No dia 25 de agosto, o Correio do Estado deu início à publicação de série de entrevistas com os candidatos de Mato Grosso do Sul ao Senado. Por ordem de sorteio, já foram publicadas as respostas de Lucien Rezende (25), Alcides Bernal (1º), Ricardo Ayache (8) e Simone Tebet (15). Hoje, os leitores podem acompanhar as propostas apresentadas pelo empresário e jornalista Antonio João. Todos os candidatos comprometeram-se e cumpriram a solicitação do envio das respostas na mesma data, 19 de agosto, evitando privilégios posteriores. Nesta entrevista, Antonio João fala que pretende ser um empregado dos sul-mato-grossenses e não apenas um “fazedor de discursos”. Defende a reforma tributária no País e também mudanças em nosso Estado. Defende uma política diferenciada de benefícios fiscais para que mais municípios possam receber indústrias.
CORREIO PERGUNTA – Por que decidiu candidatar-se ao Senado? Quais são suas principais pretensões?
ANTONIO JOÃO – O que me motivou a disputar uma cadeira ao Senado foi, em primeiro lugar, a vontade de contribuir com o Brasil e com Mato Grosso do Sul. Em segundo lugar, meu enorme desejo de ser um senador diferente, que trabalhe com eficiência, passando longe de atos negativos e de denúncias de corrupção e de irregularidades. Quero ser um senador incansável, um dedicado empregado dos sul-mato-grossenses, não apenas um fazedor de discursos. Não serei um político radical, mas também não serei negligente e tolerante. É possível fazer muito e quero fazer esse muito. E preciso do apoio dos eleitores que desejam a mudança de verdade, com Reinaldo Azambuja e Aécio Neves.
De cada R$ 100 em tributos, MS tem retorno de apenas R$ 5 em investimentos do governo federal. Acha que a reforma tributária pode corrigir tais discrepâncias e como pretende defendê-la?
O governo da União é uma sanguessuga insaciável. A voracidade arrecadadora do Ministério da Fazenda é quase inacreditável. Ano após ano, as receitas aumentam e os benefícios diminuem. Chega a ser uma covardia. A reforma tributária é essencial para o desenvolvimento do Brasil. Mas tem que começar, também, com a reforma aqui em nosso Estado. Por exemplo, reduzindo cada vez mais e paulatinamente os efeitos extremamente perniciosos do ICMS Garantido, que bitributa o comércio. E ampliar os limites positivos da lei que beneficia o pequeno e o médio empresário. Se no Brasil o nível de isenção de impostos é de mais de três milhões e meio de reais, aqui no Mato Grosso do Sul não passa de um milhão e 600 mil. Isso tudo reduz acentuadamente a competitividade do setor comercial. E o governo de Mato Grosso do Sul é o mais cruel nesse setor. Mas as alterações terão que ocorrer gradativamente, o que será um progresso.
Qual a sua estratégia para que MS obtenha mais recursos junto ao governo federal?Trabalhar com muita seriedade. Não me omitir e nem simplesmente desaparecer do cenário político, transformando-se em senador que só aparece em tempos de eleições e nada mais. Um candidato ao Senado Federal não pode mentir nem falsear com a verdade, garantindo que trouxe bilhões de reais para o desenvolvimento do nosso Estado. Tem que trabalhar e mostrar o que ainda pretende fazer pelo crescimento regional e dos municípios, a cada dia que passa mais endividados e escorchados. Brasília lida com bilhões e bilhões de reais. E, para nós, chegam as tais merrecas que todos conhecem. Mesmo porque o tal Programa de Aceleração de Crescimento, o PAC, é vergonhoso, uma tapeação, porque não se trata de auxílio financeiro da União, mas de caros empréstimos a estados e municípios. Uma vergonha!
Como pretende agir para que os sul-mato-grossenses tenham melhorias nas áreas da saúde e educação, por meio de emendas ou convênios?
Tivesse eu, no Senado, na época em que inventaram que deveríamos fazer a Copa do Mundo, eu teria protestado à exaustão, para deixar o futebol de lado, para cuidarmos da população. Quarenta bilhões de reais foram gastos. Poderiam ser construídos mais de 50 grandes hospitais, milhares de creches e centenas de escolas. Nada foi feito. E ainda perdemos a Copa, com derrotas humilhantes. Pior ainda está para vir: mais 60 bilhões para as Olimpíadas, em 2016, no Rio de Janeiro. Para novas derrotas, porque não foram criados incentivos para nossos atletas. E não serão construídos hospitais, escolas creches e, muito menos, feitos investimentos para garantir a segurança dos brasileiros, contra o narcotráfico, por exemplo, aumentando nosso efetivo policial nas fronteiras. O Brasil está abandonado também nesse aspecto. A Polícia Federal está com baixo efetivo e não consegue atuação sequer satisfatória. É preciso investir mais, porque nossos jovens e crianças estão correndo risco, cada vez maior, de serem atraídos para o vício das drogas.
