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Quase dois anos e meio depois

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Ações para minimizar impacto da lama ainda são necessárias em Mariana

Ações para minimizar impacto da lama ainda são necessárias em Mariana

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Eles ouviam barulho da água, dos pássaros, do agito de plantas. Fez-se o silêncio e o deserto. "Eu estava em casa e ouvi um barulho", diz José Nascimento. "Não tinha a dimensão do que ocorreu", recorda Mônica dos Santos. Moradores da cidade de Mariana hoje vagam, pelo olhar ou pela memória, pelo lugar que era mais do que endereço. Identidade se fez seca. Santuário se fez árido. Transparente se fez quente, espesso, oleoso e imbebível. Traumatizados e sob o risco do que poderia ter sido, sobreviventes do maior desastre ambiental da história do Brasil são como Fabiano e Sinhá Vitória, meninos e meninas sem nome a andar contra a seca mesmo diante de tanta água. Tinham Rio Doce no sobrenome e correndo no sangue. Acabou. O olhar virou dor e asco. Quase três anos após a tragédia de Mariana, monitoramento diário e ações para minimizar o impacto da lama ainda são necessários. O desastre exemplifica em caminhos manchados como a falta de responsabilidade ambiental pode afundar o leito e contaminar a nascente para uma consequência irreparável. Quanto custa perder o Rio Doce? Uma lição amarga que um país gigantesco como o Brasil precisa encarar para evitar que outros episódios como esse se repitam.

Quando a barragem da Samarco se rompeu, em 5 de novembro de 2015, e 62 milhões de metros cúbicos de lama invadiram o distrito de Bento Rodrigues (na cidade mineira de Mariana), muitas dúvidas surgiram. Algumas dessas questões estavam relacionadas ao impacto ambiental da tragédia. Em meio ao trabalho de resgate de vítimas e realocação de desabrigados, alguns órgãos se mobilizaram para mensurar as consequências da tragédia ao meio ambiente e à bacia do Rio Doce.

O desastre com a barragem de Fundão – pertencente à mineradora Samarco, cujas controladoras são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton – foi considerado o maior da história do Brasil. Foram 19 mortos, centenas de imóveis destruídos, milhares de pessoas desabrigadas e danos ambientais que, com a poluição do Rio Doce, se estenderam aos estados do Espírito Santo e da Bahia.

Em um primeiro momento, a verificação da situação das águas do Rio Doce acabou sendo feita por equipes que estavam em campo. Uma delas era a do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Sem saber a real dimensão que o desastre poderia ter, uma equipe de dois técnicos foi deslocada no dia 6 de novembro para verificar o nível das águas (e da lama) no Rio Doce.

Independentemente da qualidade da água, o temor naquele momento era que a onda de lama invadisse outras cidades (como Governador Valadares) e comunidades ribeirinhas. De acordo com o pesquisador Márcio Cândido, engenheiro do CPRM, era inviável fazer muitas avaliações naquele instante: “O nível de sedimentos era tão grande que nem era possível colocar um barco no Rio Doce”.

Paralelamente ao monitoramento do CPRM, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) intensificou os trabalhos e começou a analisar a qualidade da água diariamente. Com o passar dos dias, a Agência Nacional de Águas (ANA) passou a dar suporte para o CPRM, que chegou a deslocar dez pessoas para o monitoramento e começou a coletar dados sobre a qualidade das águas do rio. Os primeiros resultados do CPRM e do IGAM mostravam o que poderia ser visto a olho nu: o Rio Doce (que mesmo antes do acidente estava em situação degradante) estava muito comprometido pela lama da Samarco. Os níveis de turbidez da água (o quanto ela não está transparente), condutividade elétrica, oxigênio dissolvido, resíduos sólidos e de manganês estavam muito acima do aceitável.

Mesmo diante do desastre, uma informação acalmou um pouco os técnicos. Metais tóxicos como mercúrio e chumbo estavam nos níveis normais. “Vimos que o impacto foi mais físico e social do que químico. Houve impacto, mas quimicamente não foi tão danoso. Nas análises químicas não foi detectada nenhuma alteração fora do comum de metais que possam ser absorvidos.”, afirma Cândido. O pesquisador aponta que o tipo de mineração na região foi decisivo para que o Rio Doce não sofresse um impacto ainda maior: “Se fosse uma mina de ouro que tivesse barreado em Mariana, o acidente teria um impacto, dadas as proporções, semelhante ao desastre de Chernobil por causa dos elementos utilizados na extração de ouro”.

Pesquisa

Extrema pobreza cai a nível recorde; dúvida é se isso se sustenta

O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300

19/04/2024 18h00

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Foto: Favela em Campo Grande - Gerson Oliveira/Correio do Estado

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A expressiva alta da renda em 2023 reduziu a pobreza extrema no Brasil ao seu nível mais baixo da série histórica, a 8,3% da população. O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300. Apesar da queda, isso ainda equivale a praticamente a população do Chile.

O cálculo é do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), do IBGE.

Em relação a 2022, 2,5 milhões de indivíduos ultrapassaram a linha dos R$ 300, numa combinação de mais transferências pelo Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e queda do desemprego. A grande dúvida é se o movimento —e mesmo o novo patamar— seja sustentável.

