Fora do palco, Luiz é ator, gestor cultural, locutor e dublador. Em cena, é o vendedor de sonhos, personagem do autor e médico psiquiatra Augusto Cury na obra que leva o mesmo nome. Adaptado da literatura para o cinema e posteriormente ao teatro, o vendedor de sonhos é um mendigo que, como mestre, oferece a solução de “começar de novo” ao psicólogo (interpretado por Mateus Carrieri), que está prestes a cometer suicídio.
Reflexivo, o espetáculo chega a Campo Grande neste sábado, dia 23, para emocionar até mesmo quem ainda não teve contato com o pensamento de Cury.
“Eu conhecia Augusto Cury de ter visto vídeo e lido alguns trechos de textos dele. Eu não era um leitor, li para o espetáculo e confesso que fiquei bastante seduzido pela filosofia dele”, explica o autor Luiz, 60 anos.
Considerado “best-seller”, Cury é um dos escritores mais lidos da década. A adaptação para o palco foi feita por ele mesmo, em parceria com Cristiane Natale e Erikah Barbin.
Depois que as cortinas se abrem, o pensamento do autor vai além da autoajuda tão proclamada na venda do livro, garantem os atores. “O próprio livro, ‘O Vendedor de Sonhos’, além da proposta de vida do Augusto Cury, tem uma história interessante, um conflito e uma coisa passível de ser dramaturgia”, defende Luiz.
Com personagens “interessantes”, como classifica o intérprete do “mestre”, o teatro incorporou a técnica de gestão de emoção, proposta pelo autor. “A partir do momento em que estamos trazendo uma obra dele, estamos tratando de gestão de emoção, a ação da peça envolve e é uma coisa muito básica, simples e essencial para o ser humano, que é ter o controle, ser o motorista da sua vida”, descreve.
O ator recorre a exemplos para explicar: “imagina que você está à noite em uma estrada desconhecida, dirigindo, e está chovendo. Você tira o pé do acelerador, mas o carro acelera. Pensa a angústia, o desespero que isso dá? Nós precisamos estar no controle das nossas emoções, se não elas nos dominam”.
E não é de agora que Cury prega o “descontrole” e o quanto a sociedade está doente. Isso é dito por ele em palestras, vídeos e páginas: vivemos em um grande manicômio. “Você vê na sociedade coisas que não têm a menor razoabilidade. Vê a situação da escola de São Paulo [o ataque em Suzano], adolescentes que entram para matar todo mundo, como a gente explica isso?” questiona o próprio ator.
Para quem interpreta, é possível ver a emoção do público ao ser levado à reflexão. “O espetáculo tem momentos divertidos, mas as pessoas se emocionam demais. Tem gente que chora, sim, no fim você vê pelo olhar, pela apreensão da plateia que aquilo foi importante na vida delas”, relata o “mestre”.
Circulando pelo País desde julho do ano passado, o ator acredita que a receptividade do campo-grandense não fugirá do que eles têm visto de Norte a Sul. “Sempre têm pessoas esperando a gente para cumprimentar, tirar uma foto. Lembro-me de um senhor que me disse que já estava no carro, mas voltou e estacionou de novo porque precisava nos dar um abraço”, recorda Luiz. Outra cena que lhe vem à memória é de quando a peça passou por Santa Maria, cidade gaúcha que foi palco da tragédia na Boate Kiss.
“Terminou, nós agradecemos e uma pessoa levantou e disse: ‘nós que temos que agradecer. Precisamos disso, senhores pais, onde estamos deixando os nossos filhos?’ Ela fez um discurso emocionado e a gente se emocionou também, isso não é teatro?”.
Ao fim de cada apresentação, a sensação passada por quem interpreta é de que foi possível contagiar a plateia: ainda podemos reverter o rumo das coisas.