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Delator relata cíumes e cobranças
entre Odebrecht e políticos

Delcídio do Amaral foi mencionado reclamando que faltou 'apoio'

FOLHAPRESS

10/12/2016 - 17h42
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Ciúmes, pedidos de atenção, fofocas e cobranças permearam o relacionamento da Odebrecht com algumas das principais figuras do Congresso Nacional, segundo o relato do ex-diretor de Relações Institucionais da construtora Claudio Melo Filho.

Melo Filho expõe em detalhes, ao longo de 82 páginas, como parlamentares procuravam se mostrar amigos da Odebrecht para conseguir pagamentos. Outras vezes, porém, vendiam mais caro seu apoio, contou.

O ex-ministro e ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), por exemplo, se julgava um injustiçado, na versão do relator, "apesar dos pagamentos frequentes" que recebia da empreiteira. "Geddel sempre me disse que poderíamos ser mais generosos com ele. Ele insistentemente alegava que nunca efetivamente demos a ele o que ele acreditava representar", disse Melo.

O ex-ministro costumava dizer, segundo o delator, que se considerava "um amigo da empresa" e isso "precisava ser mais bem refletido financeiramente".

De acordo com o relato, Geddel "se comparava com outros políticos adversários do Estado, como Jaques Wagner e Paulo Souto, e reclamava, por achar que estes recebiam pagamentos mais elevados do que ele".

A relação entre Melo e Geddel era "muito forte", conforme o delator definiu. A Odebrecht transmitia ao então ministro de Integração Nacional do governo Lula "pleitos de interesse sem constrangimentos".

O relacionamento entre Geddel, Melo e a Odebrecht "sempre foi sólido e fundamentado em uma certeza: a sua dedicação a nossos pleitos sempre era retribuído com pagamentos, especialmente em momentos de campanha eleitoral, mas não apenas nesse momento".

Em 2006, por exemplo, a Odebrecht fez "pagamentos por meio de contribuições oficiais e também pagamentos não declarados via caixa 2". Somaram cerca de R$ 1 milhão. Quatro anos depois, foram pagos mais R$ 1 milhão ou R$ 1,5 milhão.

MIMOS

Além dos pagamentos, Geddel também recebeu um mimo precioso quando completou 50 anos de idade, em março de 2009. Na época ele era um dos ministros do governo Lula. "Compramos um relógio Patek-Philippe, modelo Calatrava, que foi enviado juntamente com um cartão assinado por Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e eu. A compra se deu na loja Grifith em São Paulo e foi efetivada pelo escritório de Brasília", contou o delator. Um relógio do mesmo modelo é vendido na internet, segundo Melo, por cerca de US$ 25 mil.

Melo, porém, diz que houve certo incômodo com Geddel quando a Odebrecht perdeu a concorrência para um lote na transposição do Rio São Francisco.

"Ele poderia ter nos dado mais atenção, pois chegamos a pedir uma reavaliação administrativa". Mas, de acordo com o delator, a Odebrecht procurou usar a "negativa de apoio dele em nosso favor", ao se valer desse precedente negativo para pedir ajuda em projetos já em curso atrelados a verbas cuja liberação passava pelo ministério de Geddel.

DELCÍDIO

Outro político que teria pedido mais dinheiro foi o ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). Em julho de 2012, Cláudio Melo recebeu um e-mail interno da Odebrecht alertando que o então senador "teria reclamado por não ter recebido muita 'atenção' de nossa parte após a aprovação" do projeto de resolução do Senado 72/2010, que protegia a Odebrecht de efeitos de regras de importação.

Após receber o e-mail, Melo informou a Delcídio, em um almoço no hotel Fasano de São Paulo, que a Odebrecht havia aprovado "um apoio" de R$ 500 mil. "Delcídio tinha ficado 'absolutamente satisfeito' e tinha 'pressa' no recebimento", disse o delator.

CIRO NOGUEIRA

Outra relação de altos e baixos foi com o senador Ciro Nogueira (PP-PI). No segundo semestre de 2010, Melo recebeu de Nogueira um pedido de "contribuição financeira". Foi autorizado o pagamento de R$ 300 mil. Quatro anos depois, Nogueira, diz Melo Filho, pediu "apoio para a campanha de candidatos do PP", o Partido Progressista. A Odebrecht pagou R$ 1,3 milhão.