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Todas as classes de renda (dos 10% mais pobres ao decil mais rico) tiveram expressivos ganhos; e o maior deles deu-se para os 5% mais pobres (38,5%), grandes beneficiados pelo forte aumento do Bolsa Família —que passou por forte expansão nos últimos anos.

Entre dezembro de 2019 (antes da pandemia) e dezembro de 2023, o total de famílias no programa saltou de 13,2 milhões para 21,1 milhões (+60%). Já o pagamento mensal subiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 14,2 bilhões, respectivamente.

Daqui para frente, o desafio será ao menos manter os patamares de renda —e pobreza— atuais, já que a expansão foi anabolizada por expressivo aumento do gasto público a partir do segundo semestre de 2022.
Primeiro pela derrama de incentivos, benefícios e corte de impostos promovidos por Jair Bolsonaro (PL) na segunda metade de 2022 em sua tentativa de se reeleger. Depois, pela PEC da Transição, de R$ 145 bilhões, para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse gastar mais em 2023.

Como esta semana revelou quando governo abandonou, na segunda-feira (5), a meta de fazer superávit de 0,5% do PIB em suas contas em 2025, o espaço fiscal para mais gastos exauriu-se.

A melhora da situação da renda dependerá, daqui para frente, principalmente do mercado de trabalho e dos investimentos do setor privado. Com uma meta fiscal mais frouxa, os mercados reagiram mal: o dólar subiu, podendo trazer impactos sobre a inflação, assim como os juros futuros, que devem afetar planos de investimentos empresariais e, em última instância, o mercado de trabalho.

Apesar do bom resultado em 2023, algumas análises sugerem que o resultado não deve se repetir. Segundo projeções da consultoria Tendências, a classe A é a que terá o maior aumento da massa de renda real (acima da inflação) no período 2024-2028: 3,9% ao ano. Na outra ponta, a classe D/E evoluirá bem menos, 1,5%, em média.

Serão justamente os ganhos de capital dos mais ricos, empresários ou pessoas que têm dinheiro aplicado em juros altos, que farão a diferença. Como comparação, enquanto o Bolsa Família destinou R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de domicílios em 2023, as despesas com juros da dívida pública pagos a uma minoria somaram R$ 718,3 bilhões.

A fotografia de 2023 é extremamente positiva para os mais pobres. Mas o filme adiante será ruim caso o governo não consiga equilibrar suas contas e abrir espaço para uma queda nos juros que permita ao setor privado ocupar o lugar de um gasto público se esgotou.

Voos em queda

Aeroportos de Mato Grosso do Sul enfrentam desafios enquanto Aena Brasil lidera crescimento nacional

No acumulado do ano de 2024, o volume de passageiros chegou a mais de 395 mil passageiros em Mato Grosso do Sul, com um aumento de 4,8% no número de operações realizadas nos três aeroportos do Estado

19/04/2024 17h41

Os três aeroportos de Mato Grosso do Sul mantiveram um desempenho estável no acumulado do ano, com um aumento significativo nas operações. Foto/Arquivo

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A Aena Brasil revelou hoje os números da movimentação nos aeroportos até março de 2024, destacando-se como a empresa com a menor redução de passageiros no país. No entanto, o aeroporto de Ponta Porã, sob sua administração, enfrentou uma redução significativa de 42,4% no fluxo de passageiros em março deste ano.

Esta tendência também foi observada na capital sul-mato-grossense, onde o volume de passageiros em Campo Grande caiu 5,5%, totalizando 118.529 passageiros, e no aeroporto de Corumbá, com uma redução de 14,3%.

Além disso, as operações aeroportuárias também estão em declínio, com quedas de 15,9% em Ponta Porã, 10,6% em Corumbá e 8,7% na capital, no volume de operações.

Apesar desses desafios, no acumulado do ano, a Aena Brasil aponta que o aeroporto internacional de Campo Grande registrou uma redução de 3,0% no fluxo de passageiros e de 3,5% no número de operações aeroportuárias.

Já o aeroporto de Ponta Porã apresentou uma queda de 27% no fluxo de passageiros, mas com um saldo positivo de 4% no número de operações. Além disso, o aeroporto de Corumbá, considerado a capital do Pantanal, registrou um aumento de 4,9% nas operações.

No total, a movimentação nos três aeroportos de Mato Grosso do Sul alcançou 395.388 passageiros e 5.043 operações realizadas.

Veja o ranking nacional:

Aena tem crescimento de 6,3% na movimentação em todo o Brasil

Enquanto isso, em nível nacional, a Aena Brasil experimentou um crescimento impressionante de 6,3% na movimentação. Os 17 aeroportos administrados pela empresa no Brasil registraram 10,4 milhões de passageiros no primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 6,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em relação ao número de pousos e decolagens, nos três primeiros meses houve alta de 5,4%, com um total de 115,5 mil movimentos de aeronaves. Considerando somente o mês de março, o crescimento chega a 6,1% no total de passageiros (3,4 milhões), em relação ao mesmo mês de 2023, e a 1,7% no volume de pousos de decolagens (38,9 mil).

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