Indignado com a atual situação política e econômica do Brasil – a exemplo da maioria da população –, o jornalista e empresário Antonio João Hugo Rodrigues opina, nesta entrevista, sobre os assuntos que mais nos têm afligido ultimamente. Ele fala sobre a crise nacional e também regional, fruto, respectivamente, da incompetência da presidente Dilma Rousseff e dos ex e atuais prefeitos de Campo Grande. Cita a grande repercussão do nome do senador Delcídio do Amaral, ligado às maracutaias de desvios de dinheiro, e diz que investir em educação é o principal caminho para grandes mudanças.
CORREIO PERGUNTA – Vivemos uma crise sem precedentes, no que diz respeito a desvio de bilhões de reais por parte de quem deveria gerir corretamente o dinheiro do povo. Esta conduta, investigada pela operação “Lava Jato”, manchou a história passada e presente do Brasil. Diante deste cenário, como sair da crise?
ANTONIO JOÃO HUGO RODRIGUES – Penso que da crise você sai com uma administração diferente. Se você colocar uma administração como está aí, não vai a lugar nenhum. É preciso que a população escolha o próximo presidente, respalde o próximo presidente, acreditando, sobretudo, que ele não vai montar uma outra ladroagem.
Como o senhor avalia o papel da presidente Dilma Rousseff neste momento de crise tão profunda? Ela foi omissa, prevaricou no caso Petrobras? O senhor é a favor do impeachment dela?
A presidente Dilma Rousseff mentiu muito para todo mundo. E uma pessoa que mente para ganhar uma eleição não merece ficar no cargo. Eu acho que impeachment é uma coisa que a gente já viu no tempo do Fernando Collor. Penso que, se a Dilma tiver um pouco de nobreza, pede para sair e vai embora para casa, e deixa o País andar sem ela. Ela é a grande responsável por tudo que aconteceu, porque não teve capacidade gerencial. Ela é uma farsa administrativa e deu no que deu.
O senador Delcídio do Amaral foi citado na entrevista da revista Veja como beneficiário do esquema de desvios bilionários da Petrobras – dizem que ele levou R$ 500 mil. O senhor concorda que “desvio de dinheiro” não pode ser chamado meramente de corrupção e, sim, de roubo? Que quem a pratica não pode ser chamado de político, mas sim partícipe de uma ação criminosa?
Sim, acho que sim. O senador Delcídio do Amaral foi citado agora por R$ 500 mil. Mas só o Ricardo Pessoa deu R$ 8 milhões a ele, a Camargo Corrêa deu R$ 3 milhões, a Engemix deu outros milhões. A gente pergunta: este Ricardo Pessoa, o que viu no Delcídio? Deve ter ficado literalmente apaixonado pelo Delcídio, dizendo assim: “Lindão do Pantanal, eu vou dar R$ 8 milhões para você!”. Claro que não é isso! O ex-diretor da Petrobras, que é o Delcídio, está dentro desta confusão toda. Desde lá atrás, quando ele era do PSDB, diga-se de passagem. Ele saiu e foi para o PT, para se eleger senador. Ele era diretor da Petrobras, de Gás e Energia, então participou desta confusão toda e recebe benesses até hoje. Estava recebendo na campanha. Ninguém dá R$ 8 milhões ou R$ 3 milhões para uma pessoa simplesmente porque acha ela o máximo. É porque há um comprometimento muito sério e ele terá de explicar isso.
Há benefícios para ambos os lados?
Sim, há benefícios sim. Eu penso que as empreiteiras começaram corrompendo e terminaram sendo extorquidas. A ganância deste povo foi muito grande!
O senhor diria que muito da crise também vivida na Prefeitura de Campo Grande – cidade ultimamente jogada às traças – é fruto da desonestidade de políticos, de mandos e desmandos a favor de um e de outro?
