Época de vazante, depois de uma cheia que ainda alaga a região, floração dos ipês e ninhais anunciando período de reprodução da fauna. Este é um dos melhores momentos para se visitar o Pantanal da Nhecolândia e Abobral, cortado pela Estrada-Parque (MS-184 e MS-228), em Corumbá. A inundação nutre a região com a renovação dos alimentos, e o ciclo da seca, já em processo, concentra centenas de animais e aves em torno de baías e lagoas.
O pulso de inundação – regime de cheias e secas – é um fenômeno natural que dá vida ao Pantanal, sem o qual ele não existiria. Esse vai e vem das águas leva o ecossistema – a maior extensão de inundação contínua do planeta – aos extremos. Na cheia, causada pelas chuvas que caem no alto da bacia do Rio Paraguai, a planície se transforma em um mar de água doce. Na seca – julho a janeiro –, ficam os banhados com pouca água, porém, fartos em alimentos.
Para os bichos que habitam esse paraíso – são 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos –, o início da estação de estiagem é uma festa. Quando a água evapora ou retorna ao leito do Rio Paraguai, fica no solo uma riqueza em microrganismos que alimentam toda a cadeia animal e vegetal. A flora também ressurge, exuberante, revelada no roxo e amarelo dos ipês entre os arbustos.
A natureza se revela
Conviver com esse cenário de cores e vida é uma oportunidade única, que pode ser agora vivenciada na Nhecolândia, um dos pantanais com maior concentração de biodiversidade e declividade que não passa de 33 milímetros por quilômetro. Essa região, uma das primeiras a serem ocupadas pelo homem, há, pelo menos, 250 anos, inunda nos primeiros meses do ano porque recebe água dos rios Aquidauana e Miranda e, portanto, seca mais cedo.
Nesse fim de férias escolares e nos próximos meses, vale a pena percorrer a Estrada-Parque para observação da fauna e flora. Saindo da BR-262, na localidade do Buraco da Piranha (100 km após Miranda), um passeio de carro por 40 km até o trevo da MS-184 com a MS-228 (Curva do Leque), reserva, com certeza, momentos prazerosos no contato com a natureza. No caminho, de cima das pontes de madeira, se observa jacarés, garças, tuiuiús, gaviões, ariranhas, colhereiros, biguás, capivaras...
Com o apoio de guias da região, é possível aventurar-se por alagados da estrada, em veículos traçados, compartilhando com as dificuldades do pantaneiro para transpor esse caminho das águas, geralmente a cavalo. É uma experiência inesquecível: bandos de porcos do mato e capivaras se refrescam no meio da via cascalhada e não se intimidam com sua presença. Nas margens, revoadas de pássaros em algazarra anunciam a fartura de peixes nos banhados.
SERVIÇOS
Unidade de conservação criada em 1993, a Estrada-Parque é o principal destino para contemplação da vida selvagem no Pantanal. Operando o ano todo, conta também com uma excelente estrutura de hotéis, pousadas e pesqueiros. São 120 km de estrada bem conservada e mais de 70 pontes para vazão da água. Os principais pontos de apoio são o Passo do Lontra, na beira do Rio Miranda (a 8 km da BR-262), e o Porto da Manga, atrativo de pesca esportiva.
Os hotéis-fazenda e pousadas aliam ecoturismo com pecuária, o que permite conviver com a rotina dos peões, oferecendo acomodações simples, porém, confortáveis, integradas com a natureza. A maioria disponibiliza sinal de celular e pistas para pouso de pequenas aeronaves. As opções de hospedagem incluem apartamentos com ar-condicionado, redário, dormitórios coletivos e áreas de camping. E a alimentação é saborosa, incluindo o quebra-torto.
Entre os passeios com guias, a cavalgada é, sem dúvida, um dos mais requisitados para observação dos bichos, incluindo a onça-pintada e o cervo. Período ideal também para contemplar os ninhais. Os pacotes oferecem ainda pesca com piranha, focagem noturna, pesca esportiva, safári fotográfico, caminhadas em passarelas suspensas e passeios de barco ou canoa. Mais informações na Fundação de Turismo de MS, telefone: (67) 3318.7600.