado e álcool, à vida sedentária e à obesidade, segundo estudo feito em 2011 com 6 mil crianças e jovens de 87 cidades brasileiras. Elas acabam chegando à vida adulta com maior prevalência de hipertensão, problemas cardiovasculares, disse Arruda.

Outro dado revela que crianças das classes D e E têm risco 2,4 vezes maior do que as das classes A e B (ou o equivalente a mais 140%) de ter piores funções executivas. “Esse baixo funcionamento executivo funciona como perpetuação da pobreza seja na família, na comunidade, no país”, comentou o médico.

O risco de piores funções executivas também está relacionado com o grau de instrução do chefe da família. Crianças cujo chefe da família era analfabeto tinham risco 4 vezes maior (300% a mais) de ter baixas funções executivas, se comparadas com as famílias com chefe de família alfabetizado. O mesmo ocorre quando o chefe da família tinha ensino fundamental 1, em comparação com o que completou o ensino fundamental 2 (5º ao 9º ano). Com ensino médio incompleto, o risco de baixas funções executivas é de 2,3 vezes maior do que com esse nível completo.

Existe também correlação entre função executiva e saúde mental, indicou Marco Antônio Arruda. Crianças com alterações de saúde mental têm risco 12 vezes maior de ter problemas de disfunções executivas. Entre os problemas mentais, o neurologista citou problemas emocionais, de humor, depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Os adultos que tiveram problemas de disfunção executiva na primeira infância tinham mais problemas de saúde mental do que os que apresentavam funções normais.

Há correlação ainda da função executiva com o desempenho escolar. As crianças cujos professores as consideraram com desempenho escolar abaixo da média apresentavam risco 6 vezes maior, ou 500% a mais, de ter disfunção executiva.

Importância do estudo

Na avaliação da psicóloga especialista em jovens e adolescentes Elisa Bichels, membro da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins seção Rio de Janeiro (Abenepi-RJ), é fundamental ensinar educação emocional para as crianças.  “Hoje a gente pode capacitá-los para uma qualidade de vida diferenciada. Hoje, cada vez mais a gente sabe que a educação emocional pode gerar uma revolução social”.

“Por isso, o estudo do [neurologista Marco Antonio] Arruda é tão importante, porque ele fala de prevenção, que é uma coisa que a gente não tem em saúde mental, principalmente na população brasileira. Em todo o mundo, se fala em prevenção em saúde mental há muitos anos. E no Brasil, não. Os estudos para crianças e adolescentes são muito novos”.

"GUERRA CIVIL"

Maior ameaça à democracia no mundo é a polarização, diz o ator Wagner Moura

Ator diz que filme"Guerra Civil" soa um importante alarme sobre esses riscos

19/04/2024 10h30

Wagner Moura em "Guerra Civil", filme que chega aos cinemas brasileiros nesta semana Foto: Divulgação

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Para Wagner Moura, "Guerra Civil", filme que chega aos cinemas brasileiros nesta semana, soa um importante alarme sobre os riscos da polarização que assombra países como Estados Unidos e Brasil nos últimos anos.

"Este é um filme que mostra que a polarização é a maior ameaça à democracia no mundo moderno", diz ele sobre o longa dirigido por Alex Garland, um blockbuster americano que acena também para a realidade política brasileira, em sua opinião.

"Guerra Civil" conta a história de um grupo de jornalistas, do qual Moura faz parte, que tenta chegar a Washington para entrevistar o presidente dos Estados Unidos, um líder do qual não sabemos muito, mas que pelas dicas do roteiro é claramente fascista, nas palavras do ator baiano.

"Mas eu acho, sinceramente, que ligar esse personagem a figuras reais é um desserviço ao filme. Não há na trama uma agenda ideológica. E você sabe que eu sou uma pessoa que não tem medo de falar as coisas", diz Moura ao ser questionado sobre a proximidade do personagem com líderes que acirraram a era de polarização em que vivemos, como Donald Trump e Jair Bolsonaro.

O filme é uma distopia política cheia de imagens do que poderia ser os Estados Unidos caso o racha entre democratas e republicanos, ou liberais e conservadores, se acentue. Na trama, forças favoráveis e contrárias ao presidente vivido por Nick Offerman se enfrentam e destroem a nação. São várias as imagens de pontos icônicos do nacionalismo americano bombardeados, como a Casa Branca.

"A gente sabe muito bem o que é a polarização. O mundo todo sabe. E para os americanos o filme gera uma dissonância cognitiva, porque eles estão acostumados a ver essas cenas em filmes sobre guerras no Oriente Médio. Agora estão vendo em Washington", diz ainda Moura.

GUERRA CIVIL

- Quando Estreia nesta quinta (18), nos cinemas
- Classificação 18 anos
- Elenco Wagner Moura, Kirsten Dunst e Cailee Spaeny
- Produção EUA, Reino Unido, 2024
- Direção Alex Garland

MEIO AMBIENTE

MS avalia condições de pagamento antes de regularizar Fundo Pantanal

Até o momento, Governo não conseguiu recursos externos para financiar o Fundo, e conta com os R$ 40 milhões de investimento próprio; Expedições estão sendo feitas ao Pantanal para regulamentação

19/04/2024 09h30

Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fala sobre a criação de fundo biomas em Campo Grande Foto: Marcelo Victor / Correio do Estado

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Quatro meses após a sanção da Lei do Pantanal, o Governo do Estado ainda está avaliando as condições de pagamento aos produtores para regulamentar o Fundo Clima Pantanal.