Eu acho que Campo Grande, durante muitos anos, teve bons prefeitos. Alguns excepcionais, mas nenhum prefeito nestes últimos 30, 40 anos. De repente a população se encantou por um indivíduo chamado Bernal, que na sua essência é um homem desonesto. Ele entrou na prefeitura, fez a bagunça que fez, foi cassado e deixaram no lugar dele Gilmar Olarte, que é farinha do mesmo saco. Quando Bernal queria que eu fosse vice dele, agradeci muito, mas pensei: “Não dá para lidar com um Bernal deste”. Agora, estamos pagando um mico danado, Campo Grande está sofrendo e vai sofrer muito ainda, para se recuperar depois, se tiver um bom administrador. O perigo é o povo, de repente, escolher um outro “Bernal da vida”. Não “o Bernal”, mas um outro “Bernal”, um outro sujeito despreparado. Nós teremos de escolher bem e olhar bem que pessoa é esta, de onde veio, o que ele gerenciou, o que ele fez de bom e fazer a melhor escolha. Do contrário, estaremos fuzilados!
O governo eleito de MS completa seis meses de atuação. Ele está no caminho certo ou deixa a desejar?
Não diria que deixa a desejar e não diria que está no caminho certo ou errado. Eu acho que seis meses é um período curto, principalmente porque, quando o governador Reinaldo Azambuja tomou posse da cadeira de governador, começou a enfrentar crise que não foi ele que inventou, foi o governo do PT. Ele está pagando alto preço disso e terá de fazer um exercício fantástico para sobreviver neste próximo ano e meio, para, então, tomarmos o rumo e podermos respirar, assim como ele também, e colocar Mato Grosso do Sul no caminho certo. Mas ninguém espere nenhum milagre, não. Ele está fazendo um bom trabalho na saúde, está fazendo um bom trabalho até este meio de ano, até porque é impossível fazer mais do que ele está fazendo. Ele vai na corda bamba não por incompetência, mas por dificuldades que ele herda do governo do PT.
No momento atual, o que o senhor considera que precisa ser feito, prioritariamente, para o desenvolvimento de MS? É preciso começar por onde?
É preciso começar pela educação, porque ela é o caminho de tudo. Você veja que aprovaram aí a redução da maioridade penal. Eu acho que tem de dar um basta nesta criançada assassina. Mas acho infeliz o país que, em vez de construir escolas, tem de construir presídios para esta criançada, é muito triste isso. É um País com a administração caolha. O PT ficou 12 anos no poder e poderia ter feito muito pela educação e não fez. Nós estamos pagando o preço, esta criançada é vítima dos traficantes, da bandidagem, da má formação moral. E aí vai para a cadeia e sai mais bandida do que entrou, não vai mudar muita coisa, não. Os valores mudaram muito: não tem escola nem berço, não tem nada. Hoje, os pais têm medo de dizer não para os filhos, não pode fazer isso pois se arrisca a ser agredido, maltratado. Então, está tudo muito confuso. Mas a educação é o caminho, pois, se não investir nela, tudo o que se fizer cairá depois!
Recentemente, o senhor deixou a presidência do PSD de Mato Grosso do Sul. Quais são seus planos dentro do partido neste momento? A população pode contar com a confirmação de sua pré-candidatura à Prefeitura de Campo Grande?
Não, eu não sou candidato a nada, não sou pré-candidato a nada. Eu sou filiado ao PSD, um partido do qual eu fui fundador não só em Mato Grosso do Sul, mas nacionalmente, estou na ata da fundação do partido. Não apoiei o partido nesta eleição porque eles estavam com a Dilma Rousseff e eu não ia ficar com o PT. Então, terminada a eleição, como o partido continua no mesmo caminho, sou obrigado a ficar fora disso, porque contraria aquilo que eu acredito e o que eu penso. E eu não sou candidato a nada, vou continuar tentando ajudar Campo Grande por outros meios, na boa! Eu estou com 67 anos, farei 68 e é hora de parar, já trabalhei desde os meus 7 anos, está bom para parar.
Mas o senhor pretende levar o seu apoio a algum candidato à prefeitura?
Hoje temos somente pré-candidatos que nem sabem se vão, é muito difícil. Mas eu vejo bons nomes: o Marcos Trad é um bom nome, Dagoberto Nogueira é um bom nome, eu vejo como boas pessoas. Agora, serão candidatos? Eu lá sei! Eu sei apenas que eu não sou candidato a nada, quero me envolver o menos possível em política. Estou numa fase maravilhosa de minha vida e não quero mais esculhambá-la com isso, não.