Melo disse que recebeu uma orientação de Marcelo Odebrecht para informar a Nogueira que iria pagar R$ 5 milhões às campanhas eleitorais do PP. Melo foi à casa do senador para informá-lo. No dia seguinte, contudo, Marcelo voltou a ligar para dizer que a doação fora cancelada. Não ficou claro o motivo do cancelamento.

Um dos temas de interesse da Odebrecht era a discussão sobre a queda do veto presidencial que prorrogava contratos de energia elétrica para o Nordeste. No momento em que a matéria era discutida no Congresso, porém, Ciro Nogueira "sequer foi à votação". "Cobrei Ciro Nogueira sobre o assunto posteriormente e ele se desculpou dizendo não saber que a discussão ocorreria no dia em que ele esteve ausente", disse Melo.

KÁTIA ABREU

Outro pedido de dinheiro veio da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), segundo o delator. Melo contou aos investigadores que em certo dia recebeu de Kátia um telefonema em seu escritório. Eles não se conheciam. A senadora disse que a ligação fora "a pedido de Marcelo Odebrecht" e que o dono da empreiteira "iria ajudá-la e por isso ele estava ligando".

Melo disse que considerou o telefonema "um absurdo" e procurou Marcelo. O dono da empresa, contudo, "desmentiu o fato", mas disse que já havia pedido a outro funcionário da Odebrecht para que "fizesse um apoio". Melo soube que o "apoio" foi dado porque outro executivo da Odebrecht intermediou um encontro com "uma pessoa indicada pela senadora".

"Este relato é apenas para mostrar como às vezes somos abordados por pessoas com quem não temos relação, mas que muitas vezes esses agentes políticos se acham no direito de proceder como querem, apenas em razão de possuir mandato eletivo", contou o delator.

DEPUTADOS

Muitos pagamentos eram feitos pela Odebrecht a deputados que mantinham relacionamento antigo com a empreiteira. Nesse ponto Melo citou como exemplo o deputado Paes Landim (PTB-PI).

O parlamentar "sempre nutriu simpatia pela Odebrecht" e fez "discursos citando a empresa de forma elogioso no plenário do Congresso". Em uma ocasião, fez "uma homenagem à memória" do pai de Melo, o que o deixou "sensibilizado e agradecido".

Mas emoções não deixaram Melo perder o pragmatismo: "Acredito que sua postura nutria esperança de receber algum pagamento a pretexto de campanha eleitoral, fato que ocorreu. Por outro lado, o pagamento também tinha como objetivo gerar crédito para eventual necessidade futura". Com o codinome "Decrépito" em listagem interna da Odebrecht, Landim recebeu R$ 100 mil para sua campanha.

Com o deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE), atual ministro das Cidades e autor do voto decisivo no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, as relações da Odebrecht eram boas e, com Melo, viraram "uma amizade", disse o delator.

Tanto que Araújo, então líder do PSDB na Câmara, resolveu indicar Melo para "a Medalha do Mérito Legislativo do ano de 2012", concedida pela Câmara dos Deputados.

Fotografias da Agência Câmara mostram Melo recebendo a comenda em novembro daquele ano. "Ele ajudou a impulsionar um momento novo no Brasil levando uma grande empresa nacional a fazer importantes operações fora do país", disse Araújo, segundo texto distribuído pelo PSDB.

Cláudio Melo, por seu lado, havia "reforçado" a outro executivo da Odebrecht "a necessidade de uma atenção especial ao deputado". Solicitação no mesmo sentido havia partido do próprio Marcelo Odebrecht.

BASTIDORES

Sob a luz dos holofotes, políticos defendem com veemência a Operação Lava Jato e criticam empreiteiros envolvidos em corrupção. Nos bastidores da política, contudo, se mostraram bem menos indignados com a Odebrecht.

No segundo semestre de 2015, quando Marcelo Odebrecht já havia sido preso pela Operação Lava Jato, o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), por exemplo, tomou um café da manhã no hotel Royal Tulip com Melo Filho.

O encontro foi a pedido de Padilha, cuja intenção era que Melo transmitisse uma palavra de solidariedade em nome dele para a empresa em razão do problema vivido pela empresa e por Marcelo Odebrecht.

Um dos principais nomes do PSDB, Antônio Imbassahy (BA), também "se mostrou solidário ao problema vivido por Marcelo Odebrecht e também acreditava que a Bahia sofreria muito com possíveis desinvestimentos que poderiam ser feitos pela Odebrecht em seus projetos".

