Artigos e Opinião

ARTIGO

''Trânsito: Uma questão
de saúde pública"

Lucinéia Maria dos Santos Gomes e Andréa Yumi Sugishita Kanikadan

Redação

28/04/2015 - 00h00
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A violência no trânsito cresceu significativamente e, atualmente, é a segunda maior causa de mortes no Brasil. Acidentes de trânsito estão ocorrendo com maior frequência e, infelizmente, estão se tornando parte do nosso dia a dia, seja por meio de notícias no jornal, na televisão, seja, muitas vezes, ocorrendo na nossa rua, no nosso bairro, no nosso caminho para o trabalho. Segundo dados do DPVAT, o seguro obrigatório pago aos acidentados, mais de 50 mil pessoas morrem anualmente no país, vítimas de acidentes de trânsito. Isso significa 136 mortes todos os dias ou ainda 5 a cada hora. Os acidentes de trânsito tornaram-se, pois, um grave problema de saúde pública no país.

Esses números, que envolvem os diversos tipos de acidentes, mostram que até mesmo os menores deslizes podem resultar em um desastre. Dentre as principais causas dos acidentes, provocadas por negligência ou erro humano, estão a distração decorrente do uso de celular ao volante, seguida pelas ocorrências de dirigir embriagado e ter atitudes imprudentes, como não usar o cinto de segurança e dirigir acima da velocidade permitida.

Somadas a esse contexto, não podemos deixar de citar as péssimas condições das rodovias brasileiras, como também a falha ou a falta de sinalização, fatores que muito colaboram com o índice de acidentes. Muitas rodovias têm problemas estruturais que prejudicam e comprometem a logística no país e, sobretudo, a segurança de motoristas, passageiros e pedestres.

Os gastos públicos com acidentes de trânsito envolvem desde a ocupação de leitos hospitalares até internações hospitalares e cirurgias. Esses custos, quando pagos com recursos provenientes dos cofres públicos, poderiam ser aplicados em medidas preventivas, como métodos de educação de condutores e reestruturação de rodovias, que venham a representar melhores condições para o trânsito do país.

Esse aumento do número de acidentes remete-nos a uma reflexão e questionamento: Isso é consequência do crescimento da frota de veículos nas ruas, da nossa pressa cotidiana ou do processo natural de desenvolvimento?

Qualquer que seja a resposta, até que ponto é aceitável ou justificável termos danos materiais e até perdermos vidas em troca de uma rotina agitada, de um trânsito caótico ou de uma estrada sem condições adequadas?

Estamos vivendo um período em que muitas pessoas não respeitam o próximo, não se preocupam com quem está no veículo ao lado ou atravessando a faixa de pedestres. Nota-se falta de sensibilidade e sobra de egoísmo. Infelizmente, uma parte dos números dos acidentes nas estradas e rodovias não retrata fatalidades, mas sim a falta de educação, conscientização e respeito por meio de atitudes irresponsáveis, que colocam vidas em risco.

O trânsito deve ser um ambiente harmonioso, seguro, de cooperação e colaboração entre as pessoas, onde todos têm os mesmos direitos e deveres e, portanto, todos correm o mesmo risco. Não podemos aceitar tudo isso como algo inevitável, tão pouco natural. Isso é consequência de atitudes muitas vezes irresponsáveis e da falta de práticas essenciais, que deveriam proporcionar o desenvolvimento e a evolução da sociedade brasileira.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

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A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

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A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

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