Cidades

FIM DE APOIOS

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Corrupção de políticos coloca em
risco projeto social com adolescentes

Escola que atende jovens de região pobre está perdendo patrocínios internacionais

RODOLFO CÉSAR

26/11/2016 - 12h00
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A corrupção no Brasil em âmbito nacional, principalmente no setor político, além da crise econômica que afeta a economia local, isso tudo canalizando para uma desconfiança geral e incertezas reverberaram negativamente em investimentos sociais que empresas internacionais mantinham em Campo Grande.

O fim do apoio está impactando diretamente o projeto educacional e de formação profissional que funciona há quase uma década na região do Dom Antônio Barbosa, um dos bairros de Campo Grande com maior vulnerabilidade social.

A escola Pau-Brasil, instalada na Rua Miraí, 700, no bairro Pioneiros, procura oferecer capacitação educacional e profissional para adolescentes e jovens entre 16 e 21 anos. Ela foi idealizada por dois suíços que descobriram a cidade há mais de uma década e fundaram o projeto, que é gerido pela organização não governamental (Ong) Gira Solidário - Promoção e Defesa da Infância e Adolescência, instituição criada em 2002.

A diretora da Ong, Eliane Brunet, confirma a situação delicada que o projeto e a instituição tem passado. Como os principais idealizadores da proposta são suíços, os recursos para manter a escola vinham de empresas do continente europeu.

"Os maiores patrocinadores do nosso programa de profissionalização, a Escola Pau-Brasil, sempre foram europeus. Foi por meio de patrocínios estrangeiros que conseguimos construir nossa sede, manter as aulas de marcenaria, e também o maquinário da marcenaria é fruto de doações estrangeiras. No Brasil, praticamente não temos patrocinadores", explica.

A escassez de recursos já atingiu a capacidade de atendimento no local. O projeto dura três anos e oferece ensino complementar de cidadania, português, matemática, estímulos lúdicos, atividades de lazer e conhecimento para transformar os alunos e alunas em profissionais da marcenaria, do design de móveis e do empreendedorismo.

Dos 12 alunos/ano que podem frequentar as aulas, as turmas precisaram ser diminuídas para seis participantes. O curso não está mais funcionando diariamente também porque falta dinheiro para arcar com custo dos materiais, equipamentos, vale transporte e alimentação. "O que temos não está conseguindo mais cobrir todos os custos", reconhece Eliane.

O JEITO É SE VIRAR

Na busca por verba para manter a Ong e seus projetos vivos para 2017, a diretoria criou o chamado crowdfunding para receber doações de qualquer parte do país. A meta é chegar aos R$ 50 mil, total que permite a sobrevivência do trabalho pelo próximo ano.

Por meio desse site, foi criado a campanha "Amigos da Escola Pau-Brasil e GIRA Solidário". Apesar desse "jogo de cintura" para tentar obter recursos, os apoios ainda são tímidos. Até 25 de novembro a proposta tinha recebido R$ 5.370 em doações. O prazo máximo para a proposta permanecer no ar é até 15 de dezembro.

O fotógrafo e fundador da Gira Solidário, Stephan Hoffmann, que criou o projeto da Escola Pau-Brasil com o arquiteto e mestre em marcenaria Alfred Lei, também tenta por outros meios retomar os apoios.

"Graças a um parceiro da Suíça, consegui uma passagem para poder viajar (para lá) e vou visitar possíveis patrocinadores e tentar reconquistar alguns", disse Hoffmann, logo que tinha chegado na Suíça, no final da semana passada.

"Apesar de toda a transparência com que atuamos desde 2002 em Mato Grosso do Sul, esses financiadores ficaram receosos. E também esperam que o empresariado nacional colabore para a formação e manutenção de projetos como o nosso, que visa preparar adolescentes e jovens para serem profissionais que ingressem no mercado de trabalho sendo profissionais de alto nível e cidadãos conscientes", indica a diretora da Gira, Eliane Brunet.

Stephan Hoffmann com crianças atendidas pela ong em Ribas do Rio Pardo. Foto: Divulgação

SUPERAÇÃO DIÁRIA

A longo de quase uma década e meia, a organização não governamental criada por Stephan Hoffmann procura combater a vulnerabilidade social que atinge crianças, adolescentes e suas famílias.

