Política

EX-JUIZ ELEITORAL

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André Borges: ‘Precisamos de políticos dedicados ao trabalho e com a noção de moralidade'

Advogado e ex-juiz eleitoral diz que muita coisa precisa mudar e momento exige respeito

CRISTINA MEDEIROS

19/10/2014 - 18h00
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Advogado com especialização em Direito Público, ex-juiz eleitoral e professor, André Borges  tem autoridade para  lançar um olhar crítico sobre este período de eleição, principalmente com a realização de um segundo turno. Nesta entrevista, ele diz que o povo está cansado de promessas e que exige respostas  concretas dos candidatos  no que se refere  a áreas como saúde, segurança, educação, entre outras.  Opina sobre reeleição, votos nulos e brancos e a participação das mulheres no pleito. 

CORREIO PERGUNTA - Estamos a praticamente uma semana do dia da eleição do segundo turno. Como o senhor analisa este período de reta final em busca de eleitores? 
André Borges - Infelizmente, ao invés de divulgarem propostas, partiram para as ofensas, que em nada auxiliam o eleitor na escolha de um dos candidatos. Mas ainda é tempo para eles se corrigirem. Muita coisa precisa mudar no Estado e no Brasil.  O momento é importantíssimo, exigindo seriedade e respeito para com o eleitor. 

Quais pontos o senhor acredita que tanto os candidatos a presidente quanto ao governo estadual têm deixado de explicar ao eleitor?
 Ideias  concretas sobre o que fazer nos setores da saúde, educação, segurança, economia, criação de empregos, dentre outros. Precisamos de políticos dedicados ao trabalho e com a noção de moralidade. Estamos cansados de ser governados por preguiçosos e corruptos, que não são todos, mas, infelizmente, representam um número importante dos que estão por aí. Chega. Ninguém aguenta mais. Os problemas são muitos. Há que se concentrar neles. Lamentável é ver os políticos prometendo maravilhas, mas, depois de eleitos, tudo esquecem, parecendo que somos bobos. 

Nas comparações entre PT e PSDB, diz-se de modo geral que o PSDB atende aos interesses do capital, do setor empresarial, ao passo que o PT atende aos interesses dos trabalhadores e tem uma agenda social, apesar de ter recebido várias críticas por desenvolver uma política econômica semelhante à do PSDB, a qual gera um impacto nas políticas sociais. Considerando essas questões, o que diferencia os partidos? Essas diferenças são reais ou fazem parte do imaginário coletivo.

Na verdade, os dois partidos, bem avaliados, defendem propostas muito próximas. Na atual conjuntura do Brasil, nenhum dos dois deixa de reconhecer a necessidade de manter projetos sociais, sem esquecer da economia, que anda muito mal. Sem uma economia forte e bem estruturada, cai o nível de emprego e, consequentemente, a renda do cidadão muito se reduz. O Brasil de hoje exige a participação de políticos decentes e com gosto para o trabalho, o que, infelizmente, é uma raridade.

Acha positiva a realização da 7ª eleição presidencial direta consecutiva, depois da redemocratização ?
Muito positiva. Demonstra que o Brasil está no caminho certo, que é o da estabilidade política, que cria um bom ambiente para os negócios e investimentos. E o bom é que, avaliando o primeiro turno da eleição presidencial, os 3 principais candidatos têm boa história política, inclusive de decência pessoal, mas com ideias distintas: Dilma, defendendo o Estado mais forte e intervencionista; Aécio propondo um modelo de livre mercado e de reorganização da economia; Marina sustentando a necessidade do realinhamento de forças políticas. Comparemos o Brasil com os vizinhos da América do Sul, onde ainda impera a desordem (com raras exceções). Estamos muito bem. É empolgante.
 
Mas os eleitores estariam preparados para entender bem essas propostas, fazendo a escolha certa ?
A maior parte não, por conta da fragilidade da educação brasileira, conforme todos reconhecem. Mas todos precisam se conscientizar de que o voto tem consequências, sempre sérias. Vejam o estado de quase abandono de Campo Grande, após uma frustrante eleição de prefeito recentemente cassado. Apesar do esforço do prefeito atual, pouco ele está podendo fazer para alterar os prejuízos causados à cidade. Nunca tinha ouvido falar de problemas financeiros no caixa da prefeitura de nossa cidade, notícias que agora são frequentes no noticiário. Vejam o atraso causado em Dourados, por conta, também, de um prefeito que por lá foi cassado no passado recente. Aí está a consequência de um voto errado.

