Fernanda Montenegro é um dos maiores orgulhos brasileiros. A atriz é a única brasileira indicada ao Oscar em categoria de atuação, primeira a ganhar um prêmio Emmy como melhor atriz e tem personagens fortes em quase 80 filmes, novelas e minisséries e centenas de peças de teatro.
Arlette Pinheiro - seu nome de batismo - completa 90 anos nesta quarta-feira (16) sem precisar se ancorar em glórias do passado. Até o final deste ano, ela estreia dois filmes. E guarda um terceiro para 2020.
A atriz não é do tipo que espera comemoração dos outros. Antecipou-se ao aniversário e lançou, em celebração da data, uma espécie de autobiografia: "Prólogo, ato, epílogo: Memórias", pela Cia das Letras.
Por suas páginas, Fernanda conta a história de sua família na Europa, os primeiros encontros com Fernando Torres (de quem é viúva), a trajetória artística e também a batalha quase eterna de ser mãe em meio a tudo.
Início da carreira
Nascida no Rio de Janeiro em 16 de outubro de 1929, Fernanda Montenegro é considerada uma das damas do teatro brasileiro. Filha de pai português e mãe italiana, tem como nome de batismo Arlette Pinheiro Esteves Torres.
Aos 15 anos de idade, ingressou na Rádio Ministério após participar de um concurso para radialistas. “Fiz um teste, li um poeminha. Achava que não daria pra nada, fui para casa. Dois meses depois, recebi telegrama pra me apresentar. Levei um susto”, recorda. Fernanda permaneceu na rádio por dez anos. Lá foi locutora, rádio atriz, redatora e adaptou contos e romances.
Foi nessa época que escolheu o nome artístico. “Eu redigia como Fernanda Montenegro. E era locutora como Arlette Pinheiro. E Fernanda Montenegro foi o que pegou.”
Em 1953, aos 23 anos de idade, se casou com o também ator Fernando Torres. Em agosto de 1962, a atriz deu à luz seu primeiro filho, Cláudio Torres, hoje diretor e produtor de cinema e publicidade.
Em 1965, nasceu Fernanda Torres. A caçula de Montenegro seguiu os passos da mãe e se tornou atriz, além de apresentadora e escritora.
Envelhecer
Em dezembro de 2012, ao falar sobre a personagem Dona Picucha, de "Doce de Mãe", Fernanda fez comentários sobre sua relação com a idade.
TELEVISÃO
'Babilônia' - 2015
Nesta novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, a personagem de Fernanda viveu um romance com a de Nathalia Timberg. As atrizes veteranas protagonizaram um beijo muito repercutido na época.
'Saramandaia' - 2013
Na segunda versão da novela, atualizada por Ricardo Linhares, a atriz era Candinha Rosado, autoritária e líder de uma das famílias mais importantes da cidade de Bole-Bole.
'Doce de mãe' - 2012
Começou como um especial de fim de ano, virou série e rendeu um Emmy de melhor atriz para Fernanda. Ela interpretou Dona Picucha, uma viúva que começa a se atrapalhar com pequenas coisas da vida e decide morar em um asilo.
'Passione' - 2010
A atriz teve grandes trabalhos pelas histórias de Sílvio de Abreu. Em "Passione", comandou, com Tony Ramos, a história de mãe e filho que se desconheciam.
'Belíssima' - 2006
Em 2006, Fernanda viveu uma das vilãs mais icônicas da dramaturgia brasileira. A matriarca da família Assunção era gananciosa, preconceituosa e sem escrúpulos - ela chegou a abandonar uma filha recém-nascida. A morte de sua personagem levou a uma pergunta crucial para a trama: "Quem matou Bia Falcão"?
'Zazá' - 1997
Fernanda dominou a faixa das 19h. Em "Zazá", de Lauro César Muniz, era Marisa Dumont, herdeira excêntrica da herança de Santos Dumont.
'Renascer' - 1993
Quando a novela das 21h ainda era das 20h, Fernanda viveu Jacutinga, dona de um bordel durante a primeira fase de "Renascer", de Benedito Ruy Barbosa. A participação especial foi rápida, mas bem elogiada.
'Cambalacho' - 1986
Ao lado de Gianfracesco Guarnieri, viveu a trambiqueira Naná na novela de Sílvio de Abreu, outro sucesso das 19h. Pobre e cheia das mutretas, a personagem tinha bom coração e ajudava crianças abandonadas. Mais uma vez Fernanda mostrava seu lado cômico e irônico. O sucesso da novela popularizou a expressão no país.
'Guerra dos Sexos' - 1983
"Guerra dos sexos" foi um marco das novelas das 19h. Fernanda dividiu o protagonismo com Paulo Autran, vivendo um casal de primos divididos entre amor e ódio e unidos por uma herança milionária. Charlô, a personagem, era feminista e desafiava a ordem da época.
'Brilhante' - 1981
Na trama de Gilberto Braga, ela foi Chica Newman, milionária controladora com ares de vilã. Ela era mau-caráter e tinha horror só de pensar em perder dinheiro e poder. Lutou ferrenhamente contra a censura à novela, que não podia citar a palavra homossexual. Inácio, vivido por Dennis Carvalho, era gay e filho de Chica. Fernanda lutou para que o texto seguisse na íntegra.
'Baila comigo' - 1981
A novela de Manoel Carlos foi a estreia de Fernanda na TV Globo. Na trama, ela tinha uma personagem secundária que foi ganhando espaço, a ex-atriz Sílvia Toledo.
CINEMA
'O amor nos tempos de cólera' - 2007
Um filme do diretor Mike Newell, baseado no romance de Gabriel García Márquez, com Javier Bardem e Benjamin Bratt e filmado na Colômbia. No filme, a brasileira foi Tránsito Ariza e brilhou mesmo em inglês.
'O outro lado da rua' - 2004
No suspense de Marcos Bernstein, vive Regina, mulher solitária que participa de um programa da polícia para denunciar pequenos delitos. O longa tem Raul Cortez e Laura Cardoso, e rendeu a Fernanda prêmios em festivais nacionais de cinema.
'O auto da compadecida' - 2000
A comédia de sucesso de Guel Arraes estrelada por Matheus Nachtergaele e Selton Mello tem uma participação super especial da atriz: ela é ninguém menos que Nossa Senhora, a própria Compadecida.
'Central do Brasil' - 1998
O filme mais prestigiado do Brasil, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor atriz por seu trabalho como a personagem Dora. Ele narra a jornada da professora aposentada Dora e do menino Josué, que acaba de perder a mãe e precisa encontrar o pai.
'O que é isso companheiro' - 1997
Dirigido por Bruno Barreto, concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1998. No longa sobre o sequestro real de um embaixador americano por guerrilheiros, a atriz é Dona Margarida.
'Eles não usam Black-tie'
Baseado na peça de Gianfrancesco Guarnieri, o filme fala sobre uma greve em uma fábrica e as consequências para as famílias de operários. Fernanda interpreta Romana, a matriarca da família principal. O longa foi indicado ao Leão de Ouro no festival de Veneza e venceu outros prêmios.
'A falecida' - 1965
Em 1965, interpretou Zulmira, personagem de Nelson Rodrigues em filme de Leon Hirszman e Eduardo Coutinho. Com uma vida pobre, o último desejo da personagem é ter um enterro luxuoso. Este foi seu primeiro filme.