Maturidade Política

"Se não houvesse isso, jamais conseguiríamos estar dando esse passo", diz Riedel

O governador Eduardo Riedel destacou o momento de alinhamento político durante reunião com 75 prefeitos no lançamento do programa MS Ativo Municipalismo

22/04/2024 19h00

Com o programa MS Ativo Municipalismo, Riedel segue a risca a cartilha de seu antecessor, o também tucano, Reinaldo Azambuja, que fazia aproximações do governo do Estado com as prefeituras Gerson Oliveira / Correio do Estado

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Durante reunião para lançamento do MS Ativo Municipalismo, o governador Eduardo Riedel frisou a importância da gestão que prioriza o equilíbrio fiscal e enfatizou a maturidade política que possibilitou a reunião com 75 prefeitos que vieram prestigiar o programa que pretende atender todos os municípios de Mato Grosso do Sul.

Diante deste cenário, o governador elencou a importância de conseguir conversar com prefeitos de diversos municípios para alinhar as demandas. O programa gira em torno de três eixos de investimento que são a infraestrutura, saúde e educação.

O lançamento ocorreu no final da tarde desta segunda-feira (22), no Convenções Rubens Gil de Camilo, onde houve o anúncio de R$ 3,96 bilhões em verbas para investimentos na infraestrutura, saúde e educação.

"É essa convicção desse modelo que a gente traz até aqui, a convicção de que precisamos estar juntos para poder resolver o problema das pessoas, mas não só na infraestrutura. E esse talvez seja um passo a mais que a gente esteja dando aqui", pontuou Riedel. 

Conforme noticiado pelo Correio do Estado, os investimentos que estão em execução e ainda os que estão programados, alcançam o montante de R$ 3,96 bilhões

Com o programa MS Ativo Municipalismo, Riedel segue a risca a cartilha de seu antecessor, o também tucano, Reinaldo Azambuja, que fazia aproximações do governo do Estado com as prefeituras. 

Para a reportagem do Correio do Estado, o Presidente da Assomasul e prefeito de Nioaque, Valdir Junior (PSDB), apontou a necessidade de manter o municipalismo ativo, para ele a maior demanda entre os prefeitos gira em torno da infraestrutura.

"Mas também entra a parte da saúde, educação, da inclusão social que vem atendendo. A gente vê universalização do saneamento atingindo os municípios do Estado. Hoje esse evento é mais um marco para o municipalismo", disse Valdir Junior.

"Nosso governador fez isso com sua equipe de secretariado, escutou as lideranças que foram eleitas democraticamente e estamos levando para casa o investimento para poder [aplicar] em todos os setores".

Ainda, conforme o prefeito de Nioaque, o governador Eduardo Riedel escutou os prefeitos, vereadores e vereadoras de modo que o investimento não será feito apenas "de cima para baixo", mas visando atender as necessidades de cada município. 

Representando a bancada federal, o deputado Vander Loubet (PT-MS) apontou o amadurecimento da classe política de Mato Grosso do Sul, destacando o alinhamento entre o governo do Estado com os municípios em um programa que classificou como "histórico" para o Estado dado o maior volume de convênios entre Estado e municípios. 

"O Governo Federal, nesse novo PAC, são R$ 89,5 milhões, só na construção de 37 novas UBS, Unidade Básica de Saúde, em 37 municípios. São R$ 160 milhões para educação em 57 municípios, na construção de creches, centro de educação infantil, de escolas em tempo integral e aquisição de ônibus escolares. São R$ 50 milhões para os dois novos campus do Instituto Federal aqui no Mato Grosso do Sul um para Amambai e outro para Paranaíba", disse Vander.

Na área de infraestrutura, a concessão da obra da Ernesto Geisel, que está no PAC e já está aprovada. A recuperação da BR-267, entre Caracol e Porto Murtinho. A construção da alça do acesso da BR-267 até a ponte do Rio Paraguai. A construção do contorno rodoviário de Três Lagoas. O término da fábrica de fertilizante em Três Lagoas. E a conclusão das obras de ampliação do aeroporto de Dourados. Na área de habitação, o investimento de R$ 550 milhões, R$ 450 milhões do Governo Federal e R$ 90 milhões da contrapartida do Estado no programa Minha Casa Minha Vida. Ou seja, esse é o papel do Estado"

O presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, Gerson Claro (PP), rememorou uma fala do então à época governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que explicou que antes de realizar um governo municipalista era necessário ter verba para realizar os investimentos. 

