Rumo ao Oriente foi desde o descobrimento das américas uma obsessão do homem. Anteontem, ontem e hoje, ela constitui um eldorado a ser alcançado. As razões se tornam mais evidentes e fortes face às oportunidades de ordem econômica que o Oriente abre com seus bilhões de seres humanos, que não só necessitam suprir seu prato de alimento como atender sua ânsia natural pelo bem-estar.
Essa pretensão tem sido aguçada aqui no Brasil, com a notável expansão de nossas fronteiras agrícolas propiciando uma visível oferta de grãos, como também de proteínas vermelhas, esta, agora, assinalada pela abertura dos portos chineses a nossa carne bovina.
Há muitas autoridades, homens de negócios e mesmo o cidadão comum que almejam uma maior proximidade comercial com aquelas bandas, outrora comprovadas pelos intrépidos navegadores como Cristóvão Colombo.
No período em que exerci o mandato de senador pelo nosso Estado, a bioceânica via rodovia constituiu-se em um firme desejo de dar seguimento à ideia. Ligar o oceano Atlântico, de Santos, no Estado de São Paulo, por rodovias já implantadas em Porto Murtinho em nosso Estado. Daí, cruzar via ponte internacional sobre o Rio Paraguai adentrando em território guarani, depois argentino ou boliviano, à procura de caminho mais acessível, até as terras andinas do Chile, alcançando o porto de Iquique, este já aparelhado com embarcações de grande calado.
A meu requerimento, a Comissão de Infraestrutura do Senado promoveu, em agosto de 2014, audiência pública envolvendo senadores e deputados federais de nosso Estado, autoridades do governo federal e representantes diplomáticos dos países vizinhos, inclusive o prefeito da cidade chilena de Iquique, um estusiasta do projeto.
Ouviram-se testemunhas importantes, dois deles ressaltaram o compromisso do governo federal: o do senador José Pimentel, líder do governo no Congresso Nacional, a favor da concretização da rodovia bioceânica; também do embaixador e representante do Ministério das Relações Exteriores, a quem cabe os estudos que estão sendo realizados. Esta autoridade acentuou que brevemente será assinado um acordo entre os quatro governos (Brasil, Paraguai, Argentina e Chile) sobre a construção da ponte internacional sobre o Rio Paraguai, em Porto Murtinho.
Deixei o Senado em janeiro, mas permanente está em mim que o projeto da rodovia bioceânica mercê seu alcance estratégico, social e econômico para os países sul-americanos será realidade.
Uma notícia extrovertida, surgida nesses últimos dias, quase cria apreensão quanto à concretização da rodovia bioceânica, na rota preconizada. Ela veio com a visita recente ao Brasil do primeiro-ministro da República Popular da China e na sua bagagem um substancioso aporte financeiro às nossas combalidas finanças, bem como intenção de parcerias para obras estruturantes que o país carece. A “bondade” extravasada é de que a China faria uma parceria com o Brasil para a construção de uma ferrovia bioceânica cruzando o extremo noroeste do país a partir do Acre ou de Rondônia rumo ao Porto de Guayaquil, no Peru.
A notícia porém teve fôlego curto. Nossas autoridades federais logo esclareceram que na realidade a intenção é constituir um grupo de trabalho para estudar a viabilidade técnico-econômica da imaginária ferrovia. Da para perceber que a “notícia” teve o conteúdo semelhante àquelas para encher linguiça inflando a visita da ilustre autoridade chinesa. Ufa!