Natural de Brasília, Édino Lima Junior, de 36 anos, chegou a Campo Grande há pouco mais de 1 ano após oferta de trabalho que acabou não dando certo.
Ao se deparar com as portas do mercado fechada para o ramo que atuava, área farmacêutica, resolveu investir em outra, a de confecção de mini jardins e terrários (recipientes onde se reproduzem as condições ambientais necessárias para diferentes seres vivos total ou parcialmente terrestres).
Irmão de botânica e filho de uma apaixonada por plantas, Édino se deparou com a oportunidade de fazer um curso técnico em meio ambiente.
“Já era mais ou menos dentro da minha área. Eu fiz, e mesmo assim as portas não se abriram”. As oportunidades só começaram a aparecer depois que Édino deu um terrário de presente de aniversário a uma amiga.
“Certo dia fui convidado para a festa de aniversário de uma amiga e não tinha dinheiro para comprar um presente, então eu e uma outra amiga, Dalila, saímos revirando o lixo do condomínio onde eu moro e levei algumas coisas para dentro do apartamento. Além disso saímos pegando plantas pelo meio da rua, e nisso construí um terrário e dei para ela de presente. Ela gostou tanto que tirou uma foto e a partir daquele dia até hoje já fizemos mais de sete mil terrários e mini jardins”, contou Édino.
TERRÁRIOS
Os terrários são feitos dentro de recipientes de vidros esterilizados e com produtos cultivados e produzidos pelas próprias mãos de Édino. “Tudo eu que faço, os enfeites, os bichinhos, os rios e as plantas eu cultivo no nosso próprio herbário”.
Na produção do terrário não é utilizada terra, pois ela tem um nível de nutrientes limitado, já o substrato, que é feito com casca de banana, ovo, arroz e outras coisas, é 100% orgânico e tem nutrientes para a vida toda da planta.
Com o passar do tempo os terrários vão virando verdadeiros mini mundos dentro dos vidros. “Acontece um ciclo fantástico aqui dentro, começam a aparecer cogumelos, minhocas e formiga”. Os terrários não necessitam de água em abundância e podem ficar sem molhar por um períodomaior de tempo, a cada três meses. “O vidro embaça, evapora e a água cai”.
Para colocar água no terrário também é necessário cuidado especial. É preciso usar um borrifador limpo, sem vestígio de qualquer produto químico para não contaminar as plantas. “Você tira o papel filme que tampa o vidro, borrifa água e tampa novamente, a cada três meses repete o mesmo processo”, explica.
Cada terrário leva em média 48 horas para ser confeccionado. “É o tempo que pedimos para o cliente, mas hoje em dia eu faço em bem menos tempo, mas no início se leva mais tempo”. O valor do produto varia de R$ 35 a R$ 1 mil.
Assim como a maioria das pessoas, é comum achar que dentro de um pote de vidro a planta não irá sobreviver por muito tempo. Mas Édino garante o contrário. “Os terrários são imortais, as plantas não foram feitas para morrer e vivem por 100 anos”.
Atualmente proprietário da Mini Mundo - Consultoria Ambiental e Paisagismo, com data prevista para ser inaugurada em 20 de agosto, o empresário faz questão de afirmar que a empresa nasceu literalmente do lixo. “Naquela época não tínhamos dinheiro para comprar vaso nem planta. Do lixo, hoje ela virou uma média empresa”, completou.
A loja tem proposta diferente das convencionais, onde o cliente entra, escolhe e paga pelo produto. “Na Mini Mundo a pessoa terá um espaço para ficar em paz. Ela vai poder fazer seu próprio jardim e levar para casa o produto sem precisar pagar, ela vai pagar se quiser, pois, tenho certeza que depois que ela levar o dela para casa, outras pessoa virão para aprender e comprar”.
Além de vender os produtos que ele mesmo produz, Édino também oferece cursos tanto pagos como gratuitos. Os pagos são ministrados para técnicos e os gratuitos são ministrados em escolas públicas, pacientes do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e em asilos. “É um trabalho terapêutico”.
Para quem quiser fazer o curso, o valor da inscrição é de R$ 50, que é revertido para instituições carentes. As aulas acontecem na Avenida Marques de Pombal, 1100. O material para o curso é comprado na hora e custa entre R$ 30 e R$ 49 e no final do curso a pessoa leva o produto para casa. O preço dos mini jardins prontos e produzidos por Édino custam entre R$ 35 e R$ 200 e já foram enviados de norte a sul do Brasil e também para oito países.
