Miçangas, paetês, plumas, desenhos, muita criatividade e talento manual. A somatória destes ingredientes preenche, ao longo de todo o ano, grande parcela do tempo diário do carnavalesco Adão Barboza. Aos 54 anos, este campo-grandense – que também é cabeleireiro – coleciona vários primeiros lugares em concursos de fantasia carnavalesca na Capital e em Corumbá. Ao todo, são 25 anos de dedicação, o que lhe rendeu o título de hors-concours – o mesmo do também carnavalesco e vereador pela Capital Valdir Gomes, há 38 brilhando na Folia de Momo (Leia abaixo).
Neste ano, convidado pela Escola de Samba Igrejinha para voltar à avenida, Adão Barboza divide-se na confecção das fantasias da agremiação – que apresentará o tema “Arquitetando a Folia com Luis Pedro Scalise” – e do “Rei do Fogo”, como ele batizou sua fantasia exclusiva, que levará para Corumbá e para a passarela do samba da Capital como destaque. “Meus trabalhos têm início com uma pesquisa sobre aquilo que pretendo retratar. Desta vez, trata-se de um deus da mitologia, e utilizei as cores vermelho, dourado, marrom e laranja na criação”, explica Adão, que desenha, borda ponto a ponto e monta a fantasia sobre o carrinho.
A paixão por este universo da folia multicolorida começou há 25 anos. “Foi na Acadêmicos do Samba, do finado Goinha. Depois, fui para a Estação Primeira. Comecei saindo como destaque no chão e fui me aperfeiçoando, elaborando mais as fantasias”.
O empenho a que ele se refere está ligado a um contexto, uma história contada por meio da fantasia e da dedicação na confecção. “Quando termina um Carnaval, já começo a pensar no próximo. Para se ter uma ideia, atualmente estou finalizando três fantasias: a minha, a da Rebeca D’Albine [que sempre ganha concurso de fantasia feminino e é rainha de bateria da Vila Carvalho] e a de Rafa Giro [Luxo Masculino], que ganhou em Corumbá, ano passado”.
No dia a dia, Adão Barboza ganha a vida como cabeleireiro e, nas horas vagas, aproveita para dar cor e forma às fantasias. “Sempre gostei de fazer arte, mas peguei gosto mesmo pelas fantasias. É um mundo de sonho, de glamour. Primeiro, aprendi a bordar fantasias nas escolas, pedrinha por pedrinha, miçanga por miçanga. Fui me especializando nas escolas mesmo, vendo e me aperfeiçoando”.
NA PASSARELA
Colecionando vários títulos nos concursos de fantasia de Campo Grande e de Corumbá, Adão Barboza confessa que o encantamento do público ao ver suas criações desfilando é o que o motiva a continuar . Afinal, estas criações não são baratas – custam entre R$ 20 mil e R$ 30 mil –, exigem trabalho minucioso e pesam muito – de 100 a 120 quilos, contando com o carrinho. “É o trabalho de um ano inteiro mostrado por pouco mais de 5 minutos na passarela. Porém, é muito bom ver a empolgação da plateia, perceber que a pessoa está embasbacada com o que vê. O maior prazer do carnavalesco é fazer o povo sentir aquela emoção. São poucos minutos, mas os mais preciosos. É a maior glória ser aplaudido”.
NO BAÚ
Nesta trajetória de 25 anos no Carnaval, Adão Barboza contabiliza 20 grandes fantasias premiadas, mas apenas duas estão guardadas como verdadeiros tesouros, num baú na casa do pai. “São trabalhos grandiosos, lindos, que me renderam primeiros lugares na categoria Luxo Masculino: Rei Caspian e Rei da Rússia”. O prêmio para “Rei Caspian – O Peregrino da Alvorada” foi em 2012, em Campo Grande, concurso no qual também ficou com o segundo lugar, pela fantasia que confeccionou para Luxo Feminino.
Sobre nunca ter saído de Mato Grosso do Sul para participar de concursos de fantasia, Adão explica: Não tenho o sonho de participar de grandes carnavais. Lá, eu serei mais um. Gosto daqui, quero mais é divulgar meu Estado. Porém, minha trajetória rendeu um título de Destaque do Carnaval Brasileiro, pela Associação dos Destaques de São Paulo. Estou muito feliz!”.
PARA 2020
A Liga das Entidades Carnavalescas (Lienca) de Campo Grande pretende sugerir aos associados que, em 2020, seja lançado um Concurso de Fantasias, já que o município não promove o evento há alguns anos – apenas o de Corumbá continua firme e forte. “A intenção é institucionalizar o Troféu Transitório Valdir Gomes. Pensaríamos nisso este ano, para elaborar tudo com calma”, diz Eduardo Souza Neto, presidente da Lienca.
MAIS GLAMOUR
Sinônimo de criatividade, brilho e premiação na passarela do samba, o carnavalesco – e atual vereador por Campo Grande – Valdir Gomes é outro que coleciona títulos ao longo dos 38 anos dedicados à Folia de Momo, no Estado. Hors-concours, ele participará do concurso de fantasia em Corumbá, com “Anjo Negro” e será destaque em três escolas de samba de Campo Grande: Deixa Falar, Igrejinha e Vila Carvalho. “Dei meu toque pessoal à fantasia, que está sendo finalizada pelo carnavalesco Francis Fabian e equipe”, conta Valdir. Toda em preto e prata, é feita com strass e plumas de faisão (algumas naturais), para enriquecer ainda mais o trabalho.