O senhor se mostra crítico quanto à gestão pública em geral. Por quais motivos?
São vários. O que mais se faz no âmbito público é contratar pessoal. Só aumenta o número de servidores públicos. Mas serviços públicos de qualidade, prestados com eficiência, são raridade. A saúde pública continua desorganizada. A segurança é deficiente. A educação é uma vergonha, não só a pública, mas também a privada (veja os índices de reprovação no Exame da OAB, que provam que algumas faculdades de direito são um verdadeiro estelionato). Veja a despreocupação com a infraestrutura. A total letargia quanto a uma necessária reforma tributária, sempre prometida, mas nunca realizada. Mudanças urgentes, sempre prometidas, nunca efetivadas. E dinheiro não falta: a arrecadação de tributos só aumenta; veja os milhões gastos com publicidade estatal, muitas das vezes utilizada para enaltecer a figura do agente político, o que é absurdamente contrário à Constituição.

Foi elevado o número de votos nulos, brancos e de abstenções no 1º turno das eleições. Sabe o motivo disso?
Descrença generalizada da população nos políticos, que prometem muito e fazem pouco, além da corrupção, bastante disseminada.
 
Voltou a ser discutido o fim da reeleição para presidente, governador e prefeito. O que acha disso ?
Estou de pleno acordo. Reeleição é foco de corrupção e precisa acabar. Reeleição implica em inércia do Executivo, quando se aproxima o pleito (a imprensa noticiou, há poucos dias, que a Chefe do Executivo Federal foi ao Palácio do Planalto, para trabalhar, nos meses de agosto e setembro, apenas 5 vezes). Bastaria ampliar os mandatos no Executivo para 5 anos. E mais: é urgente a unificação das eleições. Sai muito caro para nós, contribuintes, custear eleições a cada 2 anos. São muitos milhões gastos no assunto, que poderiam ser destinados a setores de maior necessidade.

Outras alterações seriam necessárias na legislação eleitoral ?
Com certeza. Uma delas é o tema do quociente eleitoral, que, se implica em fortalecimento dos partidos, afasta da vida política alguns que tiveram boa atuação no cenário político, conseguiram bom número de votos, mas perderam a vaga para outros candidatos muito menos votados (exemplo aqui no Mato Grosso do Sul é o Deputado Fábio Trad, que teve boa atuação na Câmara Federal). Uma  boa solução seria o sistema distrital misto, em que 50% dos parlamentares são eleitos por maioria simples e direta em seu distrito eleitoral, ficando sob forte controle de seu reduzido número de eleitores; e a outra metade é indicada pelos partidos políticos, em lista fechada, também sob forte controle dos ideais e objetivos políticos de sua legada. Além disso, a legislação eleitoral precisa ser consolidada num único documento (Código Eleitoral), porque hoje são várias leis regulando o mesmo tema eleitoral, o que causa confusão e beneficia aqueles que praticam ilícitos.

E a questão do número mínimo de mulheres ocupando cargos políticos, tem sido alcançado ?
Infelizmente não. A lei exige 30% no mínimo de mulheres candidatas a cargos políticos. Mas, na prática, este percentual é computado a partir do simples pedido de registro eleitoral e não a partir dos registros já deferidos pela Justiça Eleitoral. Ou seja: a exigência legal, que precisa ser  aprimorada, acaba não surtindo o efeito desejado.  Em 2010, apenas 45 mulheres foram eleitas para Deputadas Federais, o que representa só 9% do total. É uma pena, porque, assim como em várias outras situações, as mulheres, de um modo geral, são bem mais honestas, decentes e dedicadas ao trabalho do que os homens.

Sempre são criadas novas leis no Brasil, mas muitas não são cumpridas. Não acha que o ideal é se esforçar para cumprir as leis já existentes?
Absolutamente sim. Também não acredito no poder mágico das leis. Muitas delas não são cumpridas no Brasil (dá para começar pela Constituição, das leis a mais importante). Veja o caso da Lei Federal 12.732/12, que obriga o início do tratamento do câncer, na rede pública, em 60 dias a partir do diagnóstico. Duvido muito que ela esteja sendo integralmente cumprida. Um bom local para se viver não se faz só com leis boas, mas, principalmente, com cidadãos cumpridores das obrigações morais e legais, o que se vê pouco no Brasil.

