Mais do que uma figura caricata vestindo colorido e que só faz coisa engraçada, o palhaço é um elo entre as gerações. Parece que sempre haverá lugar no tempo e espaço para ele.
Em Mato Grosso do Sul, esse personagem segue vivo no picadeiro dos tradicionais circos de lona, nos teatros e no único festival localmente dedicado a ele na atualidade: o Pantalhaços – mistura de seu nome com a referência do Pantanal.
Há 10 anos, a primeira edição do evento reuniu espetáculos de palhaçaria e oficinas de formação que ensinavam essa arte. Este ano, será realizado pela sexta vez entre amanhã e quarta (25), em Campo Grande, mantendo a mesma proposta.
Como destaque, o 6ª Pantalhaços vai promover intercâmbio de apresentações de palhaços do Brasil (vindos de São Paulo, Alagoas, Ceará, Rio de Janeiro e atuantes aqui no Estado) e de quatro diferentes países (Espanha, Uruguai, Argentina e Equador). Serão oferecidos mais de dez espetáculos estrelados por eles ao público, gratuitamente. Artistas também poderão participar de oficinas e bate-papo previstos na programação. Haverá, ainda, um cortejo de palhaços, a Palhasseata, pela Orla Morena.
“Tanto quem vai para assistir e rir quanto quem quer aprender ou aprimorar a arte da palhaçaria é contemplado no festival”, explica Laila Pulchério, a produtora do Circo do Mato, grupo campo-grandense que organiza a mostra junto à Flor e Espinho, também uma companhia da Capital. O evento é realizado com recursos do Fundo Municipal de Investimentos Culturais (Fmic).
NASCEU DA PANTALHAÇOS
O palhaço Challito, vivido pelo ator Charles Souza, é um dos personagens que nasceu a partir de oficina promovida pelo 1º Pantalhaços. Seu criador, que é de Nova Andradina, trabalha com ele até hoje, levando espetáculos para o interior sul-mato-grossense.
Challito é um palhaço que não se contenta apenas com o cômico. É alegre, mas também politizado e ácido, segundo Charles. “Ele se apresenta de forma bufônica. Mostra questões sobre racismo, educação infantil, política. Isso tudo sem falar nada. Enquanto as crianças riem do que é engraçado, os adultos que estão com elas refletem sobre algo”.
Assim como o personagem, os palhaços Teteia, do ator Mauro Guimarães, e andarilho (sem nome), de Anderson Lima, ganharam forma graças à iniciativa. Inclusive, os dois atores que os interpretam fazem parte dos grupos que produzem o festival.
“Eu e alguns integrantes do Circo do Mato fazíamos parte de um outro grupo teatral em 1999, quando fomos para a Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro para aprender técnicas circenses. Mas ainda não havia aula de palhaçaria lá. Aí, tivemos a ideia de fazer isso aqui”, explica Mauro, sobre a primeira relação com a palhaçaria. Depois que voltaram, fundaram o Circo do Mato e, pouco depois, deram início ao Pantalhaços e aos espetáculos de Teteia.
Anderson, que é do grupo Flor e Espinho, participou também da concepção do festival. Ele afirma que aprendeu com muitos dos artistas a que assistiu e se inspirou neles para criar o espetáculo “Bebê a Bordo”. Em uma temporada solo, também teve a oportunidade de conhecer palhaços de todas as regiões do País e de se apresentar para diferentes públicos. “Saí de Kombi com o espetáculo e com um cinema móvel”, conta.
Para Mauro, o palhaço ajuda as pessoas a se encontrarem. “A gente precisa do riso para sobreviver, é tanta coisa difícil na vida. Vemos o nosso melhor e entramos em contato com nós mesmos com a ajuda do personagem”. Anderson complementa: “O palhaço é a verdade que a gente tem. Ele não pode esconder nada, nenhum defeito. Ele revela a verdade para subverter a ordem”.
PROGRAMAÇÃO PARCIAL
Quinta-feira (19)
16h – “Pequenas Coisas Espetaculares” (Palhaço Purunga/SP) – no Salão Social da Comunidade Tia Eva
19h – Palhasseata pela Orla Morena
20h – “Bom Apetite” (Pepe Nuñez, Espanha/Brasil), na Orla Morena
Sexta-feira (20)
15h – “100 Virtuose 2.0” (Palhaço Challito/MS) – no Ceinf Cordeirinho de Jesus
20h – “Picadeiro Mágico” (Top Circo /MS) –
na Avenida Manoel da Costa Lima com a Rua Estevão Ribeiro, Vila Piratininga
Sábado (21)
16h – “Mulheres Sapiens Erectus” (Aplausos Cia Teatral/MS), na sede da cia. Teatral Grupo
de Risco
20h – “H2OBOOM” (Mauro Cosenza, Uruguai/Brasil), na Orla Morena
Domingo (22)
16h – “Ludicando por Aí” (Palhaço Dentinho/MS), na sede da cia. Teatral Grupo de Risco
19h – Aula-espetáculo com Biribinha, na Orla Morena