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Ruben Figueiró: "Agosto, mês de nitroglicerina pura"

Rubens é ex-senador da República

Redação

03/08/2015 - 00h00
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Vem da consolidada inteligência popular que em todo o mês de agosto, aquele das ventanias e de baixa umidade do ar, se suspira preocupações fundadas em desarranjos nos campos da política. Perde-se até a racionalidade, daí a expressão já consagrada: “agosto é o mês do cachorro louco”. 

Tenho certa dúvida quanto ao adjetivo. Contudo, se se virar as folhas da história política nacional há de encontrar alguns episódios que teriam seu início ou final naquele mês. Me permito citar dois que tem impactado a opinião pública de maneira contundente.

Em três de agosto de 1954, quando Carlos Lacerda, carbonário jornalista da oposição ao governo de Getúlio Vargas, denunciava escândalos com relação às negociatas financeiras de banco oficial protegendo o jornal “Última Hora” (que apoiava Vargas), um sicário a mando do chefe da Guarda-Costa presidencial conhecido por Gregório Fortunato, tentou assassinar Lacerda, na rua Toneleiros, em Copacabana. Errou o alvo matando o oficial da aeronáutica, Rubens Vaz. O crime levou a disputa política a níveis de bomba atômica.

Foi o estopim de um movimento civil e militar a denunciar “o mar de lama” existente nos porões do Palácio do Catete. Vargas presidente, cidadão reconhecidamente probo, pelo caráter e zelo ao mandato legítimo, preferiu o sacrifício da própria vida a renunciá-lo.

Outro episódio, este mais recente: agosto de 1992. O então jovem presidente Fernando Collor – aquele que iria acabar com os “marajás” - vinha sendo acusado de negociatas avessas à moralidade pública sob a maquiavélica e inescrupulosa ação de seu conterrâneo Paulo Cezar Farias. Tal foi o alarde, que as oposições comandadas principalmente pelo grande timoneiro Ulisses Guimarães indica o caminho do impeachment. Todos conhecem o desfecho saudado pela nação, então ofendida.

O Brasil está no limiar do mês de agosto novamente. Escândalos afloram fétidos das latrinas dos gabinetes governamentais e se misturam pelas lamas pútridas originadas de mentes sequiosas de lucros por empresários panturrões, a ponto de levar a opinião pública ultrajada a clamar “basta!”.
Em 1964, por motivos também relevantes, o povo levantou-se com o mesmo brado. À época, as forças armadas abrigaram a ressonância do brado popular.

Notícias com o tom que inspira e sugere de que algo vem aí alimentadas pela pimenta de “dona candinha”, correm que as arquitetônicas cúpulas, cônicas e convexas, que distinguem o Congresso Nacional, no seu interior, parecem panela de pressão a fogo máximo, elevando a temperatura de caldo indigesto à senhora presidente em seu desastrado governo. Tudo pode ocorrer a partir de 16 de agosto.