Em plena Avenida Afonso Pena, sem dizer uma só palavra, há 30 anos, um monumento remete à imigração japonesa. Abstrata, a Vibração Cósmica é quem dá as boas-vindas na fachada da prefeitura e mostra o quanto ainda temos para conhecer da história da cidade.
Estátuas, bustos, edificações, efígies e esculturas que falam por si sobre quem somos. Catalogadas, são mais de 40 obras a contar da fundação da cidade e seus imigrantes, passando pela poesia até chegar ao prato típico.
Com o olhar voltado para a arquitetura e a história, Maria Augusta de Castilho e Natacha Oliskovicz foram às ruas. Orientadora e orientanda, respectivamente, as duas reuniram no livro “Campo Grande e Seus Monumentos” um trabalho do patrimônio histórico e cultural de Campo Grande, e é ele quem traz o significado da escultura em frente à prefeitura.
Projetado por Yutaka Toyota, a escultura representa os registros da migração japonesa, revelando o compromisso com a etnia e com a preservação de sua identidade cultural, aliando tradição e modernidade.
O QUE É UM MONUMENTO?
Para ser considerado, é preciso que o objeto tenha um significado de pertencimento para a população. “Na Praça do Rádio, por exemplo, você tem o da Imigração Japonesa, e foi a colônia que o ofereceu para a cidade. Próximo ao Horto, tem o Carro de Boi, que vive quebrado, e ele conta a fundação de Campo Grande e tinha que ser valorizado”, ressalta a professora de Patrimônio Cultural do mestrado da UCDB, Maria Augusta de Castilho.
O livro lista 46 monumentos, seus contextos históricos, manutenção, estado de conservação e iluminação.
O trabalho destaca pontos vistos durante o dia e também à noite e revela que, na maioria deles, nada se enxerga depois que o sol se põe.“Em algumas cidades do mundo, quando você vê os monumentos já identifica: Torre Eiffel? Paris. Cristo Redentor? Rio de Janeiro. Nosso objetivo maior é fazer com que a população conheça seus monumentos”, resume a professora.
No entanto, isso está longe de acontecer. “A maioria das pessoas nem sabe deles, quais elas conhecem? ‘O Aprendiz’ foi a maçonaria quem fez, mas ele é do município; o da UFMS também, todo mundo conhece, mas chama de ‘Paliteiro’, quando na verdade foi um italiano quem fez, inclusive com algumas normas científicas”, aprofunda.
As duas autoras não são nascidas na Capital, mas se consideram campo-grandenses pelas décadas já vividas aqui. Arquiteta, Natacha Oliskovicz trabalha com iluminação e desenvolvimento local e se surpreendeu positivamente.
“O que normalmente a gente sabe é sobre uns 15; o que me surpreendeu muito foi o do Papa, que esteve aqui, fez uma missa campal e fizeram a estátua na praça. Ela é muito bonita, mas está no escuro”, compartilha. A segunda estátua que também lhe chamou a atenção foi da índia instalada no estacionamento do Mercadão. “Eu não sabia que ela existia e tem tudo a ver com o Estado”, comenta.
No trabalho, a coautora pode observar que os mais conhecidos pela população são justamente os que ficam no eixo central da cidade. “Dos 46 [monumentos], 27 estão na região, que é a mais histórica. Os que foram colocados fora dali acabam ficando desconexos”, detalha.
Erguidos em homenagem a alguma pessoa ou fato, a pesquisa aponta que, quando elaborados, os monumentos não contavam com projeto de iluminação. “A preocupação era iluminar as vias para os automóveis. Agora é que estamos com um olhar mais criterioso, direcionado para valorização das cidades”, destaca.
No livro, as autoras propõem fazer uma leitura dos objetos: onde se localiza? De que forma pode ser destacado? “Durante o dia, o sol faz o papel dele, com iluminação natural, não poderia também ser valorizado?”, questiona Natacha. A iluminação resolveria até mesmo a questão do vandalismo.
“O projeto de uma cidade bem desenvolvida faz com que as pessoas não fiquem em casa, circulem e afastem essa negatividade do vandalismo”, aponta.
Sem apontar certo ou errado, Natacha avalia que iluminar e propor uma comunicação visual completa com placas de identificação faria dos monumentos pontos de referência por toda cidade.
“E isso não só direcionado ao turista e no local, mas à região, dizendo que ali tem isso. Falta essa conexão, e, no período noturno, a luz faria este papel, direcionando uma para a outra”, finaliza.
CAMPO GRANDE E SEUS MONUMENTOS
A obra será lançada nesta quarta-feira (19), às 19h30min, no Anfiteatro da Biblioteca da UCDB. De autoria das professoras Maria Augusta de Castilho e Natacha Oliskovicz, o livro apresenta um estudo inédito dos monumentos de Campo Grande, com ficha técnica completa que identifica 46 deles, para incentivar a valorização e a conservação. A entrada é gratuita. A UCDB fica na Avenida Tamandaré, 6.000.