No início dessa instituição, a principal ação foi transformar a vida de 50 meninos e meninas de famílias ex-carvoeiras de Ribas do Rio Pardo. Na época, a exploração desse tipo de atividade fez com que várias pessoas vivessem em condições críticas, além da constatação de trabalho infantil.

A Escola Pau-Brasil surgiu depois, em 2007, como uma proposta de garantir outro caminho que não fosse o trabalho no lixão de Campo Grande, que na época estava aberto no bairro Dom Antônio Barbosa.

Jonaci (de boné preto) orienta Matheus quando ainda era monitor na Escola Pau-Brasil. Foto: Divulgação

MUDANÇAS DE VIDA

De família de catadores, Jonaci Silva Moreira fez parte da escola por três, depois transformou-se em monitor das novas turmas e com o conhecimento de marceneiro profissional foi contratado por uma empresa da Capital que atua no ramo de design de móveis.

"Era só nós quatro na vida, eu, meu pai e meus irmãos. Minha mãe separou da gente. Meu pai foi para o lixão e eu precisei ir com ele também. Durante semana eu estudava e no final de semana ia para o lixão. Mas um dia apareceu o Stephan e o Fred na escola e falaram do curso. Eu não acreditei, porque pensei: 'o que esses estrangeiros queriam aqui no Brasil, com crianças pobres? Mas fui para o projeto", recorda Jonaci, hoje profissional reconhecido.

Hoje com 26 anos, ele deixou a escola há dois anos para dedicar-se exclusivamente ao emprego de marceneiro profissional. Ainda assim, espera que a ong consiga se manter em funcionamento. "Se não fosse eles, não estaria no mercado de trabalho e minha vida não seria como é", afirma.

Cidades

Comissão vai analisar pedido de anistia coletivo dos povos indígenas Guarani e Kaiowa de Caarapó

Violações praticadas pelo governo brasileiro aos indígenas no período da ditadura militar e pós-guerra do Paraguai foram reconhecidas pela Comissão Nacional da Verdade

27/03/2024 17h00

Arquivo/Correio do Estado

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A Comissão de Anistia irá analisar, em sessão histórica o pedido de anistia coletivo dos povos Guarani Kaiowa, da comunidade indígena Guyraroká, protocolado pelo Ministério Público Federal (MPF) em 31 de agosto de 2015.

Esta será a primeira sessão promovida pelo órgão, criado em 2002, e atualmente vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, para analisar eventual reparação a indígenas que tiveram os direitos humanos violados durante o período da ditadura militar no Brasil, entre 1947 e 1980.

A sessão de apreciação dos pedidos ocorrerá às 8 horas (horário de MS) no próximo dia 2 de abril, no Auditório do MDHC, em Brasília (DF). O procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida, que subscreve o requerimento, representará o MPF.

Além da comunidade indígena Guyraroká, localizada no município de Caarapó (MS), a cerca de 275 quilômetros de Campo Grande, também serão analisados durante a sessão os pedidos de anistia relacionados aos povos Krenak, de Minas Gerais.

Como o primeiro pedido foi protocolado há quase uma década, o MPF promoveu recentes reuniões com lideranças da aldeia Guyraroká, no intuito de debater e atualizar o documento contendo os requerimentos coletivos, cujo teor será apresentado durante o ato no Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Retirada do território

Políticas federais de povoamento do país, implementadas durante o período da ditadura militar e pós-guerra do Paraguai, levaram agentes estatais a promover traslados compulsórios dos indígenas de Guyraroká, provocando mortes e profunda desintegração dos modos de vida destes povos tradicionais.

O propósito era retirar os indígenas das vastas áreas por eles ocupadas segundo os seus modos tradicionais e confiná-los em espaços exíguos definidos unilateralmente pelo poder público. As terras ocupadas anteriormente por eles foram liberadas à ocupação de terceiros, que tiveram a posse dos terrenos legitimada por títulos de propriedade.

Estas violações praticadas à época pelo governo brasileiro aos indígenas de Mato Grosso do Sul foram reconhecidas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), que esteve em Dourados e ouviu integrantes da comunidade Guyraroká sobre o processo de confinamento territorial que sofreram. Estima-se que mais de 8.300 indígenas foram mortos no período em decorrência da ação estatal ou da omissão do governo brasileiro.

