Prestes a voltar ao trabalho no Senado após o recesso, a senadora por MS, Simone Tebet, mostra que tem uma visão bem clara do rumo que alguns acontecimentos tomarão nos próximos meses e do que é necessário para que o País retome o crescimento tão necessário. Nesta entrevista ao Correio do Estado, ela fala sobre o impeachment, a Operação Lava Jato, sobre o PMDB, a venda de terras brasileiras a estrangeiros e outros assuntos.
CORREIO PERGUNTA - A senhora é a senadora pelo PMDB, representa MS em Brasília e foi a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Acredita que será possível a ela e ao PT reverterem esta situação?
SIMONE TEBET - Penso que é irreversível, não tem outro resultado a não ser o impeachment. Mas é preciso entender que o impeachment é um instrumento legítimo e um dos mais difíceis de acontecer numa democracia, porque é um remédio amargo. Mas muito mais que amargo! Porque numa democracia, onde existe o presidencialismo, é preciso uma tempestade perfeita para que ele aconteça. E a tempestade perfeita se formou. O impeachment ocorre não porque a presidente perdeu apoio popular e, consequentemente, apoio político. É porque a causa do impeachment foi o mau uso do poder, de forma irresponsável em relação à gestão fiscal que impactou a vida dos milhões de brasileiros, causou a maior recessão da história do País, a maior crise social e política, uma das inflações mais altas dos últimos dez anos, desemprego na casa de 12 milhões de pessoas, PIB negativo por três anos consecutivos, juros altos que impede o País de crescer. Então, trata-se de um ciclo vicioso. E com base nisso tudo há o mau uso do poder, de forma incompetente. E isso fez com que a presidente Dilma perdesse o apoio popular e, consequentemente, o apoio político. Uma tempestade perfeita se formou , num momento que é excepcional e o resultado é a cassação do mandato.
A senhora falou em presidencialismo. Acredita que o presidencialismo no Brasil precisa ser revisto? De que forma?
Eu não acho que o presidencialismo precisa ser revisto. Penso que até podemos levar para um plebiscito se queremos ter o sistema parlamentarista ou presidencialista. Mas a raiz do problema não está aí. A razão do problema desta corrupção, desta falta de representatividade - o povo não tem quem o represente, não só da forma honesta como ele quer mas da forma correta, vendo as suas ideias representadas numa única pessoa, em alguns representantes - está por uma reforma política que não aconteceu. A mãe de todas as corrupções e a mãe de todas as reformas políticas, cláusulas e barreiras impedindo, esta pulverização de partidos. Quando nós tivermos poucos partidos, como acontece em outras democracias do mundo, teremos poucos partidos defendendo as suas ideias e ideologias, o povo votando nestes partidos, nestas pessoas que os representam e mais do que isso, você vai ter um presidencialismo, um presidente forte não só porque tem a caneta, o dinheiro e a chave do cofre na mão, mas forte porque ele terá a liberdade de fazer o que precisa ser feito, sem um presidencialismo de coalisão. Algo sem conchavos, sem ter que entregar ministérios para ter o apoio político, sem ter que entregar cargos para segurar tantos votos no Congresso Nacional. Então, se você tiver poucos partidos e um presidente que possa fazer as mudanças que precisam ser feitas para fazer um País crescer e se desenvolver, fazer as políticas sociais que precisam ser feitas. Com a reforma política resolveríamos, eu diria, 70% dos problemas que hoje nós atravessamos, principalmente no que se refere à corrupção.
A senhora foi indicada para a relatoria do projeto que prevê punições a crimes de abuso de autoridade e enfatizou que não aceitará a função se o texto da proposição “tiver cheiro de ‘abafa’ de Operação Lava Jato”. A esta altura do campeonato, acredita que há brecha para um possível “abafa”?
Não! A Operação Lava Jato está aí, ninguém e nenhuma força natural ou sobrenatural conseguirá nem abafá-la, nem acabar com ela porque poucas coisas nos últimos 30 anos, pelo menos neste momento em que eu vivencio da política, poucas coisas na vida pública tiveram tanto apoio popular. Talvez nas Diretas-Já, em minha adolescência, eu vi algo parecido. Fora isso, nem na primeira eleição para presidente da República nós tivemos este apoio popular. Então, dentro desta perspectiva, ninguém acaba com a Operação Lava Jato. E eu fui sondada na realidade para ser a relatora e não aceitei porque não acho que este projeto seja oportuno, não é o momento de se discutir, embora tenha coisas muito relevantes. Era um projeto que tinha tudo para ser realmente bom e atualizado, mas no momento errado, da forma errada, tendo um cheiro de “abafa”. E eu não participo deste tipo de situação. Acho, então, que não é o momento.
O Senado está voltando nesta próxima semana do recesso de meio de ano. O que de mais importante a senhora acha que deveria ser analisado e votado imediatamente diante de tantas pendências existentes?
O impeachment, que acontecerá agora em agosto e, paralelamente a isso, dar condições para o Brasil retomar o crescimento - o mercado, a sociedade, o comerciante, o trabalhador precisam voltar a acreditar no governo, por isso precisamos votar projetos que sinalizem que nós estamos dispostos a cortar na própria carne, a implantar limites de gastos, limite do custeio da máquina, o quanto se gasta com a máquina. É importante o País entender de uma vez por todas, o político, o presidente da República, ministros, prrefeitos e governadores entenderem de uma vez por todas que a máquina pública não é um fim em si mesmo, ela é um meio para se atingir o fim, que é suprir as deficiências de saúde, segurança pública, educação, obras, infraestrutura etc. Quanto mais a máquina é enxuta, mais eu tenho dinheiro disponível para fazer o que é preciso. Isso não significa não valorizar o servidor público, é o contrário. Então, é o limite de gastos, o projeto da dívida dos Estados, são dois projetos fundamentais, já sinalizam para o mercado que o governo é outro, que nós estamos dispostos a cortar na própria carne, sermos eficientes, eficazes e ser probos - não ter roubo, sermos honestos.
O presidente em exercício, Michel Temer, é do PMDB, partido do qual a senhora pertence e que se tornou uma colcha de retalhos na verdade. Qual é o seu PMDB e como a senhora define o partido hoje?
O meu PMDB é o PMDB do passado, o PMDB saudosista do meu pai, do dr. Wilson Barbosa, do dr. Ulisses Guimarães, um PMDB que tem origem na democracia. Um partido que foi capaz de renascer das cinzas. Na época da ditadura quando muitas vozes se calaram, foi a voz de Ulisses Guimarães bradando contra a ditadura e que foram nos porões trazer as pessoas - professores, servidores públicos, poetas e artistas, pessoas que se insurgiam contra o regime de exceção. É um PMDB que ainda está ali, a gente percebe poucas vozes mas ele está ali, adormecido mas pronto para ressurgir a qualquer momento. É um PMDB que está disposto a enfrentar as dificuldades e que está disposto até a abrir mão de poder. O PMDB há muito tempo não lança um presidente da República. Quando foi a ultima vez? Foi com o dr. Ulisses. Mas é um PMDB que quando chamado à responsabilidade está disposto a dar sua cota de sacrifício e de responsabilidade. É assim que eu aprendi a fazer política, foi com estes nomes históricos do partido.
*A entrevista completa está na edição de hoje do jornal Correio do Estado.