Listas que morrem com o ano velho, listas que nascem no ano novo. Em todo início de ano eu gostava de fazer a lista das coisas que gostaria de realizar no ano que começava. Nunca comi lentilhas ou pulei ondas, mas sempre gostei das listas. Elas me ajudavam a organizar as expectativas, os sentimentos, os propósitos. Eram também uma forma de fazer um balanço do ano, pois, na medida em que eu rascunhava escolhas para o futuro, analisava como estava o caminhar no presente e no passado.
As listas ensinam sobre as escolhas. É preciso escolher coisas para colocar na lista, é preciso abdicar de outras. É preciso vivenciar a lista ao longo do ano para entender sobre expectativa versus realidade.
Somos, aparentemente, bem-intencionados a cada começo e a cada fim. Mas o que acontece no meio? Além da nobreza ou não dos objetivos listados, a forma de chegar a eles tem sido boa? Temos feito paradas estratégicas, ao longo do ano, da semana, do dia, para avaliar os caminhos percorridos?
“A hora de descanso deverá levar-te à meditação interior, fazer com que reflitas sobre tua existência terrena de até então, principalmente, porém, sobre os dias de trabalho da semana finda, tirando disso conclusões proveitosas para o teu futuro”, escreve Abdruschin sobre o Terceiro Mandamento.
Refletir sobre as escolhas feitas ao longo de um determinado período é uma forma de repensar o caminhar. E avaliar o caminhar permite que tomemos novas decisões, que façamos escolhas mais conscientes para os próximos passos: o caminho é pedregoso e precisamos trocar os sapatos? É possível seguir outra direção e chegar a um novo lugar?
Quando não há paradas pelo trajeto, a fim de repensar os passos, corremos o risco de seguir em frente sem olhar para o chão e tropeçamos, assim, numa pedra qualquer. Ou, ainda, arriscamos seguir em frente sem olhar o céu e, distraidamente, perdemos a referência dos pontos cardeais.
Passei os últimos anos sem fazer listas. Ainda não sei bem por quê. Talvez algumas ilusões tenham falecido. Talvez as coisas sejam mais complexas e não adianta fazer uma lista tão organizada quando a vida é tão mutante. De qualquer maneira, com ou sem listas, é preciso entender que não se pode calçar a luva e colocar o anel ao mesmo tempo. É preciso fazer escolhas, refletir sobre elas e ter, assim, a chance de se reorientar e escolher de novo. Com menos ilusões, com mais confiança.