Feita sob medida para afagar o ego do atual Diretor de Teledramaturgia Diária da Globo, Silvio de Abreu, o “remake” de “Éramos Seis”, trama baseada no livro de Maria José Dupré e adaptada por Abreu nos anos 1970, se revelou uma missão arriscada para a autora Ângela Chaves. Muito fiel ao trabalho de Abreu, Chaves escreveu a nova versão da trama com a cabeça nas adaptações feitas pela Tupi, em 1977, e pelo SBT, de 1994. Mesmo que o público das seis seja mais velho, tradicional e acostumado a tramas desenvolvidas de forma mais “lenta”, a atual trama do horário abusou de um esquema de teledramaturgia que já não consegue segurar o público de fato. Como nas novelas de antigamente, a triste história de Lola, protagonista de Glória Pires, e sua família, concentrou grande parte das sequências dos primeiros capítulos da produção. Sem variar os núcleos e as emoções, acabou por entregar uma obra monótona e extremamente dramática.
Há quatro meses no ar e com audiência média abaixo dos 20 pontos no Ibope, só agora que a Globo começou a realizar as alterações previstas para novelas cujo resultado está aquém do esperado. Normalmente, a Direção de Teledramaturgia “mexe” na história após o primeiro grupo de discussão, que ocorre após cerca de dois meses depois do início de exibição. Entre os grandes acertos da atual fase de “Éramos Seis” está a aproximação de Lola e Afonso, personagem de Cássio Gabus Mendes. Depois de formarem par romântico em tramas como “Vale Tudo”, “Desejos de Mulher” e “Babilônia”, os dois voltam a viver um casal e colocam toda a boa sintonia conquistada ao longo dos anos a serviço de seus personagens. Com atuações inspiradas, ambos acabam valorizando seus núcleos e parceiros de cena. O namoro entre a dupla só estava previsto para o final da trama, como uma espécie de final feliz para a protagonista. A falta de romances reais e plenos do roteiro, acabaram antecipando os laços.
Se tivesse um pouco mais de liberdade desde o início, Ângela Chaves poderia ter um grande “remake” em mãos. Personagens e elenco para isso a novela sempre teve. Mesmo limitando o potencial dramático, alguns temas se destacaram de forma natural, como a difícil relação de mãe e filha protagonizada por Emília e Justina, de Susana Vieira e Julia Stockler. Na mesma linha, o romance pueril e bem-humorado de Zeca e Olga, papéis de Eduardo Sterblitch e Maria Eduarda de Carvalho, poderia ter conquistado ainda mais o público. Por fim, é muito bem-vindo o novo momento da oprimida Clotilde, de Simone Spoladore, um papel na medida para a grande atriz que é. Com estética bem idealizada e que segura a qualidade ao longo da exibição, “Éramos Seis” honra a tradição das novelas de época da faixa das 18h. E mesmo que não tenha razão de existir mais uma versão de uma trama já amplamente adaptada, é uma obra que pode até não entrar para a eternidade, mas pelo menos entrega um trabalho elegante e sincero ao público.