Nas nascentes, suas águas são plácidas, encapelam-se em corredeiras, ultrapassam a violência das quedas-d’água e voltam, afinal, à tranquilidade de sua foz. Assim o rio, assim é a amizade. Desejo com este texto sintetizar a amizade e os atritos no relacionamento que tive com o Pedro ao longo de mais de setenta anos, quando nos conhecemos lá no Colégio Mackenzie em São Paulo, ele estudante de engenharia, eu do colegial. A amizade nasceu de nossos pais em Miranda, João Pedro Pedrossian e Orcirio Thiago de Oliveira – o Gury Marques.
No curso, portanto, de muito além de meio século de uma amizade com alguns incidentes em seu percurso, um detalhe nos unia, Pedro e eu: o desejo frêmito de estender nossos ideais em favor de boas causas para o nosso torrão natal. Acompanhei a caminhada exitosa de Pedro Pedrossian ao longo de sua fulgurante vida pública e, dela, tenho registrado inúmeros episódios, mas apenas dois desejo aqui mencionar: era o ano de 1960, campanha eleitoral para a Presidência da República; Pedrossian funcionário da estrada de ferro Noroeste do Brasil (NOB), engenheiro chefe do distrito com sede aqui em Campo Grande.
Nessa condição, fazia forte pressão sobre os funcionários que não apoiavam seu candidato que era do partido do governo. Pela amizade que tínhamos, fui ao Pedro para que amenizasse a “barra” e, na ocasião, perguntei a ele: “Por que mudara de partido?” (ele era, como eu, da UDN). Ele respondera: “Rubinho, abelha se prende pelo mel!”, explicou. “Quando eu precisava de um emprego, no início da minha profissão, foram o deputado federal Philadelfo Garcia e o senador Filinto Müller que me agasalharam”. Concordei, gratidão não tem preço.
Em 1966, Pedro, recém-empossado governador do estado de Mato Grosso uno, convida-me para com ele inspecionar alguns terrenos aqui na cidade, para a escolha do local onde implantaria o campus da futura Universidade Estadual de Campo Grande, destaque de seu programa de governo e um sonho que acalentava desde jovem. Lembro-me das vezes que comentávamos a falta de Ensino Superior em nossa região, o que levava muitos jovens a procurá-lo em outros estados (como acontecera com ele e comigo) e muitíssimos aqui permaneceram porque não tinham condições materiais e assim deixaram de prosseguir em seus estudos. Quantos valores humanos se perderam. Pedrossian deu um grande passo que abriu os horizontes à juventude estudiosa e, hoje, mercê de sua visão de estadista, não só Campo Grande como todo o nosso Estado e o irmão Mato Grosso constituem prestigiosos centros universitários.
Pedrossian não semeou apenas centros de saber e cultura de grau universitário, também centros educacionais de Ensino Fundamental, não descuidou da saúde pública – aí estão o Hospital Regional e o Hospital Universitário, isto em nossa Capital –, abriu rodovias pioneiras pelo nosso hinterlândia, estabeleceu estratégias efetivas para o estímulo à indústria, ao comércio, à pecuária e à agricultura. Pedro era um administrador destemido. Às vezes no ímpeto de seu entusiasmo de construir e criar riquezas, não media consequências se o objetivo era abrir novos campos para o desenvolvimento econômico e social de seus coestaduanos. Os exemplos estão aí marcados em bronze para perpetuar a memória de um homem que viveu intensamente para ser – e para sempre – o obreiro do futuro.