No final de março, uma expedição percorreu os pantanais da Nhecolândia, do Paiaguás e do Abobral, pra reunir informações e elaborar o texto de regulamentação do fundo. 

Segundo o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Inovação (Semadesc), Jaime Verruck, a regulamentação do Fundo Clima Pantanal deve sair até o final desse semestre, e uma nova expedição, agora com o setor de Organizações Não Governamentais (ONGs) e ambientalistas como o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e o SOS Pantanal, será realizada no dia 22 de maio. 

“Nós temos que ver o que nós vamos pagar do Programa de Serviços Ambientais (PSA) e por isso fizemos aquelas expedições, e vai ter uma agora, com as ONGs, para a gente ver o que realmente vai ser remunerado aos produtores”, comentou Verruck. 

Ainda de acordo com o secretário, o Fundo Pantanal possui atualmente apenas o investimento realizado pelo próprio governo do Estado, de R$ 40 milhões, e a Semadesc tem trabalhado na divulgação, tanto do fundo, quanto da Lei do Pantanal, para tentar angariar recursos para a iniciativa, no entanto, Jaime Verruck aponta que ainda não houve nenhuma sinalização clara de aceitação. 

“Nós estamos apresentando em todos os fóruns para tentar conseguir recurso internacional. Nesse momento o que nós temos é os R$ 40 milhões do Governo do Estado.

Como a própria ministra destacou, hoje todo mundo está avançando na estrutura de seus fundos, então nós estamos apresentando, mas até agora não temos nenhuma sinalização clara de alocação de algum recurso”, esclareceu o secretário. 

A iniciativa de criação de fundos para conseguir recursos para a preservação de biomas, como Mato Grosso do Sul fez em relação ao Pantanal, é algo que vem sendo pensado para outros ecossistemas, como o Cerrado e a Caatinga, e que já foi posto em prática na Amazônia Legal, através do Fundo Amazônia. 

Em dezembro, no evento de sanção da Lei do Pantanal, a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MAMC), Marina Silva, afirmou que tinha sugerido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a criação de um fundo nacional para os biomas brasileiros, similar ao Fundo Amazônia. 

A ideia era de que com o fundo todos os biomas do país fossem contemplados e pudessem angariar recursos que seriam direcionados principalmente para a sua preservação, podendo inclusive, fazer parcerias com fundos estaduais já criados, como o Fundo Pantanal. 

A ministra relata que o debate que está sendo feito com os governos estaduais atualmente, está sendo direcionado para os planos de combate ao desmatamento em todos os biomas, e que nesse diálogo, surgiu o interesse de criação de fundo para esses ecossistemas. 

“A Amazônia tem um apelo muito grande e ela já tem um fundo, mas os demais biomas, se a gente fizesse uma composição, talvez a gente tivesse mais eficácia. Mas eu compreendo, porque cada bioma quer ter o seu fundo, quer ter seu espaço, e essa é uma discussão que a gente está fazendo com os consórcios de cada região”, informou a ministra. 

A deputada federal Camila Jara (PT), acrescentou ainda que existe uma legislação tramitando para a criação de um fundo que abrange todos os biomas brasileiros, e que está na Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados, sendo o parlamentar Pedro Campos (PSB-PE), o principal nome para ser o relator. 

“Eu acho que o melhor seria se a gente criasse um fundo biomas, e aí sim, em vez de ter uma ‘moqueca de dinheiro’ em cada fundo, a gente pudesse ter um fundo que pudesse receber, inclusive, recursos das emendas parlamentares, das emendas de bancada, para que a gente possa mudar a história do enfrentamento do desmatamento, do ataque ao Pantanal, que a gente possa virar essa página”, comentou Marina Silva, em seu discurso durante visita à Campo Grande, nessa quinta-feira.

O Fundo Amazônia, principal modelo de iniciativa voltada para captar doações para investimentos em ações de prevenção, combate e monitoramento do desmatamento e promoção da conservação, criado em 2008, recebeu até o fim de 2022 R$ 3,396 bilhões em recursos da Noruega, Alemanha e Petrobrás.

SERVIÇOS AMBIENTAIS 

Além da iniciativa do Fundo Clima Pantanal, o governo de MS também possui, desde dezembro de 2021, o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), que “visa a conservação das florestas e demais formas de vegetação natural privadas existentes, restauração ecológica das florestas e demais formas de vegetação natural privadas, conversão de pastagens e terras degradadas para usos alternativos da terra”, expõe o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul). 

Em junho do ano passado, o programa foi estendido para esforços de restauração e proteção da biodiversidade, clima e estoques de carbono no âmbito das bacias hidrográficas. O PSA abrange um total de 571.800 hectares de áreas que se comprometeram com a conservação ambiental.

Já de acordo com a Lei do Pantanal, a prioridade é a preservação dos corredores de biodiversidade, delimitados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Os produtores devem receber pela preservação da fauna e flora pantaneira, pela recuperação de pastagens degradadas, recuperação de vegetação nativa, entre outros. 

Não há mais informações sobre os critérios que serão adotados para a participação dos produtores no fundo.

SAIBA

De acordo com a lei, o Fundo Clima Pantanal poderá ter outras fontes de financiamento, como multas ambientais aplicadas pelo Imasul, emendas parlamentares, transferências de saldos de outros fundos e recursos de venda de crédito de carbono.

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