Em outra fase, Gerson Claro apontou o "contrato" firmado com os gestores municipais para aumentar os índices de desenvolvimento dos municípios.

"E agora o municipalismo ativo, que eu entendo que dá um passo a mais. Nós vivemos um municipalismo com o Reinaldo, onde foi debatido e tratado a infraestrutura, agora em uma espécie de contrato de gestão, o municipalismo ativo vem para poder fazer uma espécie de contrato com os prefeitos, onde além da infraestrutura nós devemos prestar atenção nos índices de desenvolvimento dos municípios", explicou Claro.

 

 

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Política

Lula anuncia inclusão de 1,2 milhão de alunos no Pé-de-Meia

Programa oferece incentivo para jovens concluírem ensino médio

22/04/2024 14h00

Reprodução: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou, nesta segunda-feira (22), a ampliação do Programa Pé-de-Meia, que oferece incentivo financeiro para jovens de baixa renda permanecerem matriculados e concluírem o ensino médio. Cerca de 1,2 milhão de estudantes devem ser incluídos para receber os valores, que podem chegar a R$ 9,2 mil nos três anos do ensino médio.

Inicialmente, o Pé-de-Meia priorizou jovens beneficiários do Programa Bolsa Família e já alcançou mais de 2,4 milhões de estudantes. Agora, integrantes de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) também serão atendidos.

“Quando nós anunciamos o Pé-de-Meia, a linha de corte era o cadastro do Bolsa Família e ficou de fora o cadastro do Cad [CadÚnico]. Então, nós, agora, resolvemos aumentar e colocar a linha de corte no CadÚnico e vão entrar, parece, mais 1,2 milhão de meninos e meninas no Pé-de-Meia”, disse Lula, durante cerimônia no Palácio do Planalto.

O orçamento inicial do programa era de R$ 7,1 bilhões anuais. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mais R$ 3 bilhões serão investidos anualmente para contemplar a ampliação.

A ampliação foi incluída na medida provisória (MP) que cria o Programa Acredita, assinada hoje por Lula e que trata da facilitação de crédito e renegociação de dívidas de pequenos negócios.

A política do Pé-de-Meia prevê o pagamento de incentivos anuais de R$ 3 mil por beneficiário, chegando a até R$ 9,2 mil nos três anos do ensino médio, com o adicional de R$ 200 pela participação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na última série. Por meio do incentivo à permanência escolar, o governo federal quer reduzir a desigualdade social entre os jovens do ensino médio, além de promover mais inclusão social pela educação, estimulando a mobilidade social.

arte poupança ensino médio, pé-de-meia

Nenhum estudante precisa se cadastrar para receber o Pé-de-Meia, basta estar regularmente matriculado no ensino médio das redes públicas, terentre14 e 24anose ser integrante de famílias inscritas no CadÚnico. O valor será depositado em contas digitais abertas automaticamente pelaCaixaEconômica Federal, nos nomes dos próprios estudantes.

Por meio do aplicativo gratuito Jornada do Estudante, os alunos do ensino médio matriculados na rede pública podem saber se foram contemplados e ter mais informações sobre o programa. Os estudantes com dúvidas sobre o Pé-de-Meia podem acessar uma seção de Perguntas Frequentes sobre o programa no portal do MEC. Outros canais são o Fale Conosco do MEC (telefone 0800 616161) e o portal de atendimento, por meio da opção 7.

Central de reclamações

Durante o evento desta segunda-feira, Lula propôs ainda a criação de um canal de reclamações do governo federal. “A gente deveria criar uma espécie de um 190, de um 180, um telefone para que as pessoas pudessem telefonar e se queixar se as coisas não estão acontecendo. Porque muitas vezes as pessoas não têm a receptividade que elas imaginavam que iriam ter [no acesso a programas] e não têm para quem reclamar”, disse o presidente.

“Então, ao invés de ficar xingando a gente, é importante que a gente tenha pelo menos um ouvidor para que as pessoas possam se queixar. Preciso que tenha um lugar para o povo colocar para fora as suas angústias”, acrescentou.

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