Esporte e fé salvaram o artefinalista Willian Benites, 27 anos, das drogas e o incentivaram a transferir essa experiência de liberdade por meio de projeto social com adolescentes e jovens, na pista de skate do Bairro Coophavilla II, em Campo Grande.
Foi na prática do skate que ele se encontrou, há 16 anos, com o esporte. Praticava aos fins de semana, incentivado pela mãe, na pista do Horto Florestal.
Talento e treino o levaram a participar de diversos campeonatos, mas algumas “amizades” que surgiram à margem da pista aguçaram a curiosidade sobre o efeito das drogas. O skate acabou ficando de lado.
“Tive pais separados. Minha avó me criou e passava muito tempo fora de casa. Por medo de perguntar, acabei optando por experimentar maconha, pasta base e cola, incentivado por colegas que já usavam. O grupo já não era mais do skate, que acaba, erroneamente, associado às drogas”, relatou Willian.
A influência negativa, por vezes mascarada na presença da mãe, interferiu nos estudos e o fez estagnar no quinto ano. Dias eram trocados por noites, tudo em torno da autossatisfação no consumo de drogas e bebidas alcoólicas.
Furtos em casa, alucinações e comportamento rebelde tornaram-se recorrentes. Por pouco, não foi preso por tráfico e posse de entorpecentes.
“Tinha 17 anos. Voltava para casa alucinado, quando Deus me fez refletir que era hora de mudar. Pensei no passado e como fui deixando tudo para trás: estudos, treinos, sonhos”, complementou o artefinalista, relembrando orações da mãe e avó como suporte para enfrentar o período de abstinência, que durou um ano.
Em paralelo, ressurgiu o sonho de se tornar tão bom na modalidade skate street quanto o atleta Alex Carolino, associado ao primeiro emprego em cooperativa de ovos que reverteu o perfil dos amigos e o levou até a Igreja Evangélica, em Campo Grande.
“Muitas coisas não me convinham mais. Passei a me envolver nas programações religiosas e buscava uma forma de contar minha história e utilizar a influência do skate para ajudar crianças e adolescentes a se tornarem cidadãos de bem.
Surgiu, então, o projeto ‘Skate e Luz’, que ensina o esporte e a palavra de Deus. O nome vem da ordem de Jesus, em Mateus 5:14, de sermos luz do mundo que não pode se esconder”, comentou.
Há dois anos, o projeto social adotou a pista de skate do Coophavilla II como base para a escolinha gratuita de iniciação ao esporte, campeonatos e encontros religiosos. Ao menos sete voluntários se revezam, nas manhãs de sábado, no local, para atender até 30 crianças e adolescentes de cinco bairros da região.
Doações de parceiros e peças usadas são empregadas nas aulas. Também ganham prêmios e reconhecimento aqueles que se dedicam aos estudos, que Willian concluiu com ajuda da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
“Queremos mudar essa visão marginalizada da sociedade sobre quem pratica o skate, em grande parte associada ao contato direto com as ruas. Dar um rolê, ou sair para manobrar, é saudável. Eu me realizo nesse trabalho ao cooperar com a cidade levando o Evangelho por meio do skate, possibilitando novas perspectivas de vida a crianças e adolescentes”, pontuou Willian.
PROJETO VOLUNTÁRIO
Encontros do projeto social “Skate e Luz” ocorrem aos sábados, das 8h às 11h, na pista de skate do Bairro Coophavilla II, na saída para Sidrolândia. A faixa etária atendida pelos voluntários varia de sete a vinte anos. Treinos são precedidos de bate-papo com temas de cunho social e religioso.
Para o grupo, patrocinadores são bem-vindos, assim como uma boa reforma na pista, inaugurada há nove anos no bairro, pelo poder público. A última intervenção, em 2013, foi bancada pela associação de moradores do bairro e skatistas que treinam no local.