O desenvolvimento econômico e social de um Estado está baseado na setorização das capacidades de trabalho. Roma só se tornou império graças à profissionalização do seu corpo militar; os homens das armas eram profissionais exaustivamente treinados e especializados. Portugal dominou os mares nos séculos XV e XVI por meio dos “cientistas do mares”, homens especializados em navegação.
Já estamos no terceiro milênio, mas o Brasil ainda não apreendeu que o sucesso está ancorado na correta delegação de funções. O Senado deixou isso claro no dia 12 de julho: criou cargos que necessitam do especialista de Administração (logística e gestão de pessoal), mas permitiu que fossem ocupados por quaisquer portadores de diploma superior. A arcaica atitude alude a dom João VI e suas descabidas nomeações públicas após chegar ao Brasil (em lugar de diploma, exigia dinheiro).
Em uma nação com mais de 400 mil administradores, a criação dos cargos ultrapassa a barreira da falta de zelo à coisa pública, flertando com o descaso e o desrespeito. O serviço público brasileiro encontra-se inchado, oneroso, ineficiente e, para revolta geral do povo, ineficaz. Ainda assim, nossos representantes remam contra a maré numa ação descabida de propósito real de desenvolvimento.
Entre muitas profissões regulamentadas no País, a Administração é umas das que mais amargam a ignorância do Estado. O fel se faz, sobretudo, da falta de visão dos agentes públicos: que outro profissional, que não o administrador, está mais apto a gerir cientificamente os processos administrativos? Anos imersos no aprendizado da gestão eficiente não podem ser reduzidos a “mais um diploma de curso superior”.
O amadorismo levou o País à insuficiência na área de saúde, educação, transporte, segurança e infraestrutura. Os preparativos para a Copa da Fifa de 2014 e a Olimpíada do Rio 2016 não negam a vergonha nacional nos noticiários pelo mundo. Crise? Para a Administração, é algo previsível e superável. O planejamento responsável é uma das premissas dessa ciência. Não existem motivos plausíveis para delegar a leigos funções específicas do administrador.
Agora nas mãos do presidente da República, a criação dos cargos pode ser vetada ou sancionada. Milhares de administradores esperam ansiosos pela decisão. O líder do Executivo caminhará rumo à evolução nacional ou ao retrocesso conservador? Se fosse possível remeter-lhe um recado, eu o faria em poucas linhas: “Dai a César o que é de César” e aos administradores aquilo que fazem com maestria, administração!