Na sua avaliação, o que MS precisa para tornar-se mais competitivo em termos econômicos e transformar-se em um estado com novas indústrias e oportunidades de emprego?
Para aumentar a nossa competitividade, é preciso um governo que trabalhe com prioridades e com visão de futuro. Trazer indústrias é muito importante, mas a lei atual só beneficia a região fronteiriça com São Paulo. Por isso, grandes indústrias estão em Três Lagoas. Falta uma política de benefícios fiscais diferenciada, para que todos sejam contemplados. E a lei atual deve ser alterada nesse sentido, beneficiando todos os municípios. Hoje, a isenção de ICMS é igual para todos os municípios de Mato Grosso do Sul. Assim, Campo Grande, Dourados, Ponta Porã, por exemplo, mais distantes das fronteiras com São Paulo e Goiás são preteridas na medida em que as distâncias encarecem os produtos. Se continuar dessa forma, a industrialização seguirá desigual ou quase nula. E quem cabe trabalhar para mudanças nesse sentido é o governador. Tenho discutido muito essa injustiça com o candidato ao governo Reinaldo Azambuja e a sua vice, professora Rose. Senador não traz indústrias. Quem fala algo deste tipo mente de forma escancarada. A atual vice-governadora poderia ter feito gestões nesse sentido, mas não fez.
O Senado tem a missão de debater temas polêmicos, que interferem no cotidiano de toda a sociedade. Qual sua opinião sobre a maioridade penal e a política de cotas?
Sou a favor da redução da maioridade penal. Acho nossas leis muito brandas e, por isso, menores estão matando impunemente as pessoas. Isso é um absurdo, e os tempos modernos estão criando monstros, protegidos pela atual legislação. Se a gente olhar, por exemplo, para o setor educacional, estudantes ameaçam e agridem professores e nada acontece, porque são menores. Os bandidos usam as nossas crianças para traficar e para matar e pagam para que elas assumam suas culpas, sabendo que serão libertadas quase que imediatamente. As leis são brandas demais e essa legislação só incentiva a criminalidade. Quanto às políticas de aborto, sou cristão e não aceito que uma mãe ou um pai contratem assassinos para matar seus filhos ainda no útero. Hoje, os métodos anticoncepcionais são tão diversos e eficientes que não há justificativa para gravidez indesejada. Autoridades ligadas ao setor saúde deveriam estar mais atentas a este problema, orientando nossos jovens para que evitem a fecundação. Quanto à política de cotas, acho que deveriam ficar restritas aos deficientes e não aos negros. Obrigatoriedade de cotas faz parecer que são incapazes e não são. Tenho dezenas de negros em meu rol de amizades. Muitos doutores, outros não. Mas não vejo diferença pela cor da pele. E se milhares chegaram a um futuro brilhante sem auxílio das tais cotas, porque hoje elas teriam de existir. Negro é negro, não é idiota.
Considera que o político deve obedecer cegamente seu partido ou deve contrariá-lo em determinadas ocasiões, seguindo sua opinião própria e os preceitos que considera corretos?
Obediência cega só às leis de Deus. Político que não concorda com os posicionamentos de seu partido deixe-o. Simples assim.
Hoje, muitas CPIs não alcançam os resultados esperados e acabam frustrando a população. Considera que tivemos evoluções neste papel fiscalizador do Legislativo? O que precisa ser aperfeiçoado?
Todas as CPIs são frustrantes. Nenhuma exceção, que eu conheça. Todas são manipuladas e, atualmente, mais ainda. A ponto de os inquiridores e inquiridos serem treinados à exaustão para responderem de modo a agradar os governantes. Em resumo e na visão popular, uma autêntica palhaçada. Melhor não ter. Por isso, nem são acompanhadas pelos brasileiros. A única exceção ficou com a CPI dos Correios: naquele caso, os envolvidos nas denúncias, que motivaram as ações dos parlamentares, nem foram punidos. Mas acabaram presos os que se envolveram em outros atos de corrução, que surgiram no decorrer das investigações. Parte da cúpula do Partido dos Trabalhadores foi cumprir pena na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Mas quase todo os mensaleiros já estão soltos e curtindo a vida. Inacreditavelmente, posando de heróis.