O senhor defende o financiamento público ou privado nas eleições?
Na atualidade, as campanhas são financiadas, na maior parte, por empresas com interesses em contratos com o governo.  Só alguém muito ingênuo acredita que essas doações são desinteressadas. Ademais, o custo das campanhas no Brasil é um dos maiores do mundo, e isto num pais pobre. Algo precisa ser mudado. O financiamento público pode ser algo interessante, mas o tema é bastante complexo, exigindo bastante reflexão, especialmente porque nós, contribuintes, é que  vamos pagar.

Política

Lula pede um disque-reclamação de seu próprio governo

Presidente pediu que seus auxiliares criem um canal de reclamação, para que as pessoas possam telefonar e assim não ficar "xingando" em público

22/04/2024 22h00

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

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O presidente Lula (PT) pediu nesta segunda-feira (22) que os seus auxiliares criem uma espécie de disque-reclamação, para que as pessoas possam telefonar e assim não ficar "xingando a gente" em público.

O pedido do presidente foi feito durante discurso, por ocasião do lançamento do Acredita, um programa para estimular o crédito para empreendedores e famílias de baixa renda, além de renegociar dívidas de pequenos negócios.

O presidente não deu detalhes de sua proposta. "Duas coisas que nós temos que fazer, [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad. Uma, e eu não sei se é no ministério do Márcio [França], que a gente deveria criar uma espécie de um 190, de um 180, um telefone para que as pessoas pudessem telefonar e se queixar se as coisas não estão acontecendo", afirmou o presidente.

"Porque muitas vezes as pessoas não têm a receptividade que elas imaginavam e não tem para quem reclamar. Então, ao invés de as pessoas ficarem xingando a gente, é importante que a gente tenha ao menos um ouvidor para que as pessoas possam se queixar que o Sebrae, não é tudo aquilo que o Décio [Lima] prometeu, que o seu ministério não é tudo aquilo que se prometeu", completou.

O governo federal conta com a plataforma FalaBR, onde os usuários podem fazer denúncias, pedir providências via ouvidoria e registrar reclamações, elogios e sugestões.

Campo Grande

Riedel confirma apoio a Beto Pereira: "é o pré-candidato deste grupo político"

Embora ambos pertençam ao PSDB, governador vinha evitando se manifestar sobre as eleições deste ano

22/04/2024 20h44

Governador Eduardo Riedel Gerson Oliveira

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O governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), confirmou na noite desta segunda-feira (22) seu apoio à pré-candidatura do deputado federal Beto Pereira (PSDB) à prefeitura de Campo Grande. Apesar de a confirmação soar óbvia, o governador do Estado vinha adiando o máximo possível o anúncio. 

“Nós estamos em plena pré-discussão eleitoral. Nós temos um grupo político, e na campanha ainda não está definido quem serão os candidatos ou as candidatas. Existem aqueles que todos vocês sabem, existe a prefeita Adriane (Lopes, PP) pré-candidata à reeleição; aí você tem o Beto, deste nosso grupo político, o pré-candidato à eleição; a Rose (União Brasil) que se coloca como pré-candidata hoje a eleição, e não sei se terão candidatos do PT ou do PL, ainda há uma discussão”, disse Eduardo Riedel. 

“A nossa posição é muito clara. Nós devemos apoiar o Beto. Ele é o pré-candidato deste grupo político à prefeitura de Campo Grande”, confirmou o governador. 

O próprio governador, ao ser perguntado pelo Correio do Estado, lembrou que em 31 de dezembro, ao conceder uma entrevista para uma rádio, foi perguntado da mesma forma, e disse na ocasião que só se manifestaria neste ano. 

A decisão de Riedel também serve para baixar a poeira no grupo político de Eduardo Riedel e de seu antecessor Reinaldo Azambuja (PSDB). Desde que o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, filiou-se ao PSD, uma pré-candidatura dele passou a ser cogitada à prefeitura da Capital. 

Riedel e Beto Pereira estavam comparecendo junto a vários eventos, mas em nenhum deles o governador falava formalmente da aliança. A aparição mais recente foi na decisão do campeonato Estadual, no último domingo, na Moreninhas, em Campo Grande. 

Grupos diferentes

A pré-candidatura de Beto Pereira à prefeitura de Campo Grande também deve dividir o grupo político até então liderado pelo PSDB. É que o PP, liderado pela senadora Tereza Cristina, deve lançar a prefeitura Adriane Lopes à reeleição. Tereza Cristina sempre foi aliada de primeira hora de Eduardo Riedel e de Reinaldo Azambuja. 

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