Adoro algumas listas que publicam nas redes sociais. Aquelas com 10 coisas sobre tudo – músicas, livros, coisas para se ver ou não – é quase um vício. E foi seguindo uma delas que me peguei ouvindo música dos anos 70, num sábado de calor e faxina. Um hábito que deixei, não sei dizer o motivo, há bastante tempo.
Mas, por conta da tal lista, que aconselha ouvir as músicas que gosta, todos os dias, como antídoto à tristeza, resolvi tentar novamente. Descobri que a música tem tanta influência na minha vida que sou capaz de me lembrar do lugar onde estava, com quem estava e outros detalhes que não vou aqui revelar.
O mais interessante disto tudo foi descobrir que consigo adivinhar a música logo nos primeiros acordes, segundos após o início.
A bem da verdade, a minha relação com a música hoje em dia nem de longe lembra o que já foi. Vivia grudada no rádio e até escrevia às emissoras pedindo que tocassem minhas músicas favoritas. Tem as questões práticas, como por exemplo, não ter uma vitrola – ou melhor seria dizer um iPod? E desde que deixei de dirigir, há pouco mais de oito anos, os momentos de ouvir música no carro acabaram. Também doei centenas de CDs que estavam empoeirados e sem uso há bastante tempo.
Gosto de música clássica, jazz, blues e, claro, dos anos 70. Época a meu ver em que se produziram as melhores músicas, depois dos Beatles nos anos 60, evidentemente. Doei porque, às vezes, as músicas nos trazem lembranças demais, algumas dores e, sinceramente, não tenho mais paciência para ficar horas escutando música como fazia na adolescência.
E foi justamente nessa época, nos anos 70, que eu me vi cantora. Incrível lembrar isto agora, porque não tenho afinação alguma. Mas na época isto era irrelevante. Primeiro me inscrevi num concurso de talentos na minha cidade, cantando “O Amor é Azul”, uma versão de “L’Amour Est Bleu”.
Os organizadores, no entanto, resolveram colocar minha participação com hors-concours – sim, este foi o termo usado, e me deixaram fora da competição, acho que quiseram me proteger de um vexame.
Ensaiei duro com uma professora de música, fiz minha mãe comprar uma roupa nova (feita por uma costureira) e uma bota de cano longo prateada.
Se cantei bem ou não, definitivamente não recordo. No entanto, lembro bem dos aplausos. Que não foram poucos.
Depois disto, resolvi que iria cantar numa banda de uns amigos meus. Todo o dia, ia aos ensaios, mas eles nunca me deixavam cantar. Diziam: vai ouvindo e mais para frente você canta. Acabei me apaixonando pelo cantor, um moço realmente muito bonito.
E, aliás, dele nunca mais soube. Quando a banda foi convidada para se apresentar numa casa noturna, recém-inaugurada, fiquei toda cheia de esperança. Finalmente, pensei, vou poder cantar “O Amor é Azul” novamente.
Escondida da minha mãe, que jamais me deixaria frequentar uma casa noturna aos 12 anos, fiz um malabarismo e inventei que iria dormir na casa de uma amiga.
Mas na noite da estreia a parte que me coube foi tocar um pandeiro, a noite toda. Nada mais. Desapontada, encerrei ali minha breve carreira musical. E ainda ganhei um castigo daqueles!
Lembrei-me desta história, um tanto maluca, um tanto engraçada, ao ouvir as músicas dos anos 70. Dei uma de Peggy Sue e fiz uma viagem ao passado. Sim, ele acaba nos pegando. E nos leva à época de coração acelerado, ilusões, esperanças, desejos e sonhos.
De repente me vejo dançando freneticamente a música de Donna Summer, Santana, Elton John; sonhando novamente ao ouvir James Taylor; totalmente crazy.
E, rindo sozinha, lembrei também que costumava cantar as músicas em inglês ou francês, totalmente errado, claro, sem ter a menor ideia do que se tratava a letra. Um dia, em Paris, muitos anos depois, resolvi arriscar a frase que nunca me preocupei em saber a tradução: “Voulez-vous coucher avec moi”.
O homem ao lado, com cara de Alain Delon, respondeu sorrindo e me olhando de cima a baixo: “Oui, bien sûr, ma cherrie”. Eu tinha, literalmente, convidado o moço para dormir. Ah! Seguir a sugestão de escutar música vai me render muitas histórias.