A epígrafe sugere uma visão utópica. Porém, as duas expressões, o estrume e a tranqueira, servem de mote para indicar que nem sempre as aparências indicam incongruências ou falsa noção de valores. Este nariz de cera, de uso tão comum entre os escrevinhadores, nos quais me encontro, é para levar em consideração a recente tomada de posição do presidente provisório Michel Temer quanto à composição de seu ministério.
Notícias insistentes dizem que ele frustrou, com a escolha de seus auxiliares, grande parte da opinião pública, setores influentes do stafe político do Congresso Nacional, com exceção do senador José Serra e Henrique Meireles, os demais a quem das esperanças por personalidades da República. De acordo, se outra fosse a circunstância do momento político de extrema emergência para consolidar o governo já que tem um prazo exíguo de até 180 dias para realizar-se perante a opinião pública. A bagunça de interesses permeia os bastidores de Brasília, com partidos e políticos com uma fome pantagruélica, na corrida por uma apetitosa fatia de poder. Enfatizo, nesse turbilhão de interesses há sempre relevantes exceções, com o desejo sadio de colaborar, de servir aos objetivos maiores neste período de transição democrática.
A herança ultra maldita legada pela presidente afastada, a situação calamitosa das finanças públicas aproximando-se de um furo que poderá chegar a 200 bilhões de reais; a enxurrada voluptuosa de escândalos que ameaçam levar de roldão os pilares do Palácio do Planalto, adensam a cada dia com as revelações da operação Lava Jato. Diante da negritude deste tenebroso quadro, somente uma hábil engenharia política poderia manter em pé a organização do poder para assegurar um clima de entendimento a permitir a efetivação de medidas imprescindíveis para frear o comboio de maldades que o governo petista preparou nestes últimos 13 anos para gozo exclusivo de sua tigrada.
Agora vem o quê das duas expressões epigrafadas – a tranqueira e o estrume. Volto no tempo, antes registrando profundo respeito por três vultos de nossa história política: o senador Vespasiano Martins, o senador José Fragelli e o senador Lúdio Coelho, os três de singular postura no trato da republica. Certa vez, isto no início da década de quarenta do século passado, Fragelli, recém promotor perante a comarca de Campo Grande, então vassoura nova na lide da política, idealista, pleno de escrúpulos, vai ao líder dr Vespasiano Martins, em sua residência, para exprobar a nomeação para cargo público de um cidadão de reputação duvidosa. Vespasiano calejado pela experiência que só pela vivência se adquire, diz a Fragelli para aproximar-se de uma roseira ali próxima, apreciar sua beleza, seu perfume e ele fica estasiado ao fazê-lo. Na sequência o dr Vespasiano completa: “O quê a roseira tem ao seu pé?”. Fragelli responde: “Estrume!”. Finalmente o dr Vespasiano sentencia: “para um bom governo, mais da vezes é preciso ter a colaboração de um estrume como é o cidadão nomeado.”
Já o também saudoso senador Lúdio Coelho, questionado sobre determinada escolha para um cargo no governo, respondeu com clareza professoral e fina ironia: “nenhum governo está livre de tranqueiras”... O importante é mantê-las sempre às vistas. Aliás, os fatos que hoje se condenam não são diferentes daqueles ocorridos há séculos, do senador Cícero com relação ao senador Verres, no senado romano; depois de Jesus Cristo com seu traidor, Judas Escariotes, no Horto das Oliveiras! Importante para o presidente interino é manter atenta a vigilância para que estrumes e tranqueiras não prejudiquem o seu pragmático governo de 180 dias.