"Um dia meu mestre me falou, pequeno gafanhoto, ainda vejo muita ambição dentro de você, enquanto você fizer as coisas pensando em dinheiro, você não vai conquistar dinheiro, na hora que você fizer as coisas para ver as pessoas felizes, você vai conquistar muitos objetivos”.
EXPERIÊNCIA INDIANA
Arrogante e materialista, como ele mesmo descreve a própria personalidade de alguns anos atrás, após sofrer decepção amorosa, durante a novela global Caminho das Indias, Édino decidiu que precisava viver aquilo que a novela lhe passava. “Preciso encontrar essa paz que eles tem lá, essa sabedoria. É fácil a gente culpar os outros porque algo deu errado, mas é difícil a gente enxergar os próprios erros, por isso que eu fui para lá, para descobrir que eu errei, e errei muito mais. Errei porque amei demais e esqueci de amar de menos a mim mesmo”.
“Dois anos e meio morando em terras indianas Édino descobriu a técnica para confecção de terrários. “Lá conheci meu grande mestre chamado Hassan Hussen. Lá ele tinha uma pequena loja de terrários”. Antes de aprender a arte, Édino conta que teve que limpar o carro e a casa do mestre por muito tempo. “Costumo comparar minha experiência na Índia com o filme Karatê Kid”. Certo dia, chorando, sentado no meio fio da calçada o mestre foi até ele e disse que naquele momento ele estava pronto para aprender a técnica.
“Ele me disse que o homem para ser grande ele tem que ser humilde, e lágrima é sinal de humildade. No dia seguinte ele me ensinou a técnica do terrários”. Ao chegar no Brasil se deparou com terrários diferentes do que ele havia aprendido na India. “Quando voltei para o Brasil, na faculdade vi que faziam terrário, só que não eram iguais os que eu fazia, eu fazia sonhos dentro de vidros, eles faziam plantas dentro de vidros”.
Ao prestar atenção nas necessidades e dúvidas que as pessoas tinham com relação a arte, a mais constante era de que as plantas morreriam dentro dos vidros. “Raramente e impossivelmente perdi uma planta, a técnica é muito boa”.
“Eu ganhava R$ 15 mil por mês e me achava o soberano da indústria farmacêutica. Eu achava que poder era dinheiro, e poder é fazer as pessoas felizes”
FIGURA MATERNA
Peça fundamental na vida do filho, Elí Araújo de Lima, de 63 anos, mão de Édino, foi arrastada por ele para fazer o curso de técnico em meio ambiente. Cansado de ver a mãe passar horas na frente do Facebook, Édino resolveu chamá-la para fazer o curso. “Fiz o curso por ela, para tirá-la de dentro de casa”. Os dois estudaram na mesma sala e se formaram juntos.
Quando eu tinha muito dinheiro minha mãe não tinha orgulho de mim. Depois que eu passei a fazer coisas simples, ela sente orgulho de mim. Ela é hoje a pessoa que me motiva quando mostro um trabalho e escuto: parabéns meu filho, ficou lindo!”. “Não teria motivo pra mim, se não fosse o brilho dos olhos dela dizendo que sente orgulho das coisas que faço”.
“Para as pessoas que veem os meus trabalhos e se emocionam, eu penso: Faço coisas tão simples tocarem fundo no coração das pessoas que até eu não entendo e não acredito porque o meu mestre acreditou em mim”, contou Édino ao destacar que, na India, foi o primeiro e último aluno do indiano que lhe ensinou a técnica.
Existem no Brasil diversas pessoas que ensinam a fazer terrários, mas, conforme Édino, a técnica que ele usa só foi vista na Inglaterra, Estados Unidos e Espanha. “Foram os únicos terrários que eu pude falar: esses são feitos como o meu, são sonhos dentro de vidro”.
Recentemente ele pensou em desistir, em abandonar tudo e voltar para India. “É muito fácil colocar amor em algo, mas é difícil, às vezes, sentir amor por algo”. Hoje, com o coração ocupado pelo novo amor, a bióloga Heloiza Lopes, de 23 anos, Édino reencontrou forças e motivos para concretizar ao lado das sócias Dalila Duarte Bordingnon, de 25 anos e Tassiane Karina M. Avanci, de 27, mais um objetivo de sua vida e continuar colocando sonhos dentro de vidros.