Repercussões das violações

Após anos longe do território, aos poucos, os indígenas buscaram ocupar Guyraroká, num processo que começou em 2004, iniciando pela ocupação da faixa de domínio da rodovia estadual que ladeia a terra indígena (MS-156) e posteriormente ocupando uma parcela do perímetro declarado – 65 de um total de 11 mil hectares.

O MPF destaca, no pedido de anistia, que a principal atividade econômica desenvolvida pelos indígenas Kaiowa é a agricultura e, quando retirados do seu território forçadamente pelo governo brasileiro, ficaram completamente desprovidos do exercício de todas as suas atividades econômicas, merecendo a reparação.

Além disso, a desintegração do grupo e a ausência de acesso ao território tradicional, somada à extrema miséria, provocaram um número significativo de mortes por suicídio na comunidade. Em um grupo de 82 pessoas, registrou-se um caso de suicídio por ano entre 2004 e 2010.

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Cidades

Prefeita prevê conclusão das obras de saneamento básico na Homex em 60 dias

Segundo a Águas Guariroba, as obras iniciaram há 10 dias e até o momento foram instalados 3,5 km de rede de esgoto.

27/03/2024 16h45

Fotos: Gerson Oliveira

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Após anos de luta, cerca de 1,5 mil famílias que residem na comunidade Homex, localizada no Jardim Centro-Oeste, em Campo Grande, terão acesso ao sistema de saneamento básico de água e esgoto. A prefeita Adriane Lopes (PP) e o presidente da Águas Guariroba, Themis de Oliveira, realizaram uma visita técnica para inspecionar o andamento das obras iniciadas há dez dias. Segundo o cronograma, a previsão de conclusão é de 60 dias. 

Até o momento, foram instalados 3,5 km de rede de esgoto na Comunidade do Homex. O investimento, proveniente de uma parceria público-privada com a concessionária Águas Guariroba, é de aproximadamente R$8 milhões

De acordo com o diretor executivo das Águas Guariroba, Gabriel Brum, foram instalados 8,7 quilômetros de rede de água e outros 12 km de rede de esgoto na comunidade. 

"Esta é uma obra bem complexa por causa de diversas instalações que acabamos encontrando debaixo das casas. Infelizmente agora é uma dor de cabeça aos moradores, mas em breve será de muita alegria, porque o nosso objetivo é terminar em 60 dias",  relatou ao Correio do Estado.  

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A prefeita Adriane Lopes destacou que o saneamento básico é fundamental para a qualidade de vida das pessoas. Ela ainda ressaltou que a disponibilidade de água tratada nas torneiras irá reduzir as filas nas unidades de saúde e, consequentemente, promover o bem-estar dos moradores

"Estamos avançando nessa obra de grande importância para a comunidade. São mais de 1,5 mil famílias, e cerca de 5 mil pessoas que terão saneamento que é vida", afirmou. 

Durante a apresentação do mapa das obras para a imprensa, o diretor-presidente da Águas Guariroba, Themis de Oliveira, anunciou que, no primeiro mês após a instalação, não será cobrada tarifa de água e esgoto dos moradores.

"Além de não pagarem água e esgoto no primeiro mês, as famílias serão cadastradas na tarifa social. Vamos passar pela comunidade ensinando as famílias a consumir a água", explica Themis Oliveira.


Qualidade de vida 

Observando de longe o trabalho dos funcionários da Águas Guariroba, Clair Lopes, de anos, é residente da Comunidade do Homex há 8 anos, tentava entender o que estava acontecendo. Após a imprensa relatar que seria instalada uma rede de esgoto e água, ela ficou extremamente animada com a expectativa de ter água limpa na torneira. Junto com ela, moram quatro pessoas: seu marido, seu filho e uma filha que está grávida. 

"Nossa, que alegria ouvir isso. Será uma benção, é tudo que a gente queria, ter água limpa em casa. Meus netos todos já tiveram diarreia e agora vamos ter uma água boa para nós consumir", relatou.

Clair ainda expressou sua ansiedade por poder tomar um banho demorado, já que a família atualmente precisa se banhar com baldes.

"Não vejo a hora de poder tomar banho de verdade, ninguém merece ter que usar baldinho", relatou Clair.

 

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