Por amor à dança, quando tinha 14 anos, a bailarina Laís Pamplona deixou Campo Grande, família e amigos e foi aprender balé na Escola do Teatro Bolshoi. É por este mesmo sentimento que ela volta todos anos, mas, no papel de professora.
Como forma de agradecer as oportunidades que teve na vida, ela transmite os conhecimentos adquiridos na companhia para aqueles que querem seguir os passos dela.
“Vim de um projeto social, porque o Bolshoi é um projeto social. Quando fiz o meu teste para morar em Joinville, passei em 3º lugar e, na época, ganhei uma bolsa de estudos”, lembra Laís, detalhando o porquê dessa vontade em ensinar.
A bailarina, hoje com 30 anos, afirma estar vivenciando fase de querer oferecer algo para as pessoas que não tiveram a mesma oportunidade que ela. O presente dela, claro, é a dança. “E por Campo Grande ser a terra que eu fui criada, ter amigos de infância e família é o lugar que eu sempre volto, sabe?”.
Isto porque depois de se formar no Bolshoi, Laís foi trabalhar em companhia da Áustria, onde mora desde 2008. “Lá eu só danço como bailarina, mas, tenho vontade de no futuro me tornar professora, coreógrafa, ensaiadora. É a tendência, né? Depois que a gente para de dançar, quando a gente fica mais velha”.
Ela ressalta que a idade avançada não é empecilho para a dança. “Por esse meu amor em dar aula, todo o ano eu dou cursos. Estou sentindo uma procura muito grande por balé adulto. São pessoas mais velhas que, começaram o balé mais tarde e querem fazer como hobby mesmo, sem essa pretensão de virarem bailarinos profissionais. Gostam da dança e têm disciplina para isso”, detalha.
RENÚNCIAS
Cumprir todas as normas de uma escola como o Bolshoi não é a única característica exigida das pessoas que querem ser profissionais da dança, conforme pontua Laís.
“Acho que disciplina e vontade são as características mais importantes. Mas tem também o talento, combinado com essa força de vontade e essa força mental. O seu psicológico tem que ser forte também”, conta ela se referindo as renúncias que teve de fazer para concretizar o sonho de viver do balé.
Laís saiu de casa quando ainda era adolescente, foi morar na Áustria sem saber falar alemão e, durante os quatro primeiros anos de companhia, não conviveu com nenhum brasileiro.
“Nenhum latino, nenhum italiano, nenhum espanhol. Ninguém que eu pudesse falar nada ou que tivesse uma cultura parecida com a minha. Esse choque cultural, no início, foi bem grande pra mim. São escolhas”, declara.
E esta decisão, claro, foi acertada. “A profissão é belíssima. Não me arrependo nenhum momento de ter largado tudo. Era o sonho da minha vida!”.
FORA DO PALCO
Se durante os espetáculos os bailarinos podem ser vistos com os dois pés fora do chão, como quando fazem um grand jeté [grande salto], por exemplo, fora dos palcos é preciso ser realista. “O balé mexe muito com o ego, mas, as melhores bailarinas que conheço, as melhores pessoas também são as mais humildes”, pontua Laís.
A bailarina afirma ser preciso distinguir o que ocorre dentro e fora do palco. “Saber que não existe perfeição. O balé é uma profissão que você tenta fazer o seu melhor todo dia. Tem que se superar sempre, trabalhar com seu corpo, tomar muito mais cuidado que muitas outras profissões. É essa luta diária de fazer o seu melhor todos os dias”.
OUTRO SONHO
Laís ainda não sabe quando deixará os palcos, mas, tem projetos para quando se aposentar. “Acredito que esteja na minha melhor forma. Não acho que vou parar com 50, mas, o que faria com que me aposentasse mais cedo são os projetos que tenho para minha vida, que tenho vontade de realizar”.
Ao menos um destes sonhos abrange Campo Grande, mas, como ainda estão no plano do imaginário, Laís, não detalha.
“Jamais teria a pretensão de fazer uma escola como o Bolshoi, onde eu estudei, mas eu acredito que o Estado é muito grande e existem muitas crianças no interior que não tem acesso nenhum a assistir nada e a ter essa cadeia curricular que outras escolas oferecem, com história da dança e até a própria dança popular brasileira. Falta um pouco isso”.
Ela pensa em suprir essa falta justamente em Campo Grande “porque na Capital, os espaços são maiores e as chances dessa criança sair daqui para outro lugar também. Facilitaria tudo”, diz.