Para algumas pessoas, esta época do ano, com suas festas e comemorações, possibilita uma espécie de viagem no tempo. Elas relembram de instantes com a família, amigos, pessoas próximas e até de cenários marcantes. São instantes em que, muitas vezes, a alegria e a tristeza podem ganham força.
Os acontecimentos de fim do ano, com certeza, ficam para sempre guardadas na memória e no coração.
Por um motivo ou outro, para alguns, as datas do período surgem com lembrança pouco agradável e marcada pelo vazio da perda de pessoas queridas.
Esse foi o caso da infância e da adolescência do advogado e ex-deputado federal João Leite Schimidt, 80 anos.
Ele recorda que, aos 11 anos, as festas de fim de ano já não faziam mais sentido, pois seus pais tinham falecido. “Não tive bons momentos na minha infância, depois que meus pais morreram, tive que me virar sozinho, tenho uma irmã, mas não tínhamos o hábito de comemorar o Natal e nem Ano Novo”, diz.
Na adolescência, consegue se lembrar dos lugares em que frequentava, entre eles, um foi o mais marcante. “Eu passei um Réveillon na Praça do Rádio Clube. Sempre quando dava meia-noite o pessoal fazia a maior bagunça, soltava fogos com a cidade toda iluminada, foi bem divertido. Nesse tempo, eu estava tentando me divertir, pois o vazio estava tomando conta de mim”.
Para ele, muita coisa mudou de lá pra cá, apesar das grandes tristezas que enfrentou, conseguiu construir uma família e com isso resgatar todos os momentos que não tivera quando criança, inclusive a comemoração do Natal.
MEMÓRIAS
A comerciante Benedita Gonçalves Magalhães, 64 anos, destaca com alegria do tempo em que acordava cedo no dia 25 de dezembro, e ia para a Prefeitura de Campo Grande pegar brinquedo.
“Ficava doida para ganhar uma boneca, era bem divertido. Além disso, no Natal, eu e minhas primas brincávamos bastante, pois naquela época não tinha televisão”, conta.
Ressalta que a maior saudade é dos seus pais. “ Sempre, no final de ano, bate uma tristeza, pois lembro muito do meu pai e da minha mãe, do tempo em que nos reuníamos”, lamenta.
NATAL DO PASSADO
O técnico em eletrônica Manoel de Moura Dorneles, 68 anos, foi criado na área rural de Miranda. Apesar de não ganhar presentes naquela época, acredita que o Natal vivido na sua infância e adolescência tinha um perfil diferente do atual.
“Antes, era mais familiar e as pessoas se lembravam do verdadeiro significado do Natal. Hoje, o pessoal só pensa na comida e nas festas. Havia mais comunhão naquele tempo”, diz.
Morando há 29 anos na Capital, afirma que sente falta da paz e da tranquilidade do Natal de antigamente.
"Aquele tempo podíamos ir nas festas sem ser preocupar com a violência ou algum perigo; agora, algumas pessoas não sabem se divertir sem brigas. Hoje é tudo mais prático, tem mais comida gostosa, tem refrigerante, microondas, mordomia total. Antes podia ser até mais rústico – meu pai matava uma vaca ou um carneiro, e minha mãe fazia no fogão a lenha – , mas era muito melhor”, diz com bom humor.
DECORAÇÃO FAZIA DIFERENÇA
Para a historiadora Alisolete Weingartner, 78 anos, suas melhores lembranças foram os natais que do período que compreende as décadas de 1950 a 1970. Recorda que a Rua 14 de Julho e as praças da cidade eram bem decoradas, e que na Avenida Afonso Pena era montado um grande presépio.
“Esse foi o maior encanto que guardei para mim daquela época: os familiares sempre se reuniam na Afonso Pena para ver o presépio e para rezar, era muito lindo”, diz emocionada.
Sua maior saudade da sua época de adolescência e da infância é a reunião familiar . “O Natal para mim nunca foi apenas troca de presente, mas um momento para estarmos juntos e pedir perdão um para o outro. Recordo que no almoço de Natal, sempre lembrávamos de momentos alegres que passamos um com o outro”, relembra.